quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

WEB LuAr - Capítulo 6 / Parte 7 :

 
Como eu previa, Arthur ficou com cara de nada, enquanto eu sorria maleficamente. Ele realmente era um tosco, era fácil demais deixá-lo sem resposta. Pra não ter que ficar aturando aquele bosta nem o documentário insuportável que passava dentro da sala, dei um passo em direção ao banheiro, mas assim que o fiz, senti sua mão firme envolver meu braço e me puxar devagar em sua direção até sua respiração bater em meu ouvido. 
- Você vai se arrepender de ter dito isso. 
Ergui meu olhar até o dele, desdenhosa, e ele me soltou violentamente. Arthur deu meia volta e entrou novamente na sala, me deixando trêmula de ódio. Até quando eu teria que agüentar as ameaças daquele idiota? 

Uma da tarde. A chuva tinha apertado ainda mais, e apesar das galochas que o pessoal da reserva tinha nos emprestado, a sensação de meus pés afundando na terra ensopada era a mais nojenta possível. Cada passo exigia um esforço considerável pra não afundar naquela papa marrom na qual o chão tinha se transformado. Quando meu estômago nervoso já começava a dar fracos sinais de fome, os guias nos encaminharam até o grande refeitório que havia na reserva, onde um almoço quase decente nos esperava. Comi um pouquinho de qualquer coisa, só pra não acabar desmaiando naquele chão pastoso, e logo voltamos a explorar aquela selva domada. Tudo que o guia explicava sobre as espécies de plantas e animais que encontrávamos eu já sabia, só nunca tinha visto exemplares vivos de alguns deles, o que não me interessava muito no momento. Por que eu paguei para vir a essa excursão mesmo? Ah, sim, porque um certo professor estava escalado para me acompanhar e eu definitivamente pretendia passar meu dia inteiro com ele, e não com o palerma que o substituiu. Beleza, tudo estava indo de vento em popa na minha vida. 
Enquanto caminhávamos por uma das vias de terra entre as árvores, eu, enjoada de ver tanto verde e marrom ao meu redor, acabei ficando entre as últimas pessoas do grupo, um pouco mais distante do guia e de sua voz irritante. Minha cabeça já estava doendo o suficiente com aquele cheiro insuportavelmente forte de terra e as preocupações que atordoavam minha mente, obrigada. Observando vagamente a vegetação ao meu redor, encontrei um pássaro lindo pousado sobre um galho, e um sorriso fraco surgiu em meu rosto sem que eu percebesse. Suas cores vibrantes não conseguiam camuflá-lo em meio às folhas da árvore onde estava pousado, e apesar da chuva fina, resolvi pegar meu celular na bolsa para fotografá-lo. Como se lesse minha mente, a ave ficou paralisada, e somente após umas três fotos, o animal finalmente levantou vôo. Seria interessante mostrar pra Mica o quão lindo aquele pássaro era, caso ele não tivesse tido a oportunidade de vê-lo quando veio. Isso se eu voltasse a ter uma relação normal com ele, o que eu pretendia conseguir em breve. 
Quando fui guardar meu celular irritantemente sem sinal num dos bolsos externos da mochila, percebi que meu chaveiro tinha sumido. Quem tinha me dado aquele chaveiro tinha sido minha avó, que já tinha falecido. Era uma bailarina linda com uma perna flexionada, e os pés firmemente curvados, numa ponta perfeita e postura igualmente correta. Aquele chaveiro sempre tinha sido meu xodó, mesmo antes da morte da vovó, e depois mais ainda. Me lembro bem de tê-lo visto quando peguei o celular pra ver as horas no almoço, e agora ele não estava mais lá. Ou seja, eu o tinha perdido pelo caminho. E eu não pretendia ir embora daquela reserva sem ele. 
Dei meia volta, vasculhando aquele chão semi líquido em busca de algo rosa claro, mas não achei nada por perto. Alguns passos depois e ainda assim nada. Olhei pra trás e pude ver o grupo, distante, mas ainda visível, se afastando lentamente. Tranqüila quanto a não me perder, continuei caminhando devagar na direção oposta, preocupada com meu chaveiro, até olhar para trás outra vez um tempinho depois e ver que o grupo tinha sumido. Legal, eles deviam ter virado em alguma curva sem que eu visse. Sem a menor intenção de me perder naquela pseudofloresta, mas sem a menor intenção de deixar meu chaveiro pra trás também, hesitei por alguns segundos antes de voltar a seguir o grupo. Achando-os, seria só uma questão de convencer alguém a me ajudar na busca pelo chaveiro. 
Caminhei rapidamente na direção da minha turma, e logo pude ouvir a voz não muito distante do guia. Virei numa curva um pouco a frente, desatenta por ainda vasculhar o chão, e só deu tempo de frear bruscamente quando vi uma pessoa muito próxima vindo na direção oposta. Caraca, ele realmente estava me perseguindo. 

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