quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

WEB LuAr - Capítulo 20 / Parte 2 :

Subi as escadas cautelosamente até chegar ao quarto, onde ele ainda dormia. Sua pele parecia estar ainda mais vermelha do que da última vez que o vi, talvez pela luminosidade ainda fraca do sol e pelo contraste ainda maior que ela causava em relação aos lençóis brancos da cama. Apesar de sua respiração estar calma, Mica mantinha a testa franzida, como se seu sono fosse leve e tenso, e batia o queixo, como se estivesse com frio. Pensei em cobri-lo, mas com certeza eu o acordaria, e a ardência de sua pele não ajudava muito a apoiar minha idéia. Mordi meu lábio inferior, morta de pena e de aflição por não poder nem tocá-lo, e o machucado causado por Arthur nesse local reagiu a essa ação com uma pontada forte e inesperada. Segurei um gemido de dor e passei a ponta da língua pelo corte, sentindo gosto de sangue. Legal, aquele não curaria tão cedo. 
Fui até o banheiro da suíte para ver como estava a minha situação, e quase tive um treco. Eu estava deplorável: toda descabelada, pálida, com leves olheiras sob os olhos e com o lábio inferior um pouco inchado, bastante avermelhado na região do machucado. Balancei levemente a cabeça em sinal de negação, encarando meu próprio reflexo com uma conclusão em mente: Micael Borges e Arthur Aguiar, dois homens maravilhosamente lindos, só podiam ser loucos por gostarem de uma garota tão feia como eu. Fato. 
Fiz minha higiene matinal, aproveitando a temperatura e o silêncio agradáveis para tomar um bom banho, completamente absorta em meus pensamentos. Vesti uma calcinha branca com bolinhas coloridas e uma blusa branca de Mica que chegava até a metade de minhas coxas, e suspirei profundamente antes de me virar na direção da cama, onde ele continuava imóvel e frágil. Seu rosto carregava os traços inocentes de uma criança, e apesar de ter acabado de sair do banho, me senti completamente podre. 
Me sentei ao seu lado devagar, observando seu sono desconfortável, e não demorou muito para que minha visão ficasse embaçada e uma lágrima escorresse pelo meu rosto, descendo rapidamente até pingar na blusa. Imediatamente a enxuguei, fungando baixinho e esfregando os olhos com as costas das mãos. Se ele acordasse e me visse chorando, eu não saberia o que dizer. Ele jamais poderia me flagrar naquele estado, não sem motivo aparente. Além do mais, eu havia escolhido aquele caminho, portanto, eu deveria arcar com as conseqüências de meus próprios atos. Eu era fraca demais, incapaz de controlar minhas ações, e merecia sofrer calada por isso. Não havia perdão para o que eu estava fazendo, e muito menos pelo fato de me conformar com isso. Eu merecia passar por todo aquele sofrimento. A culpa era toda minha. 
Deitei a cabeça no travesseiro, ainda encarando o perfil de Mica, e continuei velando seu sono, até que o cansaço me venceu, auxiliado por mais algumas lágrimas silenciosas e insistentes que escaparam por meus olhos e umedeceram a fronha sob meu rosto. Quando na verdade, eu merecia me afogar nelas. 
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