sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

WEB LuAr - Capítulo 20 / Parte 7 :

Uns vinte minutos de silêncio ficaram para trás durante minha pequena reflexão, até que um barulho curioso foi crescendo aos poucos no interior do carro e me fez voltar à realidade. Franzi a testa ao perceber que ele vinha do banco de trás, e quando olhei na direção do som, minha respiração parou. O barulho era o ronco de Mica, que dormia feito pedra, de boca aberta e babando no estofado do próprio carro. 
O que significava que eu estava praticamente sozinha com Arthur. 
Micael? Amor da minha vida? Que tal deixar a sonequinha pra mais tarde? 
Voltei a olhar pra frente, engolindo em seco, e mantive meus olhos fixos no céu já escuro à minha frente. Sentia meu coração se contorcer em agonia a cada batimento, e cada segundo a mais de silêncio da parte de Arthur era comemorado como um segundo a menos de perigo. 
Pena que minha felicidade costuma durar pouco. E ela já estava durando demais, eu sabia disso. 
- Vai ficar na casa dele? – Arthur perguntou, naquele seu tom subitamente hippie, e eu quase pulei de susto ao ouvir sua voz, apesar de seu volume razoavelmente baixo. Sem conseguir compreender direito a pergunta, sob pressão demais para organizar as palavras em minha mente, apenas olhei rapidamente para ele, e pude notar que um sorrisinho surgiu em seu rosto. 
- Vou – murmurei, quando finalmente consegui recuperar a razão. Será que eu estava finalmente conseguindo ter uma conversa digna com Arthur Aguiar ou eu estou prestes a acordar? 
- Ah… – ele disse, erguendo as sobrancelhas em tom de lamentação - Que pena. 
Franzi a testa, sem entender sua resposta, e voltei a olhar para ele. Assim que o fiz, ele devolveu meu olhar, e imediatamente suas íris me transmitiram uma overdose de malícia, a qual eu não estava exatamente pronta para receber. O choque pela mudança brusca de atitude de Arthur me deixou paralisada por alguns segundos, mas nada que me impedisse de ouvir o fim de sua frase. 
- 
A Ferrari já está com saudades de você. 
Senti meus pulmões virarem aço dentro de meu peito, porque além de parecerem momentaneamente impossibilitados de respirar, seu tamanho pareceu quadruplicar, esmagando meu coração e tornando suas batidas absurdamente intensas. 
- Do… Do que você… Tá falando? – gaguejei, num sopro de voz, e ele apenas aumentou seu sorriso, voltando a encarar a estrada. Tentei respirar, sentindo meu cérebro pedir por ar, mas o progresso que consegui foi quase nulo. Quando me preparava para tentar novamente, ainda com os olhos presos no local onde antes estavam os dele, senti sua mão explorar a parte superior de minha coxa, acariciando-a com uma certa pressão e somente parando quando a distância entre ela e minha virilha era quase insignificante. Quando atingiu seu objetivo, ele aumentou a intensidade de sua pressão, e imediatamente meu corpo inteiro se arrepiou. A lembrança de seus toques veio à tona, me desnorteando completamente e deixando minha visão levemente turva. 
- Acho que já tem sua resposta – Arthur disse, colocando todo o seu charme na voz, e novamente me olhou daquele jeito libidinoso – Ou ainda não é o suficiente? 
Ele fez menção de mover sua mão numa direção não muito recomendada, e eu agarrei seu pulso com as duas mãos na mesma hora, em desespero. Meus dedos gelados tremiam escandalosamente contra sua pele quente, mas eu não o deixaria vencer meu autocontrole. Não naquele momento, não naquele lugar. 
- Por favor… – ofeguei, fechando os olhos por um momento e buscando a firmeza necessária para tornar minha voz um pouco mais audível – Pare com isso. 
- Parar com o quê? – Arthur sussurrou, como se estivéssemos brincando de esconde-esconde e não pudéssemos ser ouvidos, e seu sorriso passou a demonstrar também uma leve diversão – Com 
isso? 
Assim que pronunciou a última palavra, ele voltou a pressionar a parte interna de minha coxa, e eu novamente senti a onda de arrepios percorrer minha espinha. Meu aperto em seu pulso intensificou-se involuntariamente, transmitindo minha reação a ele e fazendo seu sorrisinho só aumentar, tornando-se até um baixo riso. 
- Incrível como você está demorando a perder a graça – ele falou, com os olhos maliciosos pairando em direção à estrada – A cada dia, se torna ainda mais divertida, como um perigoso brinquedo que se renova constantemente… E se torna cada vez mais excitante. 
Dessa vez, me recuperei mais rapidamente da provocação dele, bem a tempo de assimilar com o que ele estava me comparando. 
Um 
brinquedo? Então era essa a imagem que ele tinha de mim? Um simples objeto, que ele podia subordinar às suas vontades quando bem entendesse? 
Em que porra de mundo aquele merda vivia pra se sentir no direito de me dizer algo como aquilo? 
Uma raiva incontrolável começou a borbulhar em meu estômago, me fazendo pensar que voaria nele a qualquer momento e o mutilaria até que alguém conseguisse me parar. Respirei fundo, ainda sentindo minhas mãos tremerem, mas agora por outro motivo, e então a raiva atingiu em cheio minha garganta, escalando-a e queimando-a com tamanha fúria que minha voz parecia um rosnado quando as palavras irromperam de minha boca. 
- Tire a sua mão imunda de mim. 
Agora. 

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