segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

WEB LuAr - Capítulo 12 / Parte 1 :

Capítulo 12




- Ei, acorda! 
Pulei de susto, abrindo os olhos devagar e me deparando com Sophia de pé à minha frente, me cutucando e rindo. Eu estava sentada no mesmo lugar onde costumávamos esperar o sinal tocar e o período de aulas começar, mas naquele dia eu milagrosamente tinha chegado mais cedo que ela. 
- Oi – suspirei, toda encolhida e abraçada às minhas pernas, sentindo minha garganta arranhar e fazendo com que meu cumprimento não passasse de um sussurro esganiçado. Minha voz costumava ficar uma merda de manhã. 
- Pelo visto, sua mãe tem sido cada vez mais pontual, conseguiu fazer você chegar antes de mim – ela comentou, parecendo bem humorada como sempre, mas logo franziu a testa, contagiada por minha expressão cansada - Que foi, não dormiu direito outra vez? 
Estremeci de leve, ainda sonolenta, ao me lembrar da noite anterior. O 
dia anterior em si tinha sido horripilante. Todo aquele… Acidente no laboratório se repetia como um filme em minha cabeça, um disco arranhado. Não passou de um deslize, uma falha, coisa de momento, disso eu tinha certeza absoluta. E não aconteceria de novo. Jamais. Mica não merecia aquilo, muito menos o safado do Arthur. 
- Acho que fui contaminada por um zumbi e não sei – murmurei desanimadamente, apoiando meu queixo nos joelhos e observando vagamente o pátio vazio – Tô ficando incapaz de dormir bem. 
Sophiasoltou um risinho divertido, que eu ignorei. Meu humor não estava macio o suficiente pra esboçar qualquer tipo de alegria. Alguns minutos de silêncio depois, nos quais eu não pude deixar de me sentir mal por ser involuntariamente ranzinza com Sophia, ouvi vozes masculinas vindas da entrada da escola, e nem precisei olhar pra saber a quem pertenciam. Às formas humanas de meu melhor sonho e meu pior pesadelo, claro. 
- Bom dia, meninas – Mica sorriu ao passar por nós, parecendo bastante animado, o que fez meu estômago revirar. Ninguém parecia notar o incômodo insuportável que se alojara dentro de mim e parecia não querer mais me deixar. 
Pelo menos eu não precisei encarar os olhos extremamente culposos de Arthur quando sorri fraco para Mica, porque mesmo estando bem ao lado do amigo, ele pareceu não querer me olhar também. Desviou sua atenção para algo em seus tênis, que a julgar pela inexpressividade em seu rosto, deviam ser bastante desinteressantes. Agradeci mentalmente por não notar nenhum sinal de que ele tinha contado algo a Mica, e por ele parecer concordar como que telepaticamente com meu plano de ignorarmos um ao outro. Bom, não custava nada tentar manter meu corpo insanamente desejoso do dele longe do laboratório. 
O dia se arrastou preguiçosamente, fermentando meus pensamentos com a falta de concentração. Cada vez que eu piscava, a imagem dos olhos castanhos de Arthur vinha à minha mente, penetrantes como adagas. Por várias vezes, senti meus pêlos da nuca se arrepiarem só de lembrar daquela sensação viciante das mãos dele passeando pelo meu corpo, firmes e determinadas, dos lábios dele me enfeitiçando, de sua respiração entrecortada batendo rudemente em meu rosto e me provocando ainda mais. E quando eu me dava conta de que alguns minutos de aula tinham se passado sem que eu prestasse atenção, meu coração desenfreado custava a se acalmar. Definitivamente, eu só podia estar enlouquecendo. 
No intervalo, Mica não deu sinal de vida. Como nenhum outro professor apareceu (pra minha alegria, já que havia um em especial que eu adoraria evitar) e a porta da sala dos professores se manteve fechada, deduzi que eles estavam em alguma espécie de reunião. Não estava dando pra reclamar muito da minha sorte, pelo menos, já que todas as atitudes das pessoas ao meu redor pareciam conspirar ao meu favor. Sophia teve uma crise forte de cólicas e foi embora na segunda aula, portanto eu não precisei fingir que estava razoavelmente bem e puxar qualquer tipo de assunto com ela. Nada contra minha melhor amiga, eu a adorava, mas em dias sombrios como aquele, eu preferia ficar isolada de tudo e de todos. 
Assisti às últimas aulas vagamente, me desligando quase que totalmente do mundo real. Estava inerte, devaneando, sem realmente saber no que estava pensando, mas com certeza pensando em alguma coisa. Minha mente estava se tornando bastante confusa, até para mim mesma. Fui a primeira a deixar a classe quando o sinal anunciou o fim da última aula, e apressadamente me sentei na mureta onde sempre costumava esperar minha mãe. Nem bem o azulejo da mureta esquentou sob meu corpo, meu celular vibrou. Era minha mãe, dizendo que se atrasaria um pouco, por volta de meia hora, mas que eu devia esperá-la na escola. Foi só pensar em minha súbita sorte, que até então ia bem, pra receber um evento azarado como resposta. 
Suspirei profundamente, ainda observando a bagunça de alunos que se acumulavam na frente do colégio, e de repente vi Mica um pouco mais à frente caminhando em direção à rua, falando reservadamente ao celular e tão concentrado no que dizia que mal olhava para os lados. Andava apressado, como se não quisesse ser visto, e apesar de estranhar aquela atitude dele, preferi não chamá-lo. Podia ser algo sério, e de qualquer maneira eu daria um jeito de descobrir o que era no dia seguinte. Sem falar que, do jeito que eu estava, era melhor mesmo esperar até o dia seguinte para falar com ele. 
Voltei a encarar os carros que entupiam a rua, com a falsa esperança de encontrar logo o Land Rover de mamãe. Novamente, meu olhar se perdeu em meio aos veículos barulhentos, viajando por algum lugar sombrio de meu subconsciente. Novamente, eu me peguei pensando nele. Em como aquilo tudo parecia tão errado, tão terrivelmente errado… Tão terrivelmente inevitável. Olhei na direção dos largos portões da escola, com um impulso teimosamente crescente dentro de mim, e quando me dei conta do que fazia, meus pés haviam me levado ao andar do laboratório de biologia. 
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