- Você canta bonitinho – ele comentou, fazendo-me abrir os olhos e deparar-me com sua expressão serena. Franzi a testa, duvidando de sua sinceridade.
- Só você, minha mãe e a Sophia acham – sorri, percebendo que ele não havia sido irônico.
- Bom, eu sou suspeito pra falar… Acho tudo o que você faz bonitinho – Thur suspirou, observando o resto das pessoas ao nosso redor para disfarçar a timidez ao pronunciar sua confissão – Até a cara que você faz quando tá prestando atenção na TV.
Dei um sorriso envergonhado, acompanhando o movimento de seu braço e rodopiando conforme ele me girava.
- Você tem essa mania adorável de ficar me encarando quando eu tô distraída – observei, sarcástica, recebendo um sorriso sem vergonha em resposta – Mas talvez estejamos quites… Eu também adoro ver você se arrumando na frente do espelho. A cara que você faz quando olha seu reflexo é tão… Sexy.
- É porque eu me amo – ele disse, sério, e eu caí na gargalhada – Quando me vejo no espelho, quase tenho um orgasmo.
- Quando eu te vejo na frente do espelho, quase tenho um orgasmo, isso sim – corrigi, e dessa vez foi ele quem riu.
A festa passou relativamente rápido, graças ao DJ digno e ao grande número de músicas conhecidas que ele tocara. Dancei feito uma desvairada com Sophia, e de vez em quando, com Chay, que adorava atiçar as línguas maldosas da escola que o tachavam de homossexual e entrava na nossa onda. Mal sabiam elas o que ele e Sophia eram capazes de fazer num espaço vazio onde não fosse proibido ficar nu.
Aproveitei muito a presença de Thur também. Não era difícil me encontrar sentada em seu colo, com as pernas cruzadas elegantemente enquanto sussurrava provocações nada elegantes em seu ouvido, ou então conversando e nos agarrando um pouquinho no bar enquanto aguardávamos nossas bebidas.
É, acho que eu estava me divertindo.
Até minha grande sorte colaborar comigo, e reverter a situação. Ou talvez, intensificá-la.
Thur havia ido ao bar pedir mais uma bebida, e eu fiquei observando-o da mesa, falando sem parar com Sophia e Chay. Bastou um minuto de distração para que meus olhos o flagrassem conversando com um elemento loiro cujos cílios pareciam aberrações de tão gigantes, devido aos quilos de rímel.
- Roberta… Acaba com ela pra mim, por favor? – Sophia sorriu, falsa, ao ver exatamente o mesmo que eu. Respirei fundo, retribuindo sua expressão, e me levantei.
- Chay, meu querido… Você que tem essa mania irremediável de andar com chicletes nos bolsos desde a quarta série – falei, sem tirar os olhos de Thur, que agora dava um sorrisinho ácido para a garota (e se eu o conhecia tão bem quanto imaginava, ele devia, no mínimo, estar chutando a cara dela em pensamento) – Faça sua amiga feliz e diga que você tem pelo menos um no bolso.
- Se você quer fazer mesmo o que eu tô pensando, eu tenho – Chay respondeu imediatamente, e eu apenas estendi a mão, piscando para ele – E vê se faz direito, hein?
Soltei um risinho malvado, pegando o chiclete e mascando-o rapidamente enquanto me dirigia até o bar. Se Maria queria uma noite inesquecível, ela definitivamente o teria.
- Boa noite – falei, com a voz calma, aproximando-me de Thur e embrenhando-me em seu abraço, que já aguardava discretamente por mim há alguns segundos.
- Boa noite, sra. Aguiar – Maria respondeu, no mesmo nível de falsidade que eu, e não manteve seus olhos em mim por mais que dois segundos, voltando a fixá-los em Thur – Não esperava que vocês viessem… Especialmente você, Roberta. Que coragem.
- Por que eu não viria à minha própria formatura? – alfinetei, vendo Thur tomar um gole de sua bebida e me oferecer logo em seguida – Não, obrigada. Prefiro estar sóbria para presenciar essa nossa maravilhosa conversa.
- Eu não – Thur confessou, dando um risinho medíocre e ocupando seus lábios com o álcool. Não pude evitar acompanhá-lo na cara de deboche, e ainda por cima fiz uma bola com o chiclete que mascava, no maior estilo vadia de luxo.
- Vocês se acham imbatíveis, não é mesmo? – Maria suspirou, fraquejando um pouco em sua firme expressão simpática – Que esse romance perfeito vai durar pra sempre.
- O que nós achamos não lhe convém – rebati, incisiva, porém sorri amigavelmente em seguida – Tudo o que lhe convém é que sim, estamos num romance perfeito. E você só não se mata de tanta inveja agora mesmo porque cometer suicídio é algo complicado demais para alguém tão intelectualmente incapacitado.
- Adolf Hitler de pernas depiladas, vamos embora – Thur sugeriu perto de meu ouvido, prendendo seu riso com toda a força – Hoje é uma noite de festa, não vamos nos desgastar.
- Desgastar? Quem está se desgastando aqui? – perguntei, vendo a raiva arder nos olhos de Maria, e somente para provocá-la ainda mais, me dei ao luxo de soltar uma risadinha relaxada – A festa não poderia ter sido melhor!
- Some daqui, garota – Maria rosnou, com a voz trêmula, e eu arqueei uma sobrancelha, segurando um sorriso pretensioso com dificuldade. Fiz uma breve reverência, vendo Thur dar um sorriso divertido, e me preparei para o melhor momento da festa. O gran finale ainda estava por vir.
- Eu espero sinceramente que você não volte a nos incomodar – murmurei, dando um passo em sua direção e adotando uma postura ameaçadora, sem abrir mão da expressão carismática - E como eu não tenho a menor confiança em você, vou me prevenir para que isso não aconteça, antes mesmo de você sequer pensar em chegar perto de nós dois outra vez.
Maria franziu a testa, ultrajada, e eu rapidamente tirei o chiclete de minha boca, colocando-o no topo de sua cabeça e esmagando-o para que aderisse mais aos fios. Ela soltou um grito apavorado, digno de filme de terror, e eu apenas lhe dei as costas, caminhando na direção oposta e sendo seguida por Thur, que ria sem parar.
- Ela vai ficar traumatizada com chicletes a partir de hoje – ele disse, olhando para trás e rindo do que via – Vai ser o holocausto até ela conseguir tirar aquilo do cabelo!
- Oras… Você tinha me chamado de quê mesmo? – perguntei, fazendo-me de desentendida – Adolf Hitler de pernas depiladas? Pois é… Adoro um holocausto!
Thur apenas me encarou com os olhos cerrados devido à minha piada infame, mas se rendeu às minhas gargalhadas, continuando comigo o trajeto até a mesa.
- Eu já disse que sou sua fã? – Sophia falou, mal conseguindo respirar.
- A gente devia ter filmado a cara dela! – Chay acrescentou, roxo de tanto rir.
- Roberta, como você tem amigos malvados – Thur censurou, fingindo seriedade com muito esforço, porém logo caiu na gargalhada ao ver Maria a alguns metros, correndo até sua mãe aos prantos com as mãos na cabeça. Acho que ela estava tão mais preocupada em desgrudar o chiclete de seu cabelo que me levar ao óbito (ou pelo menos tentar) ficara em segundo plano na sua lista de afazeres.
Vejamos… Agora acho que posso concluir. Festas de formatura deliciosas e com vingança triunfal: confere.
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