quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Continuação: WEB LuAr - Capítulo 32 / Parte 7 :

Meus olhos estavam bem abertos e fixos em seu rosto, agora com um sorrisinho congelado que aos poucos se desfazia. Minha garganta fechou, meu coração batia freneticamente, minha respiração havia parado por alguns segundos, mas tudo que eu conseguia fazer era encarar mamãe, esperando que a ficha caísse.
Imaginei que ela levaria algum tempo para absorver o impacto.
- Uau… Isso… Isso é verdade? – ela riu, bastante chocada, mas ainda não havia repreensão em sua voz – Você está mesmo namorando seu professor?
Nervosa demais para abrir a boca, apenas assenti.
O sorriso de mamãe não desapareceu de vez assim que reafirmei minha revelação, como eu imaginei que desapareceria. Por um segundo, cogitei a hipótese de minha mãe estar usando drogas.
- Quantos anos ele tem? – ela perguntou, cerrando os olhos de uma forma interessada. O que diabos estava acontecendo? Cogumelos alucinógenos no cardápio da empresa?
- Trinta – respondi, vendo-a assentir devagar, processando a informação, e a poupei do cálculo - Ele é treze anos mais velho que eu.
Mamãe ficou em silêncio por alguns segundos, e eu não ousei quebrá-lo. Eu temia ser atacada a qualquer segundo, por isso me mantive na defensiva. Aquela reação inicialmente conformada não era a que eu estava esperando, me colocava em território completamente desconhecido.
- Há quanto tempo? – ela indagou, mantendo a bizarra naturalidade – Digo, há quanto tempo vocês estão namorando?
- Quase dois meses – falei, mal conseguindo piscar de tão alerta. Onde estava o momento em que ela se jogaria sobre mim e arrancaria todos os meus cílios com uma pinça? A qualquer momento agora, talvez.
- Hm… – ela voltou a assentir, e ergueu rapidamente as sobrancelhas – Ele é um bom rapaz? Quer dizer… Homem? Argh, isso é esquisito… Você entendeu.
Franzi a testa, sem saber como respondê-la. Eu estava completamente desprevenida.
- Erm… Que eu saiba, sim – balbuciei, vendo-a me olhar como se estivéssemos conversando sobre os bíceps do vizinho gostoso – Ele é bastante, hm… Gentil.
Ah, tá. Gentil não era um adjetivo exatamente abrangente para descrever Thur, mesmo que ele tivesse seus momentos. Mas tudo bem, eu estava ocupada demais tentando decifrar a reação de mamãe para pensar naquilo.
- Isso é bom… Gentileza é importante – ela comentou, aproximando-se de mim sem pressa, e eu me preparei para perder um braço no maior estilo Kill Bill ou algo parecido – Imagino que vocês já… Bem, vocês já dormiram juntos, certo?
- Mãe… Aonde você quer chegar? – perguntei, sem conseguir mais controlar meu nervosismo e me sentindo horrivelmente desconfortável com o rumo da conversa – Por que todas essas perguntas? Quer dizer… Eu estava esperando uma reação muito mais…
- Violenta? – ela completou, esboçando um sorrisinho quase divertido, e eu apenas pisquei algumas vezes, sem saber o que pensar.
- Talvez – confessei, completamente confusa. Mamãe fechou os olhos por alguns segundos, soltando um risinho, e segurou minhas mãos, levando-me para o sofá, onde nos sentamos.
- Eu imagino o quão estressantes esses dois últimos meses devem ter sido pra você, querida – ela suspirou, colocando minhas mãos entre as suas e me olhando com compreensão – Mas não precisava ter sido desse jeito. Fico muito feliz por você ter me contado hoje, foi muito corajoso da sua parte… No entanto, preciso confessar que já desconfiava de que havia algo por trás das temporadas na casa da Sophia.
Esbocei um sorrisinho extremamente sem graça, sentindo minhas bochechas esquentarem, e mamãe me lançou um olhar empático. Aquilo estava realmente acontecendo ou eu havia desmaiado e estava delirando?
