Continuei encarando os olhos castanhos dele, com os pensamentos a mil. Por mais que eu me esforçasse pra pensar numa outra saída, nada me ocorria a não ser obedecê-lo. Havia coisas demais a perder naquela chantagem, e eu não podia depender de possibilidades.
Desviei meu olhar dele pro chão, completamente derrotada, e soltei o ar preso em meus pulmões, declarando minha desistência. Arthur não precisou de palavras pra entender, e finalmente soltou meu pulso, transformando sua expressão maléfica em um sorriso vitorioso.
- Boa menina – ele sussurrou, virando-se na direção da rua – Vamos.
Olhei rapidamente para os lados, me certificando de que não havia ninguém que pudesse nos flagrar, e não encontrei nada. Completamente contrariada, eu segui Arthur até o outro lado da rua, e esperei até que ele colocasse sua mochila no compartimento de bagagem de sua moto e retirasse dali um segundo capacete, já que o primeiro estava numa de suas mãos desde o começo.
- Tá esperando o que parada aí? – ele perguntou, rindo da minha cara, quando tudo que faltava para irmos embora era eu subir na moto. Nem preciso dizer que cada pedacinho de mim estava relutante a fazer isso (bom, pelo menos a maior parte). Fora o fato de que eu odiava capacetes, eles me davam dor de cabeça. Não que eu já tivesse usado capacetes várias vezes, nunca andei de moto na vida e nem pretendia. Mas pra tudo havia uma primeira vez, certo? Eu que o diga.
Sentei na garupa bem atrás dele, e procurei alguma forma de me manter na moto quando ela estivesse em movimento que não envolvesse contato físico com ele. Mas com uma mochila cheia de livros nas costas, isso seria ainda mais complicado.
- Melhor se segurar – ele avisou, ainda se divertindo com a minha desgraça, e ameaçou acelerar com a moto, dando um leve tranco e me fazendo agarrá-lo na hora. O que só o fez rir mais.
- Assim está ótimo – foi a última coisa que o ouvi dizer, porque logo depois o ronco ensurdecedor do motor preencheu meus ouvidos e ele arrancou furiosamente. Fechei os olhos, assustada com a velocidade e a falta de proteção, e involuntariamente o abracei com mais força, de alguma forma empurrando aquele perfume cada vez mais pra dentro dos meus pulmões e me fazendo sentir intoxicada.
Abri meus olhos, num súbito ato de coragem, e tudo que vi foram borrões coloridos. O vento forte me fazia piscar de meio em meio segundo, me deixando tonta e enjoada novamente, e eu preferi fechar os olhos definitivamente. A cada curva, eu esmagava as costelas de Arthur, que parecia não se importar, e até se divertir com a minha insegurança. Definitivamente, ele era o cara mais sadomasoquista que existia na Terra.
Não sei dizer exatamente por quantos minutos ficamos andando naquela coisa, até que ele reduziu a velocidade e com uma curva, subiu na calçada. Mesmo sem olhá-lo, percebi que ele virou a cabeça pro lado, o que era o máximo de movimento que ele podia fazer pra falar comigo, e riu ao me ver toda tensa.
- Você se acostuma à velocidade com o passar do tempo – ele sorriu, com aquele ar divertido que estava me dando nos nervos, e apesar de estarmos parados, eu não consegui desfazer o forte aperto de meus braços ao redor dele. E fiz bem, porque logo ele acelerou novamente, me fazendo abrir os olhos e dar de cara com uma garagem levemente familiar.
- Onde estamos? – consegui perguntar, observando os vários carros importados estacionados lado a lado passando rapidamente por nós, e senti uma pontada de pânico. Por favor, Deus, ele não tinha feito isso.
Arthur não respondeu, apenas estacionou a moto numa vaga que ficava ao lado de uma Ferrari vermelha e de um Porsche prata. Que antes dava lugar a uma BMW preta, provavelmente situada num ferro velho a essa hora, após sua colisão com um poste. Ele tinha mesmo feito isso.
- Por que você me trouxe aqui? – exclamei, com a voz mais alta agora, enquanto ele desligava a moto – Que tipo de problemático você é?
- Eu falei que ia te dar uma carona – Arthur finalmente disse, tirando o capacete com cara de tédio, e virou o rosto pra me olhar de lado – Mas não disse em momento algum que te levaria pra sua casa.
Senti meu sangue esquentar dentro das veias, sem saber direito se era de pânico ou de raiva. Onde eu estava com a cabeça pra me envolver com ele?
