sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

WEB LuAr - Capítulo 23 / Parte 5 :

Dois segundos depois, ele surgiu de algum lugar perto de mim e simplesmente passou reto, com os olhos fixos na pista. Acompanhei seu trajeto com o olhar, e para meu pânico, ele se aproximava cada vez mais dela, que agora retribuía seu olhar com um sorriso cheio de segundas intenções. O meu sorriso – sim, ele era só meu, e nada mudaria minha opinião. Mica chegou até ela com facilidade, e envolveu sua cintura com as mãos, deixando que as dela se apossassem de seu pescoço. Um nó apertado surgiu em minha garganta, gerando uma dor lancinante; olhei ao meu redor, procurando por alguém que pudesse me ajudar a me mover, mas subitamente, todos que estavam próximos a mim pareceram sumir, deixando-me completamente a sós com minha agonia. Ou pelo menos quase, até uma voz familiar sussurrar bem ao pé de meu ouvido. 
- Ah, aí está você. 
Virei-me de um pulo na direção do som, e fui dominado por um horrível enjôo assim que reconheci a dona do sussurro. 
- Estava te procurando há horas! – Maria disse, com um sorriso presunçoso no rosto e, antes que eu pudesse sequer abrir a boca para dizer algo, senti sua mão agarrar minha gravata e me puxar na direção oposta à de Roberta. E, como num passe de mágica, meu corpo obedeceu a seu comando e se moveu para longe da pista. Minha respiração, que já era praticamente nula, tornou-se ainda mais entrecortada conforme a imagem de Roberta e Mica ficava cada vez mais inatingível. 
E então meu celular tocou. 
Espera aí. 
Meu celular tocou? 
A visão mal iluminada do ginásio deu lugar à claridade do sol, esparramando-se quarto adentro pela janela e sendo refletida nas paredes brancas. Minha respiração era ruidosa e minha boca estava seca, ao contrário de meu corpo, que parecia ter ensopado os lençóis de suor. Olhei em desespero ao meu redor, sem nem me lembrar de como havia ido parar sentado na cama, e tudo que vi foi meu quarto, exatamente como deveria estar. Nenhum móvel a menos, nenhum corpo a mais. 
Soltei um suspiro aliviado, fechando pesadamente os olhos em seguida e sentindo meu corpo se acalmar gradativamente. Tudo aquilo havia sido um sonho, ou melhor, um pesadelo. Apenas, somente, nada mais do que isso. Voltei a encarar meus lençóis revirados, normalizando meus sinais vitais, e só então o barulho estridente que me despertara voltou a se apoderar de meus tímpanos. Franzi minha testa umedecida de suor e virei-me na direção da mesinha de cabeceira, fonte do som: meu celular tocava e vibrava energicamente sobre a superfície, implorando por atenção. 
Revirei os olhos, irritado com a perturbação matinal, e joguei meu tronco violentamente de volta ao conforto do colchão. E somente por um único motivo, decidi atender à chamada, sem nem olhar de quem ela era para não desistir de meu ato de gratidão. 
A maldita ligação havia me tirado daquele pesadelo horripilante. E isso era uma boa ação num sábado de manhã. Obrigado, estranho… Eu acho. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário