O resto da semana se arrastou com uma velocidade surpreendentemente rápida, apesar de torturante. Durante as aulas, por mais alto que os professores falassem e por mais interessante ou de fácil entendimento que fosse a matéria, tudo que meus ouvidos conseguiam captar era a voz de um certo ser moreno de olhos verdes que não parava de cochichar entusiasticamente com suas amigas sobre como seu vestido para o baile era lindo, maravilhoso, perfeito, caro…
E sobre como ele ficaria ainda melhor no chão do quarto do Aguiar depois da festa.
Não que eu estivesse ligando pra algum dos dois, pelo contrário, mas para um homem como Arthur, era humilhação demais se meter com uma retardada, ou melhor, meter numa retardada como Maria. Quer dizer, ele não sentia vergonha? Será que existia algum tipo de premiação secreta por pegar a aluna mais fútil de todo o colégio? Era algum tipo de aposta que ele havia perdido? Ou então um enigma como aquele requeria um intelecto superior ao meu? É, talvez essa fosse a opção mais próxima da realidade.
A única coisa que parecia cooperar comigo (se é que posso dizer dessa forma), surpreendentemente, era quem mais deveria estar me incomodando. Arthur mal apareceu durante os outros três dias de aula, a não ser quando foi forçado a ficar preso por 50 minutos no mesmo ambiente que eu: sua aula de biologia laboratório. E mesmo assim, parecia distante, como um animal selvagem enjaulado, incomodado por não poder simplesmente sair correndo dali. Explicou breve, porém detalhadamente como a aula procederia, e se manteve sentado em sua mesa, com o olhar perdido nas dezenas de relatórios que corrigia. Vez ou outra, passava os dedos nervosamente por entre os cabelos, colocando-os para trás e deixando ainda mais visível seu comportamento subitamente claustrofóbico.
Tentei não me deixar afetar por seu jeito diferente, mas era inevitável não sentir um nó se formar em minha garganta a cada vez que eu me lembrava de suas últimas palavras, e a vulgaridade com a qual sua voz as pronunciou. ”Incrível como você está demorando a perder a graça… A cada dia, se torna ainda mais divertida, como um perigoso brinquedo que se renova constantemente… E se torna cada vez mais excitante.”
Naquele dia, ouvi o sinal tocar, anunciando o fim da aula, mas ele me pareceu incrivelmente distante. A voz de Arthur ainda reverberava em minha mente, mais alta que qualquer outro som ao meu redor e me impedindo de pensar com clareza. Somente quando o ruído dos bancos sendo arrastados pelos alunos e o murmurinho crescente de suas vozes conseguiu vencer o volume de meus pensamentos, me dei conta de que estava imóvel, encarando meu relatório já pronto, e com os olhos levemente marejados. Por Deus, o que havia de tão errado comigo? Que droga, eu estava careca de saber que ele não merecia uma única lágrima minha! Não existia sequer sentimento suficiente em nossa relação, ou seja lá o que foi que tivemos, para que eu estivesse me sentindo triste, traída, machucada daquela maneira!
Guardei meu material depressa e deixei meu relatório ali mesmo, unindo-me apressadamente ao fluxo de alunos que se dirigiam à saída da escola. A única coisa que pude ver antes que o laboratório sumisse de meu campo de visão foi um sorrisinho discreto e sujo de Maria, conforme se aproximava da mesa de Arthur para entregar seu relatório. A cobra estava aproveitando a oportunidade perfeita para dar o bote perfeito. E por mais que eu soubesse que os dois se mereciam, meu coração se contorcia de ódio por não poder fazer nada contra aquilo.
Só o que me restava era que ele o fizesse por mim. E eu sabia que ele não o faria.
E sobre como ele ficaria ainda melhor no chão do quarto do Aguiar depois da festa.
Não que eu estivesse ligando pra algum dos dois, pelo contrário, mas para um homem como Arthur, era humilhação demais se meter com uma retardada, ou melhor, meter numa retardada como Maria. Quer dizer, ele não sentia vergonha? Será que existia algum tipo de premiação secreta por pegar a aluna mais fútil de todo o colégio? Era algum tipo de aposta que ele havia perdido? Ou então um enigma como aquele requeria um intelecto superior ao meu? É, talvez essa fosse a opção mais próxima da realidade.
A única coisa que parecia cooperar comigo (se é que posso dizer dessa forma), surpreendentemente, era quem mais deveria estar me incomodando. Arthur mal apareceu durante os outros três dias de aula, a não ser quando foi forçado a ficar preso por 50 minutos no mesmo ambiente que eu: sua aula de biologia laboratório. E mesmo assim, parecia distante, como um animal selvagem enjaulado, incomodado por não poder simplesmente sair correndo dali. Explicou breve, porém detalhadamente como a aula procederia, e se manteve sentado em sua mesa, com o olhar perdido nas dezenas de relatórios que corrigia. Vez ou outra, passava os dedos nervosamente por entre os cabelos, colocando-os para trás e deixando ainda mais visível seu comportamento subitamente claustrofóbico.
Tentei não me deixar afetar por seu jeito diferente, mas era inevitável não sentir um nó se formar em minha garganta a cada vez que eu me lembrava de suas últimas palavras, e a vulgaridade com a qual sua voz as pronunciou. ”Incrível como você está demorando a perder a graça… A cada dia, se torna ainda mais divertida, como um perigoso brinquedo que se renova constantemente… E se torna cada vez mais excitante.”
Naquele dia, ouvi o sinal tocar, anunciando o fim da aula, mas ele me pareceu incrivelmente distante. A voz de Arthur ainda reverberava em minha mente, mais alta que qualquer outro som ao meu redor e me impedindo de pensar com clareza. Somente quando o ruído dos bancos sendo arrastados pelos alunos e o murmurinho crescente de suas vozes conseguiu vencer o volume de meus pensamentos, me dei conta de que estava imóvel, encarando meu relatório já pronto, e com os olhos levemente marejados. Por Deus, o que havia de tão errado comigo? Que droga, eu estava careca de saber que ele não merecia uma única lágrima minha! Não existia sequer sentimento suficiente em nossa relação, ou seja lá o que foi que tivemos, para que eu estivesse me sentindo triste, traída, machucada daquela maneira!
Guardei meu material depressa e deixei meu relatório ali mesmo, unindo-me apressadamente ao fluxo de alunos que se dirigiam à saída da escola. A única coisa que pude ver antes que o laboratório sumisse de meu campo de visão foi um sorrisinho discreto e sujo de Maria, conforme se aproximava da mesa de Arthur para entregar seu relatório. A cobra estava aproveitando a oportunidade perfeita para dar o bote perfeito. E por mais que eu soubesse que os dois se mereciam, meu coração se contorcia de ódio por não poder fazer nada contra aquilo.
Só o que me restava era que ele o fizesse por mim. E eu sabia que ele não o faria.
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