quarta-feira, 30 de novembro de 2011

WEB LuAr - Capítulo 3 / Parte final :

 
Quando voltei pra sala de aula, todo mundo já tinha acabado a prova, e se amontoava sobre a mesa do professor pra vê-lo corrigir as avaliações. Sem um pingo de interesse em minha nota naquele momento e feliz por conseguir entrar na sala sem ser notada, apenas me sentei em minha carteira, com o olhar perdido na lousa vazia. Eu ainda conseguia sentir o perfume dele ao meu redor, como se estivesse impregnado em mim. Seria difícil acalmar meu coração e não pensar naqueles olhos pretos, naqueles lábios maravilhosos, naquele corpo divino… Não tinha como não pensar nele. 
O sinal logo tocou, anunciando o intervalo, e eu me esforcei pra não sorrir demais enquanto conversava com Sophia e descia as escadas rumo ao pátio. Não só pra não dar muita bandeira, mas também porque Mica estava a poucos metros da gente, descendo lentamente as escadas e conversando animadamente com um inspetor. Eu e Sophia acabamos encontrando uma brecha logo à frente, e aceleramos a descida, passando bem perto dele. Meu ombro acabou relando em seu braço sem querer (tá, nem tão sem querer assim), e ele se virou pra pedir desculpas pelo esbarrão. Assim que nossos olhares se encontraram, abri um sorriso tímido, enquanto ele apenas disfarçou, e continuamos andando cada um pro seu canto, como se fôssemos apenas professor e aluna. 
- Hoje eu tenho aula com ele e você nã-ão! – Sophia murmurou, rindo assim que nos afastamos dele – Chupa essa manga, meu bem. 
- Tudo bem, minha aula com ele ainda vai chegar – sorri, me controlando pra não desembuchar tudo - Pena que a aula do Aguiar venha logo depois da dele. 
- Também te amo, Messi – ouvi uma voz masculina dizer bem atrás de mim, e logo vi meu querido professor de biologia laboratório passar ao meu lado, com um sorrisinho sedutor. Um calafrio percorreu minha espinha ao ouvir sua voz tão perto de mim do nada, arrepiando meus cabelos da nuca. Tudo que consegui foi fazer uma cara de tacho e continuar andando, tentando ignorar a presença daquele troglodita. 
- Legal, agora ele vai ficar achando que a gente só sabe falar de professores, especialmente dele – Sophia resmungou, coberta de razão. Do jeito que o Aguiar era, já devia estar se sentindo o rei da cocada preta. 
- Não ligo pro que ele acha ou deixa de achar – falei, revirando os olhos com uma certa frustração por ele ter ouvido meu comentário – Ele é um merda mesmo. 
Nos sentamos em qualquer canto da escola, sem muito assunto pra conversar. Na verdade, Sophia até tentava puxar conversa, mas eu estava me sentindo tão estranha que minhas respostas eram monossilábicas. Eu estava radiante por tudo que estava acontecendo entre eu e Mica, mas percebi que bastava ouvir a voz do Aguiar que um medo tomava conta de mim, como se ele pudesse de alguma forma arruinar tudo. Sei lá, eles eram amigos, e essa amizade me perturbava um pouco. E se ele resolvesse contar ao Mica sobre o beijo no elevador e inventar coisas ruins sobre mim? Pior, e se Mica acreditasse nele? Pra ter uma relação mais íntima do que o normal comigo, o sr. Borges devia ter uma confiança considerável em mim, mas eu não tinha certeza da proximidade dele com o professor Aguiar pra me sentir realmente segura. 
- O que deu em você hoje, hein? – ouvi Sophia perguntar, com a voz irritada – Tá tão quieta, tão esquisita… Aconteceu alguma coisa? 
- Não – menti, sorrindo fraco – Tô com um pouco de sono, só isso. 
- Se você acha que eu acredito nisso, tudo bem – ela reclamou, erguendo uma sobrancelha. Droga, às vezes eu esqueço que ela me conhece desde que nasci, ou seja, bem até demais. 
- Caramba, já falei que é só sono – repeti, começando a ficar impaciente – Não posso mais ter sono agora? 
Sophia deu de ombros, desistindo, e eu suspirei profundamente. Era um saco ter que mentir pra ela, afinal, a gente sempre contava tudo uma pra outra, mas eu realmente preferia guardar aquele segredo. Tinha medo do que ela poderia pensar de mim se soubesse que eu e o Mica estávamos, erm, nos relacionando intimamente. 
- Foi mal, tá? – bufei, vendo a tromba que ela tinha feito por causa da minha resposta atravessada – Você sabe que eu com sono fico a maior grosseirona, ainda mais com você me enchendo de perguntas. 
- Se eu não tivesse aula com o Borges daqui a pouco, não te desculpava, mas como hoje eu tô de bom humor por razões óbvias, tudo bem – ela sorriu, danada, me fazendo empurrá-la de leve e rir. Sei lá por que eu ri, talvez eu seja estranha mesmo e goste de ouvir minha melhor amiga dizer que o cara que eu tô pegando a deixa de bom humor. Ou talvez pra tentar afastar a inútil existência de Arthur Aguiar da minha memória. 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário