- Deixa pra lá – pedi, ainda um pouco atordoada, enquanto parávamos à frente do elevador. Amy já não estava mais conosco; eu mal a havia visto deixar a sala, mas não me importava muito com seu paradeiro. Ela já havia ajudado bastante para uma simples colega distante, e eu preferia agradecê-la num dia menos atribulado.
- Claro que não, é um absurdo um homem feito ser tão mal educado a esse ponto! – mamãe interferiu, apertando o botão do elevador com uma força excessiva – Ele errou tanto quanto você e ainda quer agir feito o dono da verdade? Oras!
Respirei fundo, tentando aliviar um pouco o peso da preocupação em minha cabeça. Não precisei de muito tempo para deduzir que a única coisa que me traria um pouco de satisfação seria saber que esquema havia sido armado para que até minha mãe surgisse na diretoria na hora certa. Precisei de menos tempo ainda para disparar tal pergunta.
– Será que agora alguém pode me explicar o plano maligno?
- Maligno? Só se for pro Mica, amiga! – Sophia reivindicou, fazendo cara de brava, e eu sorri discretamente, ouvindo Thur e mamãe soltarem risinhos baixos – Não foi plano maligno nenhum, apenas coincidências convenientes. Eu cheguei cedo e resolvi subir para estudar um pouco. No caminho, encontrei o Thur, e ele me contou que a diretora o havia chamado à sala dela.
- Eu já sabia o que ela queria, porque vi Maria e Mica chegarem mais cedo que o normal e subirem juntos, aos sussurros… Obviamente, fiquei desconfiado – Thur continuou, aproveitando-se da pausa de Sophia - Quando o inspetor veio me chamar, poucos minutos depois, foi só ligar os fatos.
- Ele me disse o que estava acontecendo antes de entrar na diretoria e me pediu para avisar sua mãe – Sophia retomou, me fazendo sentir num desses filmes em que todas as armações são rapidamente reveladas uma atrás da outra no final – Liguei pra sua mãe, e como ela ainda estava em casa, pedi que ela trouxesse os bilhetes que você guardava na gaveta do criado-mudo. Enquanto isso, revirei o colégio procurando a Amy, porque já sabia que ela podia ajudar, e a convenci a vir comigo.
- Como você descobriu que ela sabia daquilo? – perguntei, um tanto chocada; eu realmente estava por fora dos acontecimentos – E por que não me contou?
- Na verdade, a própria Amy veio me contar, mas só há pouco tempo – ela respondeu, e eu arregalei os olhos – Disse que estava preocupada com você, mesmo sem te conhecer direito, e não sabia se eu estava por dentro da história. Eu não te contei porque você já estava com a cabeça cheia, e ela prometeu não contar a ninguém. Vamos combinar, a quem ela se sentiria interessada a contar isso? Ela nem sequer fala com as pessoas!
- Foi um risco mesmo assim – comentei, ainda sem acreditar na participação de Amy naquele rolo – Bom… De qualquer forma, já passou.
- Preciso voltar pra sala, mas antes passo na sua e pego seu material, está bem? – Sophia disse quando o elevador finalmente chegou, e eu agradeci com um sorrisinho fraco, aliviada por não precisar passar pelas piranhas amigas de Maria e ouvir mais alguma gracinha a meu respeito - Me esperem na saída.
Ela subiu rapidamente os degraus, deixando que eu, Thur e mamãe seguíssemos a direção oposta de elevador.
- Os bilhetes e os nossos testemunhos são fortes demais contra os argumentos dele e a falsa acusação da Maria – Thur opinou enquanto descíamos, e mesmo que eu concordasse com ele, estava insegura demais para conseguir externar isso – A sua mãe saber de tudo e vir aqui te defender rendeu muitos pontos a seu favor.
- Tem razão – assenti, olhando para mamãe e vendo-a sorrir calmamente – Obrigada por estar me apoiando… Mesmo que eu não esteja exatamente merecendo isso dessa vez.
- O que foi que eu te disse ontem? – ela perguntou, me abraçando e logo depois apertando meu nariz, o que fez com que Thur risse de minha careta involuntária – Desde que você não queira fugir para um trailer no Colorado, te dou meu apoio.
- Não era no Texas? – corrigi, sorrindo, e ela parou por um momento, pensando no caso.
- Os dois, na verdade – ela riu, e eu fiz o mesmo – Por acaso, você não tem um trailer, certo, Thur?
- Não, fique tranqüila – ele respondeu, e eu me lembrei de outra dúvida que surgira em minha cabeça dentro da diretoria.
