sábado, 31 de dezembro de 2011

WEB LuAr - Capítulo 21 / Parte 3 :

Assim que as últimas palavras saíram de minha boca, Arthur parou de andar, logo atrás de Sophia. Meu olhar ávido acompanhou seu rosto enquanto ele o virava na minha direção, e logo os aros castanhos de seus olhos se tornaram plenamente visíveis. Sua testa estava franzida sobre eles, e seus lábios estavam firmemente fechados, formando uma linha reta e demonstrando sua seriedade. Não desviei meu olhar do dele; pelo contrário, intensifiquei nossa conexão visual até que ele se desse conta de que estava me olhando por tempo demais e passasse a encarar o chão, voltando a andar logo em seguida. Sophia, confusa demais para entender alguma coisa, apenas olhou para trás tentando acompanhar meu olhar ainda fixo, e ao encontrar a porta do prédio já vazia, voltou a me encarar, desconfiada. 
- Se antes eu já estava achando que precisava saber de algo, agora eu tenho certeza absoluta disso – ela murmurou, me analisando minuciosamente, e eu não conseguia tirar meus olhos do local onde antes Arthur me encarava – Mas seja lá o que esse algo for, tenho a impressão de que não é nada pacífico. 
- Alguém já te disse que seu poder de dedução é simplesmente incrível? - sorri de um jeito maldoso, satisfeita por ter conseguido alfinetar o idiota do Aguiar, e voltei a olhar para Sophia, que ainda me fitava daquele jeito desconfiado. De pacífica, aquela história não tinha absolutamente nada. Aliás, tudo que envolvesse Arthur Aguiar em minha vida jamais seria pacífico. 
E tal constatação me fez concluir, agora com certeza, que minha vida havia realmente voltado ao normal. 

Metade da segunda aula. Física. Uma professora de 45 anos toda esticada pelas sucessivas cirurgias plásticas e com menos roupa do que eu, no maior estilo brotinho, tentando enfiar na cabeça de seus alunos ainda sonolentos algumas fórmulas sobre elétrica. Duas palavras: não, obrigada. 
Eu rabiscava incessantemente em meu caderno, imaginando que espírito havia se apossado de minha mão para mantê-la tão inquieta. Primeiro, fiz cubos deformados devido à minha incapacidade de desenhar algo que prestasse. Depois de uns vinte desses nas bordas da folha, acabei desistindo de formas geométricas e comecei a esboçar um olho gigante no centro. Enquanto arrumava alguns detalhes de seu contorno, tentando ignorar a voz irritante da professora esbravejando as fórmulas na frente da classe, me lembrei do dia em que li num site sobre o significado dos rabiscos que as pessoas fazem quando estão distraídas, e que podem às vezes transmitir seus sentimentos. Olhos e cubos, pelo que eu me lembrava, representavam uma situação na qual a pessoa está frente a frente com uma decisão importante ou um fato decisivo, e não quer ou tem medo de encará-la. Revirei os olhos pela futilidade desse tipo de análise, e repeti mentalmente as mesmas duas palavras: não, obrigada. 

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