sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

WEB LuAr - Capítulo 7 / Parte 4 :

 
Só de pensar em Mica, soltei um suspiro chateado, fazendo uma grande quantidade de fumaça sair de minha boca. Abracei meu próprio corpo, tentando inutilmente fazer aquele frio passar, mas isso seria impossível com apenas uma blusinha fina de malha. Encarei a rua, desesperada para encontrar minha mãe, e assim fiquei por alguns minutos, até ver os faróis do Land Rover dela surgirem em meio à quase escuridão. Suspirei novamente, aliviada, e assim que me aproximei da rua, vi um farol se acender bem ao meu lado, atrás daquela mesma árvore onde antes estava a moto do sr. Aguiar. Olhei naquela direção, parando de andar ao reconhecer a mesma moto que estava estacionada ali há minutos atrás, e vi um homem de capacete olhando pra mim, com seus olhos castanhos refletindo intensamente a luminosidade do farol. Franzi a testa, sem entender por que ele tinha voltado, e cerrei meus olhos, reprimindo com todas as minhas forças os batimentos novamente acelerados de meu coração e continuando o caminho até o carro de mamãe. 
- Desculpe a demora de novo – ouvi minha mãe dizer, enquanto eu entrava no veículo e sentia o alívio da temperatura agradável do seu interior - Quem era aquele na moto, querida? 
Olhei na direção da moto do sr. Aguiar, que arrancava novamente à nossa frente e se afastava depressa, e abaixei meu olhar pra colocar o cinto de segurança, respondendo sua pergunta num murmúrio seco: 
- Ninguém, mãe. 

- Que bom ver que você sobreviveu aos mosquitos-azeitona! – Sophia riu, estirando seus braços na minha direção assim que cheguei à escola no dia seguinte. 
- Eu preferia ter que enfrentar mosquitos gigantes a passar pelo dia de ontem outra vez – falei, rindo da minha própria desgraça ao retribuir o abraço carinhoso dela. 
- Credo, Roberta, vira essa boca pra lá – ela reclamou, espalmando uma mão em minha bochecha e empurrando devagar meu rosto para o lado oposto como se fosse um tapa, quando nos afastamos – Depois vira ela de volta pra cá e conta tudo. Como é que foi ontem? 
Relatei os (deploráveis) acontecimentos do dia anterior pra Sophia em alguns minutos, e assim que terminei de contar, ela não demonstrou reação, apenas fixou seu olhar em algum ponto atrás de mim. 
- Que foi, criatura? – perguntei, meio assustada, e me virei na direção de seu olhar. Dei de cara com um suéter verde musgo se aproximando cada vez mais, e numa fração de segundo, meu coração deu dois giros de 360 graus dentro do meu peito. Tentei respirar à medida que nossos olhares se cruzaram e se fixaram um no outro, mas por mais esforço que eu fizesse, não consegui oxigenar meus pulmões. Tudo que fui capaz de fazer foi continuar encarando Mica, que se aproximava cada vez mais com uma expressão tensa e olhinhos cansados, até me dar conta de que ele estava parado na minha frente. 
- Erm… Bom dia, Abrahão – ele murmurou, dirigindo-se à Sophia com um sorrisinho nervoso, e abaixando mais ainda seu tom de voz quando se referiu a mim - Oi, Roberta. 
- Oi, sr. Borges – falei, sem emoção (só aparentemente), enquanto Sophia apenas sorriu fraco e respondeu seu cumprimento com um aceno de cabeça. Pude ver no olhar de Mica que ele não tinha gostado muito do jeito pelo qual eu o chamei, mas mantive a seriedade. Ainda não sabia onde estava pisando com ele, era melhor me manter com um pé atrás. 
Sem dizer mais nada, Mica apenas me entregou um pedaço pequeno de papel dobrado com o qual ele estava brincando apreensivamente desde que tinha pisado na escola, e assim que eu o peguei de sua mão, recebi um sorriso fraco antes de vê-lo se afastar em direção à sala dos professores. Fiquei observando-o entrar na sala, com a expressão vazia, e se Sophia não tivesse me cutucado, acho que teria ficado encarando a porta daquela sala pelo resto da vida. 
- Tá esperando o que pra ler o bilhete, Roberta? – ela sussurrou, com um sorriso empolgado, e eu desdobrei o pedaço de papel pautado que estava em minhas mãos. 

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