sábado, 31 de dezembro de 2011

WEB LuAr - Capítulo 21 / Parte 4 :

Até que meu olho estava indo bem, mesmo com o fato de minha habilidade artística ser uma merda, mas foi inevitável não pular na cadeira e tremer meu traço quando o celular vibrou dentro do bolso da calça. Só podia ser Mica. Aleluia. 
Pedi à professora para ir ao banheiro, e ela mal me olhou, compenetrada demais em supostamente ensinar os poucos alunos interessados a aplicar suas fórmulas ridículas de tão fáceis. Saí quase que correndo da sala, e assim que fechei a porta atrás de mim, atendi à chamada, sem nem olhar para o número. 
- Roberta? – a voz de Mica emanou do aparelho sem que eu nem precisasse dizer nada, e um sorriso aliviado surgiu em meu rosto. 
- Oi, amor – respondi, caminhando lentamente em direção ao banheiro – Como você tá? Já voltou do hospital? Foi tudo bem? O que te disseram lá? 
- Calma, uma coisa de cada vez – ele riu, e eu não pude deixar de imitá-lo de um jeito nervoso, só então notando minhas perguntas afobadas – Eu estou bem, já estou em casa, foi tudo bem por lá, mas… Eu tenho uma notícia não muito agradável. 
- Desde que você não fique desse jeito pra sempre, ou por muito tempo, não vejo nada que possa ser tão ruim – adiantei ansiosamente, desistindo de chegar até o banheiro e me apoiando na parede ao lado de uma sala de aula qualquer. 
- Segundo o médico, eu vou voltar ao normal em breve, não se preocupe com isso – Mica disse, com a voz levemente divertida, e o alívio cresceu ainda mais dentro de mim – O problema é que eu vou precisar de cinco dias de descanso para isso. E quando eu digo 
descanso, estou dizendo que não poderei ir à escola. Ou seja… Não vou poder te ver. 
Meus olhos, que observavam o corredor deserto, despencaram até encontrar meus próprios pés após aquela notícia. Cinco dias sem Mica, ainda mais agora, que eu precisava dele como nunca para me manter firme em minha decisão e não me deixar abater, seriam quase uma eternidade. 
Mas tudo bem. Eu era forte o suficiente para agüentar, certo? 
Respirei fundo, me preparando para dizer que não me importava e que havia grandes chances de sobrevivência para mim, mas antes que eu pudesse abrir a boca, a porta da sala da qual eu estava praticamente ao lado se abriu, e o professor Aguiar irrompeu dela, quase trombando comigo ao fazê-lo. Seu jaleco absurdamente branco, em contraste com sua roupa preta, esvoaçou escandalosamente devido ao seu movimento brusco para frear e não tocar em mim, ao contrário de seus olhos, que se depararam com os meus carregados de uma surpresa assustada. Senti que fui atingida por uma nuvem de seu perfume assim que ele freou bem perto de mim, e para o meu próprio bem, tentei não respirá-lo. Em vão, claro, porque quando finalmente consegui bloquear minhas vias respiratórias, já havia inspirado o suficiente para que aquele cheiro viciante dominasse meus pulmões por completo. Como eu era idiota. 

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