quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

WEB LuAr - Capítulo 10 / Parte 4:

- Eu devo estar dentro de um sonho muito esquisito – falei, rindo da minha própria bagunça mental – Não é possível que da noite pro dia tudo isso tenha acontecido, que todas essas loucuras tenham se tornado realidade. 
- Desculpe te informar, mas essa é a mais pura verdade – Arthur disse, entediado – Podemos ir agora? Eu ainda tenho muita coisa pra fazer hoje. 
Suspirei, derrotada e com uma pontinha de irritação, e apenas assenti. Já que a casa dele era realmente longe da minha, uma carona seria o mínimo que ele podia fazer por mim depois de todos os misteriosos acontecimentos da noite anterior. Ele caminhou em direção à porta, e eu apenas o segui, sem dizer uma palavra sequer e observando discretamente a imensidão daquele apartamento. Descemos pelo elevador, e vinte e três andares depois, estávamos na garagem. Todos os carros estacionados ali eram incrivelmente lindos e caros, o que me fez pensar de que mundo ele vinha. O carro mais barato ali era provavelmente a BMW preta de Arthur, que não estava sozinha nas três vagas reservadas para seu apartamento. Uma Ferrari vermelha e sua familiar moto amarela de todo dia ocupavam os outros dois espaços, o que só me fez ficar ainda mais perdida. 
- Esses carros… São seus? – perguntei, apontando pra BMW e depois pra Ferrari, com uma cara impagável de perplexidade. 
- São – Arthur respondeu, com uma normalidade deprimente – Pensei que já conhecesse a Ferrari. 
Virei minha cabeça devagar em sua direção até meus olhos incrédulos encontrarem os dele, fingindo que eu não existia. É agora que eu descubro as câmeras ou isso realmente não era uma pegadinha? 
Arthur tirou uma chave de carro do bolso, caminhando até um dos veículos. Apertou o botão do alarme e se dirigiu à BMW, abrindo a porta do motorista e voltando a me olhar ao perceber que eu ainda estava imóvel. Ainda sem acreditar naquilo, caminhei lentamente até a porta do carona, e entrei no carro em silêncio. Olhei pelo vidro para a Ferrari estacionada ao meu lado e reconheci seu interior, me amaldiçoando mentalmente por estar tão transtornada na noite anterior a ponto de entrar num carro daqueles e não me lembrar disso. 
Arthur deu ré e seguiu em direção à saída do estacionamento subterrâneo, logo fazendo com que o forte sol invadisse as janelas sem piedade de meus globos oculares. Cerrei meus olhos, incomodada, e ele estendeu uma mão até o porta-luvas, tirando lindos e visivelmente caríssimos óculos escuros de lá. Me senti tão insignificante quanto o estofado do assento quando ele colocou os óculos, que se ajustavam perfeitamente ao formato de seu rosto. 
- Onde mais você trabalha pra conseguir essas coisas todas? – perguntei, finalmente falando após o que me pareceu uma eternidade de mudez, com a expressão desconfiada. Foi bom saber que eu ainda não tinha me esquecido de como falar, eram tantos acontecimentos inacreditáveis que eu provavelmente estava entrando em estado de choque. Arthur não pareceu me ouvir, abrindo os vidros e deixando que o vento bagunçasse nossos cabelos. 
- Sabia que gigolôs ganham muito bem por aqui? – ele respondeu, sem expressão enquanto olhava pra frente, e eu gelei. Provavelmente vendo minha cara horrorizada, já que eu não podia confirmar isso por causa de seus óculos, eu vi um teimoso sorrisinho de canto surgir em seu rosto. 
- O patrimônio de minha família me permite “conseguir essas coisas todas” – ele disse, sendo sincero agora, e eu senti meus ombros relaxarem imediatamente com a resposta aceitável – Sua cara de choque valeu meu dia. 
-Idiota – murmurei, revirando discretamente os olhos e virando meu rosto pra janela ao meu lado. 
-Se você quase acreditou que eu era um gigolô, é porque eu sou muito pior que um idiota pra você – ele falou, com um senso de humor mórbido na voz enquanto parava num sinal vermelho. 
- Você nem imagina o quanto – rosnei, ficando mais irritada a cada segundo. Não saber definir as pessoas era algo que me deixava profundamente incomodada, e Arthur era exatamente o tipo de pessoa indefinível o suficiente pra me enfurecer. Ele tinha várias faces, uma completamente diferente da outra, como se fossem várias personalidades dentro de uma pessoa só. Eu conhecia bem seu jeito sujo e desonesto, mas por vezes ele se mostrava alguém completamente oposto… Alguém bom. Preferia me manter distante daquela encrenca, obrigada. 
- Eu até imagino – ele retrucou, hostil – Mas prefiro ouvir da sua boca. 
Olhei pra ele com a testa franzida de deboche, e vi que ele também me encarava, novamente com os lábios contraídos de raiva. Agora eu conseguia ver seus olhos pelo ângulo em que a luz do sol batia nas lentes dos óculos, e vi que eles me fitavam desafiadoramente. 
- Eu acho que você é um filho da puta de um pedófilo, safado, mal amado, nojento, desprezível, broxa, ridículo, estúpido, grosso, pilantra e arrogante – eu disparei, sustentando seu olhar com avidez. Definitivamente eu tinha feito uma descoberta: falar mal das pessoas na cara delas era extremamente terapêutico. 
Arthur continuou me encarando, parecendo não acreditar na quantidade de xingamentos que eu tinha usado para defini-lo, e eu percebi que o sinal estava verde, já que os carros à nossa frente começavam a andar. Ele pareceu não se dar conta disso, estava inconformado demais com a minha resposta pra prestar atenção em outra coisa. O silêncio tenso entre nós, junto com a expressão dele, de quem estava prestes a triturar meus ossos, só aumentou a impressão de que se direitos humanos não existissem e não dessem cadeia, eu estaria fodida. 
Só quando os carros atrás de nós começaram a buzinar, Arthur suspirou lenta e profundamente, contendo-se, e voltou a olhar pra frente, desfazendo nosso contato visual intenso com dificuldade. Arrancou velozmente, fazendo os carros que buzinavam atrás de nós comerem poeira, e passou a segurar o volante com força, controlando-se pra não me quebrar em pedacinhos. Ele podia estar querendo muito, mas não era doido de tentar encostar um dedo em mim. 
 
 

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