- SEU IDIOTA! ME LEVA PRA CASA AGORA! AGORA! – gritei, me aproveitando de sua posição desfavorecedora e estapeando suas costas sem dó – EU NUNCA MAIS QUERO OLHAR NA SUA CARA, SEU SAFADO SEM VERGONHA!
Parecendo nem sentir os tapas e socos que eu lhe dava, ele se levantou, sem cerimônia, e começou a caminhar calmamente até o elevador da garagem, ativando o alarme da moto pelo caminho. Eu continuei imóvel, até me dar conta de que ele realmente não voltaria pra me levar pra casa, e sem a menor intenção de ficar presa ali, eu corri atrás dele, me desfazendo de qualquer jeito do capacete no trajeto.
- AH, É, NÃO VAI ME LEVAR? – urrei, andando energicamente atrás dele, que estava a alguns passos de distância de mim, quase alcançando o elevador – ÓTIMO! EU VOU ANDANDO!
Arthur soltou uma gargalhada e parou bem à porta do elevador, só então se virando pra mim.
- Você vai morrer antes de sequer chegar no seu bairro. Ou de cansaço, ou atingida por um raio com a chuva que vai cair daqui a pouco.
- EU NÃO LIGO! – berrei, parando de andar a poucos metros dele, totalmente irada – QUALQUER COISA É MELHOR DO QUE FICAR MAIS UM SEGUNDO PERTO DE VOCÊ!
Continuei andando na direção da saída da garagem, e ignorei a trovoada monstruosa que estremeceu o chão. Quando já estava a poucos passos da saída, que graças a Deus não era muito longe do elevador, ouvi passos rápidos atrás de mim, e acelerei meu ritmo. Totalmente em vão.
- O QUE É ISSO? – gritei, quando senti os braços de Arthur envolverem minhas pernas e me levantarem do chão – ME LARGA!
Eu estava praticamente pendurada em seu ombro, sentindo-o segurar minhas pernas com um braço só, e com meu tronco caindo pelas costas dele. Enquanto ele voltava a andar na direção do elevador, como se estivesse carregando uma pluma e não uma pessoa revoltada, eu voltei a espancá-lo, socando-o com toda a força que eu consegui. Meus cabelos se enroscavam em meus braços, formando nós que eu sabia que não conseguiria desfazer tão facilmente, mas aquilo pouco me importava.
Ignorando totalmente meus gritos e minhas agressões, Arthur continuou me levando até o elevador, que nos esperava com a porta automática aberta. Assim que passamos, ele apertou o botão do vigésimo terceiro andar, que nos levaria ao seu apartamento. Mesmo dentro do elevador, ele não me soltou, e eu parti pras ameaças concretas, desesperada.
- ME LARGA OU ENTÃO EU GRITO PRA TODOS OS ANDARES OUVIREM!
- Os apartamentos têm proteção acústica, mas vai ser engraçado te ouvir tentar – ele sorriu, sem tremer na base nem um pouco. Mas tudo bem, eu ainda tinha argumentos.
- ENTÃO EU VOU TE PROCESSAR ASSIM QUE CONSEGUIR OS VÍDEOS DO CIRCUITO INTERNO DAS CÂMERAS DESSE PRÉDIO!
- Tudo bem, eu suborno quem tiver que subornar. Tenho dinheiro pra bancar todas as suas tentativas baratas de me prejudicar.
- AAAAAAAH! – berrei, socando-o com mais força e mais rápido – ME SOLTA SENÃO EU VOU ARRANCAR PEDAÇO DE VOCÊ, SEU VERME!
E inesperadamente, ele me pôs no chão, com um sorriso esperto. Antes que eu tivesse tempo de assimilar que estava com os pés no chão e já podia dar uma voadora nele, Arthur me prensou contra a parede do elevador de um jeito que me arrepiou inteira. Por que eu tive um déja-vu naquele exato momento?
- Agora parece que estamos entrando num acordo – ele murmurou, próximo o suficiente de mim a ponto de me fazer sentir sua respiração quente bater em meu rosto – Te deixo arrancar um pedaço meu se me deixar fazer o mesmo com você.
Levei alguns segundos pra compreender suas palavras, devido à proximidade perigosa entre nós. O sorriso pervertido em seus lábios já não parecia mais tão irritante, e os olhos dele, intensamente castanhos, não conseguiam se decidir entre os meus olhos e minha boca.