- Aliás… Quando vocês dois se conheceram? – cochichei, temendo ser ouvida por pessoas desagradáveis enquanto atravessávamos o pátio rumo à saída da escola – Foi um tanto chocante ver os dois se cumprimentando como se fossem amigos lá dentro.
- Hm… Na verdade, nós não nos conhecemos – mamãe explicou, olhando para Thur e sorrindo de um jeito simpático – Mas eu deduzi quem ele era assim que cheguei, porque o outro estava com aquela garota pendurada no ombro. Logo, o que sobrou só podia ser o tal Thur Aguiar. Foi aí que eu quis quebrar as pernas de todo mundo e cumprimentá-lo como se já nos conhecêssemos. Graças a Deus ele entendeu e entrou na encenação e a diretora ficou de queixo caído com a nossa suposta familiaridade. Foi arriscado, mas funcionou, e a propósito, obrigada!
- De nada – Thur riu, me deixando ainda mais impressionada com o esquema habilmente improvisado ao meu redor sem que eu sequer me desse conta dele – Foi uma idéia brilhante, sra.Messi.
- Mães se tornam gênios quando precisam defender os filhos – ela riu, e subitamente começou a revirar sua bolsa, como se seu celular estivesse tocando; e de fato, estava – Com licença, é do trabalho, preciso atender.
Mamãe se afastou um pouco, parando na calçada a alguns metros de nós, e assim que não era mais capaz de nos ouvir, Thur sussurrou ao pé de meu ouvido:
– Você está bem?
Suspirei, virando-me de frente para ele, e só quando meus olhos focalizaram os seus me dei conta do quanto aquela manhã havia sido tensa.
- Eu não sei – respondi, sendo bastante honesta – Tudo está se atropelando dentro da minha cabeça.
- É compreensível, foram emoções demais em pouco tempo – ele murmurou, acariciando meus ombros discretamente.
- Principalmente surpresas – ressaltei, arregalando um pouco os olhos ao me recordar de todas as barbaridades e choques pelos quais havia passado – Mal dá pra enxergar o antigo Mica no de agora… Desde as atitudes até a fisionomia, tudo está diferente. Isso me assusta.
- Não precisa ficar assustada, não temos de que ter medo – ele murmurou, dando-me uma injeção de positivismo através de seu olhar e tom de voz – Olhe só a quantidade de evidências que apresentamos, contra apenas o suposto testemunho de Maria! Além do mais, não temos nada a perder. Você se forma daqui a praticamente um mês, já tem notas boas o bastante para ser aprovada… E eu não faço mais questão de trabalhar aqui mesmo.
CONTINUA.....
- Claro que não, é um absurdo um homem feito ser tão mal educado a esse ponto! – mamãe interferiu, apertando o botão do elevador com uma força excessiva – Ele errou tanto quanto você e ainda quer agir feito o dono da verdade? Oras!
Respirei fundo, tentando aliviar um pouco o peso da preocupação em minha cabeça. Não precisei de muito tempo para deduzir que a única coisa que me traria um pouco de satisfação seria saber que esquema havia sido armado para que até minha mãe surgisse na diretoria na hora certa. Precisei de menos tempo ainda para disparar tal pergunta.
– Será que agora alguém pode me explicar o plano maligno?
- Maligno? Só se for pro Mica, amiga! – Sophia reivindicou, fazendo cara de brava, e eu sorri discretamente, ouvindo Thur e mamãe soltarem risinhos baixos – Não foi plano maligno nenhum, apenas coincidências convenientes. Eu cheguei cedo e resolvi subir para estudar um pouco. No caminho, encontrei o Thur, e ele me contou que a diretora o havia chamado à sala dela.
- Eu já sabia o que ela queria, porque vi Maria e Mica chegarem mais cedo que o normal e subirem juntos, aos sussurros… Obviamente, fiquei desconfiado – Thur continuou, aproveitando-se da pausa de Sophia - Quando o inspetor veio me chamar, poucos minutos depois, foi só ligar os fatos.
- Ele me disse o que estava acontecendo antes de entrar na diretoria e me pediu para avisar sua mãe – Sophia retomou, me fazendo sentir num desses filmes em que todas as armações são rapidamente reveladas uma atrás da outra no final – Liguei pra sua mãe, e como ela ainda estava em casa, pedi que ela trouxesse os bilhetes que você guardava na gaveta do criado-mudo. Enquanto isso, revirei o colégio procurando a Amy, porque já sabia que ela podia ajudar, e a convenci a vir comigo.
- Como você descobriu que ela sabia daquilo? – perguntei, um tanto chocada; eu realmente estava por fora dos acontecimentos – E por que não me contou?
