sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

WEB LuAr - Capítulo 7 / Parte final :

 
- Belo relatório, Duda. 
Final da última aula. Passei pela porta do laboratório de biologia, sem realmente acreditar no que estava prestes a fazer. Só de ouvir aquela voz constantemente metida, já me dava vontade de dar meia volta e ir embora. Mas já era tarde demais, eu já estava dentro do laboratório, parada ao lado de um dos três grandes balcões que haviam lá, esperando até que a tal Duda fosse embora. Quanto menos gente soubesse que eu tinha qualquer tipo de contato com Arthur Aguiar fora do horário das aulas, melhor. 
A tal garota deixou a classe com um sorrisinho malicioso, e me olhando de cima a baixo ainda por cima, como se eu fosse como ela e topasse ir pra cama com aquele cafajeste. Evitei olhar pra garota, sentindo que voaria no pescocinho dela se não me controlasse, e logo ouvi a voz do sr. Aguiar dizer. 
- Você por aqui, Messi? A que devo a honra? 
Olhei pra ele, que estava sentado em sua cadeira organizando várias pilhas de papéis, provavelmente relatórios, que estavam sobre sua mesa. 
- Não acredito que eu vou realmente dizer isso, mas… Eu vim te agradecer pelo que você fez por mim ontem depois da excursão – falei, decidindo ser direta e objetiva pra gastar menos do meu tempo me humilhando pra ele. Arthur nem ergueu o olhar dos relatórios, apenas sorriu maliciosamente e disse: 
- Não precisava ficar sem graça, a maioria das garotas também costuma voltar pra agradecer pelos grandes favores que eu faço por elas. 
Entendendo o verdadeiro sentido da palavra “favores” sem dificuldade, cerrei meus olhos fixos nele, com uma expressão que ficava entre a incredulidade e o desprezo. Que homem ridículo. Nunca senti tanta raiva de mim mesma por ter ido atrás dele. Devia ter sido tão inescrupulosa quanto ele e simplesmente ignorar o fato de que uma vez na vida ele me fez um favor. 
- Eu realmente não sei por que fiquei surpresa com essa resposta – eu retruquei, com um risinho inconformado no rosto – Só posso ser muito idiota mesmo. 
Dei meia volta pra ir embora, mas assim que dei um passo na direção da porta, ouvi a voz de Arthur voltar a falar, com um inesperado toque de sinceridade. 
- Foi muito educado da sua parte vir até aqui me agradecer, Messi. Confesso que você me surpreendeu… Mais uma vez. 
Me virei novamente pra ele, e um certo arrepio percorreu minha espinha quando meu olhar encontrou o dele, tão intenso sobre mim. De um jeito diferente do que eu tinha descoberto ontem. Ainda mais invasivo, imponente, vidrado, como se eu fosse a única coisa que houvesse pra se olhar na vida dele. 
- Por que você voltou ontem? – ouvi minha própria voz perguntar, com o olhar grudado no dele por alguma razão que eu não sabia explicar. Aquela dúvida estava entalada na minha garganta desde que o vi novamente estacionado atrás daquela árvore, como se estivesse tomando conta de mim às escondidas. Os olhos de Arthur continuaram fixos nos meus, ainda mais intensos que antes, até que um sorrisinho de canto surgiu em seu rosto e ele respondeu: 
- Curiosidade. 
Franzi a testa, sem entender, e ele explicou melhor: 
- Queria saber se sua mãe era tão bonita quanto você. E pra falar a verdade, seu pai é um homem de sorte. 
Cerrei novamente meus olhos, encarando-o sem acreditar no que tinha acabado de ouvir. Eu sabia que ele era grosseiro, mas não achei que fosse capaz de usar cantadas daquele tipo. Só havia um tipo de homem que podia usar cantadas como aquelas no mundo: homens como Micael Borges, por exemplo. Caras como Mica eram capazes de transformar cantadas toscas como aquela em música para os ouvidos de qualquer mulher apenas com seu olhar e jeito de falar. 
- Eu quase achei que você tava conseguindo falar sério pela primeira vez na vida – murmurei, olhando-o com uma decepção irônica – Mas me lembrei de que milagres não acontecem. 
Pude ver o sorriso do professor Aguiar se alargar um pouquinho com a minha resposta, realmente achando graça do que eu tinha dito. Me virei novamente na direção da porta, e deixei o laboratório, descendo rapidamente os lances de escada rumo à saída da escola. E por incrível que pareça, eu estava rindo. Uma coisa era certa: Arthur Aguiar pode reunir todos os defeitos que alguém pode ter, mas sem dúvida, ele sabia se divertir. E me divertir também. 

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