- Eu nunc… – comecei a protestar, com a voz falha, mas não consegui terminar. Arthur grudou seus lábios macios nos meus, fazendo meu corpo inteiro formigar
Desviei meu olhar dele pro chão, completamente derrotada, e soltei o ar preso em meus pulmões, declarando minha desistência. Arthur não precisou de palavras pra entender, e finalmente soltou meu pulso, transformando sua expressão maléfica em um sorriso vitorioso.
- Boa menina – ele sussurrou, virando-se na direção da rua – Vamos.
Olhei rapidamente para os lados, me certificando de que não havia ninguém que pudesse nos flagrar, e não encontrei nada. Completamente contrariada, eu segui Arthur até o outro lado da rua, e esperei até que ele colocasse sua mochila no compartimento de bagagem de sua moto e retirasse dali um segundo capacete, já que o primeiro estava numa de suas mãos desde o começo.
- Tá esperando o que parada aí? – ele perguntou, rindo da minha cara, quando tudo que faltava para irmos embora era eu subir na moto. Nem preciso dizer que cada pedacinho de mim estava relutante a fazer isso (bom, pelo menos a maior parte). Fora o fato de que eu odiava capacetes, eles me davam dor de cabeça. Não que eu já tivesse usado capacetes várias vezes, nunca andei de moto na vida e nem pretendia. Mas pra tudo havia uma primeira vez, certo? Eu que o diga.
Sentei na garupa bem atrás dele, e procurei alguma forma de me manter na moto quando ela estivesse em movimento que não envolvesse contato físico com ele. Mas com uma mochila cheia de livros nas costas, isso seria ainda mais complicado.
- Melhor se segurar – ele avisou, ainda se divertindo com a minha desgraça, e ameaçou acelerar com a moto, dando um leve tranco e me fazendo agarrá-lo na hora. O que só o fez rir mais.
- Assim está ótimo – foi a última coisa que o ouvi dizer, porque logo depois o ronco ensurdecedor do motor preencheu meus ouvidos e ele arrancou furiosamente. Fechei os olhos, assustada com a velocidade e a falta de proteção, e involuntariamente o abracei com mais força, de alguma forma empurrando aquele perfume cada vez mais pra dentro dos meus pulmões e me fazendo sentir intoxicada.
Abri meus olhos, num súbito ato de coragem, e tudo que vi foram borrões coloridos. O vento forte me fazia piscar de meio em meio segundo, me deixando tonta e enjoada novamente, e eu preferi fechar os olhos definitivamente. A cada curva, eu esmagava as costelas de Arthur, que parecia não se importar, e até se divertir com a minha insegurança. Definitivamente, ele era o cara mais sadomasoquista que existia na Terra.
Não sei dizer exatamente por quantos minutos ficamos andando naquela coisa, até que ele reduziu a velocidade e com uma curva, subiu na calçada. Mesmo sem olhá-lo, percebi que ele virou a cabeça pro lado, o que era o máximo de movimento que ele podia fazer pra falar comigo, e riu ao me ver toda tensa.
- Você se acostuma à velocidade com o passar do tempo – ele sorriu, com aquele ar divertido que estava me dando nos nervos, e apesar de estarmos parados, eu não consegui desfazer o forte aperto de meus braços ao redor dele. E fiz bem, porque logo ele acelerou novamente, me fazendo abrir os olhos e dar de cara com uma garagem levemente familiar.
- Onde estamos? – consegui perguntar, observando os vários carros importados estacionados lado a lado passando rapidamente por nós, e senti uma pontada de pânico. Por favor, Deus, ele não tinha feito isso.
Arthur não respondeu, apenas estacionou a moto numa vaga que ficava ao lado de uma Ferrari vermelha e de um Porsche prata. Que antes dava lugar a uma BMW preta, provavelmente situada num ferro velho a essa hora, após sua colisão com um poste. Ele tinha mesmo feito isso.
- Por que você me trouxe aqui? – exclamei, com a voz mais alta agora, enquanto ele desligava a moto – Que tipo de problemático você é?
- Eu falei que ia te dar uma carona – Arthur finalmente disse, tirando o capacete com cara de tédio, e virou o rosto pra me olhar de lado – Mas não disse em momento algum que te levaria pra sua casa.
Senti meu sangue esquentar dentro das veias, sem saber direito se era de pânico ou de raiva. Onde eu estava com a cabeça pra me envolver com ele?