- Na verdade, a própria Amy veio me contar, mas só há pouco tempo – ela respondeu, e eu arregalei os olhos – Disse que estava preocupada com você, mesmo sem te conhecer direito, e não sabia se eu estava por dentro da história. Eu não te contei porque você já estava com a cabeça cheia, e ela prometeu não contar a ninguém. Vamos combinar, a quem ela se sentiria interessada a contar isso? Ela nem sequer fala com as pessoas!
- Foi um risco mesmo assim – comentei, ainda sem acreditar na participação de Amy naquele rolo – Bom… De qualquer forma, já passou.
- Preciso voltar pra sala, mas antes passo na sua e pego seu material, está bem? – Sophia disse quando o elevador finalmente chegou, e eu agradeci com um sorrisinho fraco, aliviada por não precisar passar pelas piranhas amigas de Maria e ouvir mais alguma gracinha a meu respeito - Me esperem na saída.
Ela subiu rapidamente os degraus, deixando que eu, Thur e mamãe seguíssemos a direção oposta de elevador.
- Os bilhetes e os nossos testemunhos são fortes demais contra os argumentos dele e a falsa acusação da Maria – Thur opinou enquanto descíamos, e mesmo que eu concordasse com ele, estava insegura demais para conseguir externar isso – A sua mãe saber de tudo e vir aqui te defender rendeu muitos pontos a seu favor.
- Tem razão – assenti, olhando para mamãe e vendo-a sorrir calmamente – Obrigada por estar me apoiando… Mesmo que eu não esteja exatamente merecendo isso dessa vez.
- O que foi que eu te disse ontem? – ela perguntou, me abraçando e logo depois apertando meu nariz, o que fez com que Thur risse de minha careta involuntária – Desde que você não queira fugir para um trailer no Colorado, te dou meu apoio.
- Não era no Texas? – corrigi, sorrindo, e ela parou por um momento, pensando no caso.
- Os dois, na verdade – ela riu, e eu fiz o mesmo – Por acaso, você não tem um trailer, certo, Thur?
- Não, fique tranqüila – ele respondeu, e eu me lembrei de outra dúvida que surgira em minha cabeça dentro da diretoria.
- Aliás… Quando vocês dois se conheceram? – cochichei, temendo ser ouvida por pessoas desagradáveis enquanto atravessávamos o pátio rumo à saída da escola – Foi um tanto chocante ver os dois se cumprimentando como se fossem amigos lá dentro.
- Hm… Na verdade, nós não nos conhecemos – mamãe explicou, olhando para Thur e sorrindo de um jeito simpático – Mas eu deduzi quem ele era assim que cheguei, porque o outro estava com aquela garota pendurada no ombro. Logo, o que sobrou só podia ser o tal Thur Aguiar. Foi aí que eu quis quebrar as pernas de todo mundo e cumprimentá-lo como se já nos conhecêssemos. Graças a Deus ele entendeu e entrou na encenação e a diretora ficou de queixo caído com a nossa suposta familiaridade. Foi arriscado, mas funcionou, e a propósito, obrigada!
- De nada – Thur riu, me deixando ainda mais impressionada com o esquema habilmente improvisado ao meu redor sem que eu sequer me desse conta dele – Foi uma idéia brilhante, sra.Messi.
- Mães se tornam gênios quando precisam defender os filhos – ela riu, e subitamente começou a revirar sua bolsa, como se seu celular estivesse tocando; e de fato, estava – Com licença, é do trabalho, preciso atender.
Mamãe se afastou um pouco, parando na calçada a alguns metros de nós, e assim que não era mais capaz de nos ouvir, Thur sussurrou ao pé de meu ouvido:
– Você está bem?
Suspirei, virando-me de frente para ele, e só quando meus olhos focalizaram os seus me dei conta do quanto aquela manhã havia sido tensa.
- Eu não sei – respondi, sendo bastante honesta – Tudo está se atropelando dentro da minha cabeça.
- É compreensível, foram emoções demais em pouco tempo – ele murmurou, acariciando meus ombros discretamente.
- Principalmente surpresas – ressaltei, arregalando um pouco os olhos ao me recordar de todas as barbaridades e choques pelos quais havia passado – Mal dá pra enxergar o antigo Mica no de agora… Desde as atitudes até a fisionomia, tudo está diferente. Isso me assusta.
- Não precisa ficar assustada, não temos de que ter medo – ele murmurou, dando-me uma injeção de positivismo através de seu olhar e tom de voz – Olhe só a quantidade de evidências que apresentamos, contra apenas o suposto testemunho de Maria! Além do mais, não temos nada a perder. Você se forma daqui a praticamente um mês, já tem notas boas o bastante para ser aprovada… E eu não faço mais questão de trabalhar aqui mesmo.
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