quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

WEB LuAr - Capítulo 14 / Parte 1 :

Capítulo 14




- Mãe? 
- Oi, amor… Por que você tá me ligando a essa hora? Aconteceu alguma coisa? 
- É que… Eu não tô me sentindo muito bem. 
Seria a desculpa perfeita, pelo menos pra mim era. Meu estômago revirava a cada pessoa que entrava em meu campo de visão, num sinal físico de pânico. Eu não estava em condições de ficar na escola por mais um minuto sequer, por isso estava fingindo um mal estar dos brabos. A palidez e o suor frio, junto com as olheiras de quem mal tinha dormido na noite anterior serviram pra alguma coisa que não fosse me deixar ainda mais horrorosa do que eu já era. Enquanto eu falava com mamãe no telefone da secretaria, a moça responsável pelas dispensas da escola me olhava com aflição, como se eu estivesse a ponto de vomitar nela. O que não estava tão distante da realidade, já que eu podia jurar que estava meio verde. 
- O que você tá sentindo? – mamãe perguntou, preocupada com o meu tom de voz rouco, e eu engoli a vontade de gritar pra que ela parasse de fazer perguntas e simplesmente viesse me buscar. 
- Não sei, tô meio tonta e enjoada… Vem me buscar – foi tudo que consegui responder, e de repente, um ser vinho parou bem ao meu lado no balcão da secretaria, colocando uma pasta cheia de papéis em cima dele sem a menor delicadeza. 
- Por hoje é só, Lizzie – ele sorriu, todo moleque, para a moça à nossa frente, e arrumou a mochila sobre um ombro, dando meia volta e passando por trás de mim em direção à porta de saída. Pude jurar que ele levou o dobro de tempo necessário pra fazer isso, já que seu perfume infestou em peso o ambiente, me deixando ainda mais tonta. 
- Roberta? Você tá me ouvindo? – mamãe disse, como se não fosse a primeira vez que perguntasse isso, e eu descobri que suas palavras foram apenas ruídos enquanto Arthur estava perto. Prestar atenção em mais de uma coisa não estava sendo fácil pra mim hoje. 
- Desculpe, mãe, o que você tava dizendo mesmo? – gaguejei, esfregando minha testa energicamente com a mão livre. 
- Eu disse que não posso ir te buscar agora, estou na sala de espera pra fazer um exame – ela repetiu, pausadamente – Se preferir esperar, dentro de mais ou menos uma hora eu passo aí, mas se quiser ir embora, pegue um táxi e me ligue quando chegar. Use aquele dinheirinho que eu te dei pra casos de emergência, tá bem? 
Falou certo, mãe. 
Emergência. 
- Tá – respondi, desligando sem nem esperar resposta, e sorri fraco pra tal de Lizzie, que devolveu meu sorriso com alívio enquanto pegava a pasta que o Aguiar tinha deixado com ela. Deixei a secretaria às pressas e só parei quando cheguei à calçada em frente ao colégio. Olhei em volta, pensando na maneira mais fácil e rápida de encontrar um táxi, e vi alguém parar ao meu lado. 
- Lindo dia, não? – a voz sacana de Arthur murmurou, me fazendo quase pular de susto com sua presença repentina. Não sei se já disse isso antes, mas eu me odeio. Não existe ninguém que eu odeie mais nesse mundo que eu mesma, nem mesmo a forte concorrência chega perto de mudar minha opinião. 
Ignorei o comentário dele sobre o céu cinza e carregado, e respirei fundo, tentando acalmar a tremedeira em minhas pernas para poder ir embora dali logo. Não preciso nem dizer que ele recomeçou a falar, certo? 
- Dias assim me lembram você – ele suspirou num falso tom romântico, e eu fingi que não estava ouvindo o urro de incômodo dentro de mim – Ranzinza, sombrio, cheio de tempestades… Mas que depois dá lugar ao sol mais quente que existe. 
