quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

WEB LuAr - Capítulo 20 / Parte 6 :

- Roberta, calma – Mica pediu baixinho, me encarando por um momento com o olhar levemente repreensivo, e logo e seguida ficando de pé, graças ao apoio de nossas mãos. Arthur passou cuidadosamente um dos braços do amigo por cima de seus ombros (e se eu não estiver ficando doida de vez, pude jurar ter visto um sorrisinho esperto desenhar seus lábios) e eu fiz o mesmo do outro lado, diminuindo o peso em suas pernas. Descemos as escadas devagar, poupando Mica de quase todo o contato entre seus pés e o chão – como eu previa, Arthur foi muito mais habilidoso nessa parte do que eu, mesmo carregando também nossas mochilas, graças a sua massa muscular muito mais desenvolvida que a minha -, e rapidamente o colocamos no banco traseiro de seu carro. Quando estava prestes a me sentar ao lado dele, Arthur, que até então guardava nossas coisas no porta-malas, surgiu bem ao meu lado e interferiu: 
- Messi, é melhor você ir na frente. Ele vai precisar de bastante espaço. 
Olhei pra Arthur, sem saber ao certo como reagir, e como Mica não demonstrou resistência, e até pareceu concordar com ele, fui para o banco do carona. Assim que coloquei o cinto de segurança e vi Arthur sentar-se em seu banco, bem ao meu lado, soube que aquela viagem seria perigosa. Inspirei fundo, esperando que o oxigênio me trouxesse algum conforto logo, mas foi simplesmente inútil. O perfume dele entrou com tudo em meus pulmões, devido à nossa proximidade, e eu rapidamente expirei, como se aquilo fosse me ajudar em alguma coisa. 
Arthur ajeitou-se rapidamente e não demorou muito para que já estivéssemos fazendo o caminho de volta a Londres. Passamos boa parte da viagem em silêncio, sem sentir muita necessidade de falar, e quando havia diálogo, era porque Mica havia puxado algum assunto comigo. Minhas respostas eram monossilábicas, e apesar do clima calmo dentro do carro, meu nervosismo era quase nítido: minhas mãos suavam frio, agarradas uma à outra, meus olhos mantinham-se firmes no horizonte e meu coração batia absurdamente acelerado pelo risco que eu corria estando num lugar tão pequeno com os dois. E como se tudo isso não bastasse, o fato de Arthur estar extremamente tranqüilo, contrariando totalmente o que eu esperava encontrar, me pegou desprevenida e me deixou atordoada. Ele quase parecia uma pessoa normal naquele momento, dirigindo sem pressa, fora a aura de beleza que sempre o envolvia e o destacava dentre os demais mortais. O que será que ele havia fumado pra ficar daquele jeito? 
- Meu Deus, que dor de cabeça – Mica sussurrou, deitado no banco de trás e com uma das mãos sobre a testa. Olhei para ele, que estava de olhos fechados em sinal de sofrimento, e ouvi Arthur dizer, sem tirar os olhos da estrada: 
- Eu tenho uma cartela de analgésicos na carteira, se você quiser. 
Mica abriu os olhos e sorriu de leve, aliviado. 
- Você quase me mata de tesão quando diz exatamente o que eu quero ouvir, Aguiar – ele respondeu, e eu não consegui conter um sorriso. 
- Pois da próxima vez, espero que você morra pra que eu não te imagine tendo uma ereção por minha causa – Arthur retrucou, fingindo nojo em sua expressão e também sorrindo um pouco enquanto tirava a carteira do bolso traseiro da calça com certa agilidade – Messi, dá um comprimido pra ele. 
Fiz o que ele pediu, tentando disfarçar a leve tremedeira de minhas mãos devido à enorme relação de familiaridade entre eu e aquela carteira, e felizmente consegui passar despercebida.Mica logo engoliu o comprimido, agradecido, e voltou a fechar os olhos, esperando-o fazer efeito. 
Comecei a fazer tímidos desenhos abstratos sobre minha coxa, coberta pela calça jeans, apenas contando os segundos para me livrar daquela enrascada e poder respirar tranquilamente pela primeira vez em três dias. O caminho parecia muito mais longo e torturante agora em comparação à ida, e o por que disso era mais do que óbvio. E o que mais me agoniava era o jeito inesperadamente calmo de Arthur, fazendo duas possibilidades disputarem espaço em minha mente: ou algo estava muito certo, o que não ajudou em nada a me acalmar, porque o certo de Arthur não era nada confiável; ou algo estava muito errado. Confesso que a segunda opção me causou leves calafrios, porque sempre que algo errado envolvia sorrisinhos sem motivo aparente dele, era praticamente certeza de que eu também estava envolvida. E particularmente, eu ainda não estava totalmente pronta para saber se gostava de participar de seus erros. 
Resumindo: tomara que a primeira opção seja a correta, seja lá o que ela for. 
OK. Ou talvez não. 
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Um comentário:

  1. Nossa cada dia melhor,ganhou meu respeito e admiração muito perfeita a web(Posta mais)

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