sábado, 7 de janeiro de 2012

WEB LuAr - Capítulo 23 / Parte 8 :

- Merda – sussurrei baixo e entre dentes, quando finalmente desisti de dormir. Levantei-me de um pulo, espreguiçando-me assim que fiquei de pé, e respirei fundo antes de me dirigir ao banheiro para fazer minha higiene matinal. Dez minutos depois, saí de lá uma nova pessoa, com barba feita, rosto lavado, dentes escovados e hálito fresco. Deus salve a Rainha, e a higiene. 
Ainda esticando-me, caminhei preguiçosamente pelo corredor frio até chegar à cozinha. Revirei os armários abarrotados de besteiras e preparei um café-da-manhã quase adolescente: torradas com geléia e um copo enorme de achocolatado. Se a manhã não havia começado tão bem quanto eu previra, nada me impedia de tentar consertá-la, certo? 
Atirei-me sobre o sofá após colocar a bandeja com minha refeição sobre a mesinha de centro, e liguei a enorme TV de plasma. Noticiários matinais, programas para crianças, e toda aquela chatice de sempre. Bufei diante daquele tédio, deixando alguns pedaços da torrada que eu mastigava escaparem de minha boca, e não pude deixar de rir de meu momento infantil. Eu costumava ser sempre tão metódico, sempre tão objetivo, que às vezes minha criancice diante de alguns detalhes bobos me surpreendia, permitindo-me pensar que ainda havia algo valoroso dentro de mim. 
Minha nossa… Isso foi profundo. Eu bem que devia anotar pensamentos filosóficos como esse. 
Tsc, quer saber? Que se foda. 
Tamanha ocupação mental às nove e meia da manhã me deu uma suave dor de cabeça, e eu resolvi desligar meu modo Platão e parasitar um pouco diante da televisão. Após alguns segundos trocando furiosamente de canal, encontrei um programa agradável: Hell’s Kitchen. Você deve estar pensando que eu sou algum tipo de homossexual enrustido por assistir programas de culinária, mas tenho dois excelentes motivos que explicam a relação entre minha heterossexualidade (sólida como granito, diga-se de passagem, que isso fique bastante claro, obrigado) e a gastronomia. Primeiro, a arte da culinária é algo a ser muito apreciado, principalmente quando se mora sozinho e se aprende o quão difícil é preparar um almoço digno após uma manhã de trabalho árduo; segundo, Gordon Ramsay era o cara. Essa frase pode ter soado meio estranha, mas é que para mim, Hell’s Kitchen era não só um programa sobre comida, mas também sobre como ser um filho da puta de primeira categoria. E ambas as opções me atraíam de certa forma. 
Fiquei assistindo, em meio a gargalhadas e lágrimas de tanto rir, aos esculachos de Gordon durante boa parte da manhã, graças à pequena maratona de Hell’s Kitchen, e assim continuei, estirado em meu sofá absurdamente confortável, pulando de canal em canal até ficar sem opções de programação. Quando enfim desisti da TV, meu estômago já estava implorando por comida, e obviamente não o contrariei. 
Liguei para um restaurante chinês e pedi um yakissoba tamanho família, com tudo que minha forma atlética tinha direito. Enquanto meu almoço não chegava, tomei um banho rápido, tentando espantar os últimos rastros de preguiça. Não que eu realmente acreditasse que uma ducha gelada me daria o ânimo que eu precisava, mas não custava nada tentar. Confesso que durante o banho eu andei me lembrando da parte boa de meu sonho/pesadelo, o que estendeu minha estadia debaixo do chuveiro por alguns minutos. Ser homem tinha suas desvantagens, como a fraqueza mental diante das mulheres (e conseqüentemente, a física que se seguia a ela). 

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