Fechei os olhos, começando a ficar ofegante pela provocação descarada. A metáfora estava claríssima, e eu não estava conseguindo mais respirar direito. Concentrada em normalizar meus batimentos cardíacos, finalmente tomei coragem de revidar. 
- O que você quer? – rosnei entre dentes, encarando nervosamente o lado oposto ao dele, que soltou um risinho de contentamento. 
- Eu? – ele respondeu, irônico – Eu não quero nada, já dei todas as aulas do dia… O que mais um professor pode querer? Agora você tá doida pra ir embora, pelo que me parece. 
Bufei, com os braços cruzados bem apertados na altura do peito e as mãos fortemente fechadas em punhos. 
- Não te interessa – resmunguei, agoniada com minha incapacidade de mandar oxigênio para meus pulmões – Ainda não deu pra notar que eu não quero falar com você? 
- Tudo bem, eu não pretendia falar mesmo – Arthur retrucou, com humor na voz – Existem coisas bem mais interessantes que falar. 
Por mais freqüente que isso fosse, acho que eu nunca tive tanta vontade de socar Arthur como naquele momento. Por isso, nem me importei por estar no meio da rua, tão perto de pessoas que não deveriam ver aquela cena, e meti a mão na cara dele. Bom, pelo menos eu tentei. 
Droga, o que ele tinha feito ultimamente, treinado reflexos? Por que ele tinha que estar tão mais rápido a ponto de eu não conseguir mais bater nele? Fechei os olhos, frustrada, quando senti os dedos fortes dele se fecharem contra meu pulso, a poucos centímetros de seu rosto. 
- Sabe qual é o seu problema? – ele sorriu calmamente pra mim, como se não estivesse falando com alguém que pretendia arrancar dolorosamente todos os dentes dele se tivesse a chance – Você tem pressa demais. Não sabe esperar. 
- Me solta – pedi, encarando-o com repulsa, e seus olhos penetrantes me deixaram tonta por um momento – Eu quero ir embora. 
- Então me deixe terminar de falar, estressadinha – Arthur falou, erguendo as sobrancelhas em tom de superioridade, e eu bufei novamente, sem poder fazer nada a não ser ouvi-lo – Antes da sua tentativa inútil e infantil de me bater, eu ia te oferecer uma carona, mas agora que eu percebi a sua empolgação pra ir embora, eu retiro minha oferta… 
- Ótimo – grunhi, sorrindo sarcasticamente com a idéia de aceitar uma carona dele. Mas meu sorriso logo desapareceu quando ele terminou a frase: 
- E a substituo por uma exigência. 
Franzi a testa, inconformada com aquele absurdo. Quem ele pensava que era pra exigir alguma coisa de mim? 
- Escuta aqui, seu idiota – comecei, sem nem ligar por estar falando mais alto que o aconselhável – Eu não suporto que uma pessoa asquerosa como você me dirija a palavra, ouviu bem? Vê se me esquece, eu te odeio! Só você não se tocou disso ainda! 
- Se você não vier comigo agora, garota, eu entro nessa porra desse colégio e conto tudo que aconteceu ontem pro Borges – Arthur murmurou, com os olhos cravados nos meus de um jeito intimidador – E ainda por cima, no mesmo volume que você tá usando pra falar comigo, pra que não só ele, mas todo mundo ouça o que a gente andou aprontando. 
Esqueci como se respirava com aquela ameaça. Eu não conseguia suportar nem a mera hipótese de Mica saber sobre meu deslize, e agora com Arthur me confrontando daquele jeito, tudo parecia muito mais possível de acontecer. E eu sabia que não podia me arriscar de maneira alguma, mas mesmo assim, tentei. 
- Ninguém acreditaria em você – gaguejei, esboçando um risinho desdenhoso, que nem foi páreo para o dele, tranqüilo e seguro de si. Ele sabia o quanto Mica valia pra mim, sabia que uma hora ou outra, eu desistiria e cairia em sua armadilha. 
- Bom… Isso é uma possibilidade – ele concordou, sem demonstrar um pingo de preocupação quanto ao meu blefe – Quer pagar pra ver? 
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