quarta-feira, 30 de novembro de 2011

WEB LuAr - Capítulo 4 / Parte 2 :

- O que é, Roberta? Pra que essa afobação toda? 
- Pára de gordice e vem logo! 
Sophia tinha ido almoçar em casa naquele dia porque a mãe dela tinha um compromisso e não poderia ir buscá-la na escola. E pelo visto, ela parecia ter adorado a torta de limão que mamãe fez, porque não queria sair da mesa até mandar o último farelo pro estômago. Eu já estava no meu quarto, chamando-a da porta, e precisei gritar seu nome umas vinte vezes pra finalmente ser atendida. 
- Não vem me chamar de gorda porque todas as suas roupas servem em mim, tá? – ela reclamou, quando finalmente entrou no meu quarto e eu fechei a porta. 
- Então somos duas gordas – brinquei, sem muito tempo pra rir. Afinal, eu tinha um compromisso importante hoje. 
- Que agonia é essa, hein, Roberta? – Sophia perguntou, franzindo a testa enquanto sentávamos na cama – Tá toda agitada, parece que sentou no formigueiro. 
- Eu já falei que o seu senso de humor me deprime? – eu disse, fazendo-a revirar os olhos – É, eu tô agoniada, sim. Preciso te contar uma coisa. 
- Tá esperando o que? – ela falou, curiosa – Desembucha logo! 
É essa a hora em que vocês me batem por não ter contado nada a ela sobre Mica até agora? É, acho que sim. Eu sei que prometi pra mim mesma que iria contar assim que as coisas se firmassem um pouco mais, mas eu tive muito medo de que ela me recriminasse. Por mais que eu soubesse que a reação típica de Sophia seria entrar em estado de choque e depois dizer algo como 
‘E aí, como é pegar o professor mais gato da escola?’ com um sorriso de orelha a orelha, eu acabei adiando aquela conversa até onde pude. E hoje seria o dia em que eu não podia mais esconder esse segredo dela. 
- Presta atenção – suspirei, tensa – Você promete que não vai contar pra 
absolutamente ninguém o que eu tenho pra te falar? 
- Eu sei guardar segredos, e você sabe disso – ela concordou, intrigada com a minha seriedade – Você tá me assustando… O que aconteceu? 
Suspirei novamente, apavorada, e decidi dizer tudo de uma vez, sem delongas. Coisas assim tinham que ser feitas de uma vez, como se fosse pra arrancar a cera da pele na depilação. 
- Eu e o professor Borges estamos ficando. 
Fiquei encarando-a, morrendo de medo da sua reação, mas tudo que Sophia fez foi me encarar de volta, sem expressão por um bom tempo. Não falei que ela ia ficar em estado de choque? 
- Sophia? – chamei, com cuidado, quando já estava começando a ficar preocupada. Ela piscou umas duas vezes, sem mover nenhum outro músculo, até que do nada, ela acordou do transe com um berro que fez os tímpanos dos surdos do Pólo Sul doerem. 
- COMO É QUE É?! 
Pulei de susto, com os olhos fechados, e assim que os abri, me deparei com dois olhos esbugalhados me encarando ansiosamente. 
- É isso mesmo que você ouviu – confirmei, com mais medo dela que de qualquer filme de terror que já tinha visto. Sophia levou mais alguns segundos absorvendo aquela informação, e voltou a gritar: 
- DESDE QUANDO ISSO?! 
- Pára de gritar, criatura! – pedi, desesperada, cobrindo sua boca com uma das mãos, e hesitei antes de responder – Há algum tempo. 
- Quanto tempo? – ela insistiu, voltando a usar sua voz no volume normal, e eu tive que falar, com uma careta: 
- Umas três semanas. 
- O QUE?! 
- Cala a boca, pelo amor de Deus! – implorei, me jogando em cima dela com as duas mãos tapando sua boca e impedindo-a de emitir qualquer som – Desculpa não ter te contado antes, eu sei que não devia ter escondido uma coisa dessas de você… 
- Não devia mesmo! – Sophia me interrompeu, dando um jeito de se livrar de mim e parecendo muito mais do que bastante chocada – Mas já que só resolveu falar agora, pode ir contando tudo! Como é que uma loucura dessas foi acontecer? 
Resumi tudo que tinha acontecido entre eu e Mica pra ela em uns quinze minutos, desde o dia no anfiteatro até seu convite pra conhecer sua casa hoje. 
- E eu preciso da sua ajuda – encerrei, aflita – Eu vou falar pra minha mãe que vou sair com você pra dar uma volta hoje à tarde e preciso que você me dê cobertura. 
- Mas você vai mesmo à casa dele? – ela perguntou, preocupada – Quer dizer, vai que ele é um pedófilo assassino que tira fotos pornográficas pra colocar na Internet? 
- Estamos falando do Borges, não do Aguiar, esqueceu? – falei, revirando os olhos – Por favor, Sophia, eu preciso muito da sua ajuda. 
- Eu não ligo de te fazer esse favor, mas eu só quero que você tome cuidado, ouviu bem? – ela concordou, e dois segundos depois eu estava agarrada em seu pescoço agradecendo de todas as formas que eu conhecia – E tenha juízo, pelo amor de Deus! Se você me aparecer grávida, eu mato você, a criança e o aparelho reprodutor do sr. Borges, tá escutando? 
- Pode deixar, Sophia – eu ri, me levantando depressa e abrindo meu guarda-roupa – Agora me ajuda aqui, vai. Não faço idéia do que vestir. 
- Qualquer coisa que te cubra direitinho tá ótimo – ela ordenou, se levantando com a maior cara de mãe coruja e me fazendo rir mais – Se bem que te cobrir agora não vai adiantar nada, provavelmente ele vai acabar descobrindo tudo depois. 

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