- SEU IDIOTA! ME LEVA PRA CASA AGORA! AGORA! – gritei, me aproveitando de sua posição desfavorecedora e estapeando suas costas sem dó – EU NUNCA MAIS QUERO OLHAR NA SUA CARA, SEU SAFADO SEM VERGONHA!
Parecendo nem sentir os tapas e socos que eu lhe dava, ele se levantou, sem cerimônia, e começou a caminhar calmamente até o elevador da garagem, ativando o alarme da moto pelo caminho. Eu continuei imóvel, até me dar conta de que ele realmente não voltaria pra me levar pra casa, e sem a menor intenção de ficar presa ali, eu corri atrás dele, me desfazendo de qualquer jeito do capacete no trajeto.
- AH, É, NÃO VAI ME LEVAR? – urrei, andando energicamente atrás dele, que estava a alguns passos de distância de mim, quase alcançando o elevador – ÓTIMO! EU VOU ANDANDO!
Arthur soltou uma gargalhada e parou bem à porta do elevador, só então se virando pra mim.
- Você vai morrer antes de sequer chegar no seu bairro. Ou de cansaço, ou atingida por um raio com a chuva que vai cair daqui a pouco.
- EU NÃO LIGO! – berrei, parando de andar a poucos metros dele, totalmente irada – QUALQUER COISA É MELHOR DO QUE FICAR MAIS UM SEGUNDO PERTO DE VOCÊ!
Continuei andando na direção da saída da garagem, e ignorei a trovoada monstruosa que estremeceu o chão. Quando já estava a poucos passos da saída, que graças a Deus não era muito longe do elevador, ouvi passos rápidos atrás de mim, e acelerei meu ritmo. Totalmente em vão.
- O QUE É ISSO? – gritei, quando senti os braços de Arthur envolverem minhas pernas e me levantarem do chão – ME LARGA!
Eu estava praticamente pendurada em seu ombro, sentindo-o segurar minhas pernas com um braço só, e com meu tronco caindo pelas costas dele. Enquanto ele voltava a andar na direção do elevador, como se estivesse carregando uma pluma e não uma pessoa revoltada, eu voltei a espancá-lo, socando-o com toda a força que eu consegui. Meus cabelos se enroscavam em meus braços, formando nós que eu sabia que não conseguiria desfazer tão facilmente, mas aquilo pouco me importava.
Ignorando totalmente meus gritos e minhas agressões, Arthur continuou me levando até o elevador, que nos esperava com a porta automática aberta. Assim que passamos, ele apertou o botão do vigésimo terceiro andar, que nos levaria ao seu apartamento. Mesmo dentro do elevador, ele não me soltou, e eu parti pras ameaças concretas, desesperada.
- ME LARGA OU ENTÃO EU GRITO PRA TODOS OS ANDARES OUVIREM!
- Os apartamentos têm proteção acústica, mas vai ser engraçado te ouvir tentar – ele sorriu, sem tremer na base nem um pouco. Mas tudo bem, eu ainda tinha argumentos.
- ENTÃO EU VOU TE PROCESSAR ASSIM QUE CONSEGUIR OS VÍDEOS DO CIRCUITO INTERNO DAS CÂMERAS DESSE PRÉDIO!
- Tudo bem, eu suborno quem tiver que subornar. Tenho dinheiro pra bancar todas as suas tentativas baratas de me prejudicar.
- AAAAAAAH! – berrei, socando-o com mais força e mais rápido – ME SOLTA SENÃO EU VOU ARRANCAR PEDAÇO DE VOCÊ, SEU VERME!
E inesperadamente, ele me pôs no chão, com um sorriso esperto. Antes que eu tivesse tempo de assimilar que estava com os pés no chão e já podia dar uma voadora nele, Arthur me prensou contra a parede do elevador de um jeito que me arrepiou inteira. Por que eu tive um déja-vu naquele exato momento?
- Agora parece que estamos entrando num acordo – ele murmurou, próximo o suficiente de mim a ponto de me fazer sentir sua respiração quente bater em meu rosto – Te deixo arrancar um pedaço meu se me deixar fazer o mesmo com você.
Levei alguns segundos pra compreender suas palavras, devido à proximidade perigosa entre nós. O sorriso pervertido em seus lábios já não parecia mais tão irritante, e os olhos dele, intensamente castanhos, não conseguiam se decidir entre os meus olhos e minha boca.
- Eu nunc… – comecei a protestar, com a voz falha, mas não consegui terminar. Arthur grudou seus lábios macios nos meus, fazendo meu corpo inteiro formigar
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