quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

WEB LuAr - Capítulo 22 / Parte final :

- Bom, eu não vou mais te prender nessa ligação totalmente sem sentido – suspirei desanimada, sem nem mencionar o baile de primavera, do qual Mica provavelmente havia se esquecido – Você deve estar ocupado arrumando suas coisas para a viagem, e eu estou aqui te segurando no telefone. 
- Você tem é sorte por eu não poder te dar uma bela de uma sessão de cócegas agorinha mesmo como punição a esse seu jeito bobo – ele resmungou, brincalhão, e eu sorri fraco – Entenda uma coisa: você não me atrapalha, tampinha. 
Soltei uma risadinha tímida, ainda encarando as cortinas agora imóveis, e logo em seguida, ouvi o barulho da porta sendo aberta no andar de baixo, indicando que mamãe havia chegado. 
- Quem precisa desligar agora sou eu, mamãe chegou – falei, levemente apressada – Tome cuidado na estrada, descanse, beba bastante líquido, não pegue muito sol e divirta-se, ouviu bem? 
- Pode deixar – Mica respondeu, carinhoso - E o mesmo vale pra você, cuide-se. 
- Vou tentar me manter longe de todo o perigo que minha casa pode me oferecer – eu ri, achando graça das precauções dele e fazendo-o rir junto. 
- Te amo – ele murmurou, assim que nosso riso cessou, e eu senti meu coração se contorcer, dominado por milhares de sentimentos diferentes. Saudade, amor, felicidade… Remorso, culpa, dor. 
- Eu também – murmurei, com a voz aflita, e esperei que ele desligasse para colocar o telefone na base. Assim que o fiz, mamãe bateu à porta. 
- Olá, querida – ela sorriu, parecendo cansada após um dia cheio em seu escritório. Após a promoção que conseguira na empresa onde trabalhava há quase dez anos, sua carga de trabalho havia aumentado consideravelmente, e era raro vê-la chegando em casa antes das dez e meia. Hoje havia sido um dia bastante atípico, mas era bom que de vez em quando ela tivesse um tempo extra para cuidar de si. 
- Oi, mãe – respondi, retribuindo como pude seu sorriso e tentando não parecer tão desanimada quanto realmente estava – Dia cheio? 
- Até demais – mamãe suspirou, fechando os olhos lentamente e logo voltando a abri-los – E só pra compensar, algumas amigas do escritório estão armando uma festa surpresa para nosso chefe amanhã, e precisarão de uma mãozinha com os preparativos… Então não se assuste se acordar tarde e não me encontrar. 
- Boa sorte – falei, fazendo uma careta, e ela apenas riu de leve. 
- Se não se importa, vou tomar um bom e demorado banho e dormir – ela disse, meio sem jeito, e eu apenas balancei negativamente a cabeça, demonstrando que não me importava – Boa noite, minha querida. Qualquer coisa me chame, está bem? 
- OK, boa noite, mãe – apenas sorri fraco, vendo-a fechar novamente minha porta e desaparecer. Fiquei encarando a maçaneta da porta por alguns segundos, me preparando inconscientemente para as próximas 48 horas, que seriam provavelmente muito parecidas com aquele momento: vazias, silenciosas e solitárias. De certa forma, a solidão era tudo que eu queria para poder organizar minha mente, mas agora que ela finalmente havia chegado, após uma semana inteira aguardando-a ansiosamente, o silêncio e o frio que a acompanhavam me pareciam estranhamente terríveis. 
Ajeitei-me entre meus bichinhos de pelúcia, abraçando alguns deles na tentativa de preencher o enorme vazio entre meus braços e deixando que minha cabeça pesada descansasse sobre o travesseiro macio. Respirei fundo e calmamente, mandando uma mensagem para que meus músculos relaxassem junto com o oxigênio inalado, e fechei os olhos devagar, apenas sentindo o conforto do colchão se espalhar por meu corpo e meu cansaço mental se manifestar numa leve dor de cabeça. As pálpebras pareciam mais pesadas do que o habitual, mantendo-se fechadas sem sequer pedirem permissão para isso, e a respiração foi ficando cada vez mais calma… Meu quarto agora parecia um borrão de cores e formas engraçadas, logo sendo substituídos pela escuridão do sono. 
E se eu não tivesse adormecido tão rápida e inesperadamente, poderia jurar que a última coisa que senti antes de apagar por completo foi um braço forte envolver minha cintura e me puxar para mais perto de seu corpo, deitado ao meu lado, e seu hálito de canela sussurrar ao pé de meu ouvido. 
- Boa noite, meu vício. 
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