sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

WEB LuAr - Capítulo 20 / Parte final :

- Roberta, você pode acompanhar o Thur até a porta, por favor? – Mica murmurou sem jeito, com um sorrisinho fraco, e antes que eu pudesse pensar numa resposta, Arthur se pronunciou: 
- Não precisa, Borges. Eu conheço o caminho. 
- Hm… Bom, boa noite então – Mica não insistiu, sorrindo sinceramente agradecido e levemente preocupado com o amigo, o que só fez meu estômago afundar mais ainda em sinal de desânimo – Te vejo amanhã… Eu acho. 
- Se cuida – Arthur murmurou, erguendo rapidamente um dos cantos de sua boca numa tentativa frustrada de sorrir, e nem sequer me olhou antes de ir embora. Fiquei paralisada por alguns segundos, e somente quando a porta do apartamento bateu, indicando que ele havia realmente partido, meu coração revirou dentro do peito, devolvendo-me a consciência. Ou pelo menos parte dela. 
- Eu vou… Trancar a porta e… Eu já volto – gaguejei, sem conseguir organizar as idéias em minha mente e sentindo minha garganta arranhar a cada palavra. A única coisa da qual eu tinha certeza absoluta era de que precisava ficar pelo menos cinco minutos sozinha, caso contrário seria capaz de morrer asfixiada. Mica apenas assentiu, ajeitando-se melhor em sua cama, e eu praticamente corri até a entrada do apartamento. Girei a chave, que ainda balançava devido ao movimento de Arthur para fechar a porta, na fechadura, ouvindo a tranca mover-se discretamente, e apoiei minhas costas contra a madeira, sentindo minhas pernas tremerem perigosamente. 
Abaixei a cabeça num ato derrotado, sendo tomada por pontadas fortes de dor no peito. Sem conseguir entender por que meus olhos estavam se enchendo d’água naquela velocidade monstruosa, desisti de lutar contra a fraqueza súbita de meus joelhos, deixando-os ceder ao meu peso e me derrubar sentada no chão. Enterrei meu rosto discretamente molhado por duas tímidas lágrimas e, por mais que estivesse tentando evitar, minha vontade de chorar só aumentava. Era inútil nadar contra a correnteza. Assim como era inútil fingir que eu não tinha me deixado envolver por Arthur, nem ao menos por um segundo… Seu cheiro, sua pele, seu calor, seu gosto, seu toque, tudo me convidava, me chamava, me envolvia, como um vício, uma praga, uma maldição. 
Saber que ele pensava em mim daquela forma tão suja, tão superficial, como se eu fosse um simples brinquedo, foi um golpe duro, e mais dura ainda foi a consciência de que eu jamais poderia esperar mais do que isso dele. Mas, mesmo sabendo disso, eu não cumpri minha parte no trato. Eu me iludi, me deixei levar por sensações supérfluas, momentâneas, e que agora já não bastavam mais para mim. Eu precisava de alguém que realmente me amasse como Mica me amava, mas que também pudesse me dar o que só Arthur era capaz de me dar. E apesar de me sentir certa em relação ao que havia feito com Arthur, era inegável que meu corpo já dava sinais claros de que sentia falta dele. 
Mesmo sabendo que eu estava com a razão, tudo o que eu queria fazer era passar o resto da noite esperando inutilmente pelo momento em que ele voltaria, e eu poderia dizer tudo que estava entalado em minha garganta, mesmo que as palavras não fizessem sentido… Tudo o que eu queria era poder mostrar a ele o quão importante ele havia se tornado em minha vida, por mais errada que tivesse sido sua passagem por ela. E que, apesar de tudo, algo me dizia que ele não podia ficar longe de mim… Que eu não o 
queria longe de mim. 
Mas esse momento não aconteceria, eu tinha plena consciência disso. Ele provavelmente já estaria dentro de um táxi naquele exato momento, voltando para sua enorme e deserta casa, e assim que chegasse, enterraria seu corpo sob o largo e grosso edredom de sua igualmente vasta cama… E igualmente vazia. 
Visualizá-lo sozinho naquele apartamento provocou uma fisgada insuportavelmente intensa em meu peito, e eu contive um gemido de dor. Respirei fundo, reunindo todas as forças que aquele fim de semana ainda havia me deixado, e focalizei meus pensamentos em uma única coisa. 
Mica. 
Ele sim me merecia. Ele sim me amava. Ele sim faria qualquer coisa por mim, eu sabia disso. E, no entanto, não era por ele que eu chorava. Só então eu percebi o quão injustas e traidoras minhas lágrimas eram, passando a queimar meus olhos conforme caíam, e trazendo consigo a pergunta que eu daria a vida para poder responder. 
Por que eu insistia em seguir o caminho errado? 
Aproveitando-me de um momento de lucidez, ergui meu rosto e engoli o choro, respirando profundamente. Enxuguei minhas lágrimas com as costas de minhas mãos trêmulas, e reunindo os pedaços de mim que ainda restavam, me levantei devagar. Meu caráter podia estar completamente destruído, mas ainda havia alguém por quem valia a pena sorrir. E agora que eu já havia me desfeito de uma de minhas metades, só o que me restava era cuidar da outra, que, naquele momento, precisava de mim mais do que nunca. 
Mas talvez não tanto quanto eu precisava dela.

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