- Nós, mães, criamos nossos filhos para o mundo – ela prosseguiu, alternando olhares entre nossas mãos e meu rosto – Com você não é diferente. A cada dia que passa, eu me dou conta de que você é menos minha e mais sua… A cada dia, o seu espaço e a sua privacidade se tornam muito maiores do que eu jamais vou poder acompanhar, e eu entendo isso. É completamente normal e saudável que você amadureça dessa forma. Enfim, o que eu quero dizer com todo esse papo furado é que eu agradeço por você ter me contado, muito mesmo. Apesar de saber que eu poderia sentir muita raiva, você não fugiu de mim, porque temos muita confiança uma na outra. E essa é uma das maiores lições que uma mãe pode ensinar a um filho. Estou orgulhosa dessa prova de que você está amadurecendo… Deixando de ser a minha garotinha para se tornar uma mulher independente, que sabe o que é melhor pra si.
Mamãe manteve o sorriso compreensivo, e só então eu me dei conta de que tinha chances concretas de continuar viva e inteira após aquela conversa. Toda a tensão daqueles últimos tempos estava se esvaindo lentamente, e eu me sentia mais leve a cada segundo. O apoio dela era tudo o que eu precisava para ser verdadeiramente feliz, e agora que eu o estava recebendo, todos os problemas pareciam cada vez menores.
- Obviamente, eu estou morrendo de medo disso – ela confessou, e ambas sorrimos de um jeito nervoso – Eu posso ser bastante liberal, mas ainda sou mãe, e mães têm uma certa fobia em relação a tudo que possa representar perigo para seus filhos. Portanto, sim, eu estou muito assustada com o fator idade e pretendo conhecer e investigar direitinho esse seu namorado. Mas eu não posso simplesmente enfiar a mão na sua cara e te botar pra fora de casa por causa disso… Sabe por quê?
Neguei com a cabeça, focando toda a minha atenção em suas palavras, e ela continuou:
- Porque a primeira coisa que você faria seria procurá-lo… Estou errada?
Sorri junto com ela, totalmente desconcertada, e neguei novamente.
- Qual seria a minha atitude como mãe deixando minha filha nas mãos de um homem que eu não conheço? – ela perguntou, erguendo as sobrancelhas e entortando a boca por alguns segundos – Eu seria uma completa desnaturada, sem dúvida alguma. Não é certo te punir por gostar de alguém mais velho. O amor não escolhe endereço, sexo, religião… Muito menos idade. E eu sei muito bem disso.
- Sabe? – murmurei, intrigada, e ela assentiu com um sorriso.
- Acha que nunca me apaixonei por um professor? – mamãe riu, e eu a acompanhei – É claro que já. Várias vezes, por sinal. Chorava porque eles nunca me notavam, me derretia toda só de conversar com eles, até tinha vergonha de simplesmente olhar pra eles… Acredite, eu era patética. E assim como nós duas, praticamente toda garota se apaixona loucamente por um professor. Faz parte da explosão de hormônios que acontece na adolescência.
Concordei com a cabeça, apertando sua mão e sentindo como se um peso enorme tivesse sumido de meus ombros.
- Além do mais, seu pai é oito anos mais velho que eu, esqueceu? – ela ressaltou, e eu ergui as sobrancelhas, só então me recordando disso – Quando nos conhecemos, eu tinha 19 e ele, 27. Mesmo com nossa diferença nem tão significativa aparentemente, enfrentamos um certo preconceito. Sua avó não aceitou durante os primeiros meses, mas quando eu disse que iríamos nos casar, dois anos depois, ela percebeu que nós nos amávamos de verdade e passou a aceitar muito bem os oito anos entre nós.
Assenti, refletindo sobre o que ela havia dito. Naquele momento, imaginei como estaria meu pai em Aberdeen, casado com sua nova esposa após a separação de mamãe.
Provavelmente, lidando muito bem com os dez anos de diferença entre ele e minha madrasta. O pensamento me fez sorrir, e me lembrou de que eu estava devendo uma visita a eles desde as férias de verão passadas.
- Obrigada por me compreender – agradeci baixinho, encarando-a com toda a minha sinceridade e gratidão – Eu juro que quis te contar desde o princípio, mas tive muito medo.
- Não precisa se desculpar, meu amor – ela disse, sorrindo compreensivamente – Namorado nenhum nesse mundo vai te amar mais do que eu, portanto confie em mim pra tudo, eu vou te apoiar seja no que for. Até mesmo se estiver grávida, usando drogas… Mas quanto à parte do trailer no Texas, nem pensar.
- Obrigada – falei, dando risada de sua careta ao finalizar a frase, e ela se empertigou no sofá, como se estivesse embaraçada com o que estava prestes a dizer.
- Já que estamos resolvidas quanto a isso… E se você me perdoa a curiosidade, eu… Bem, eu quero saber de tudo – mamãe confessou, dando um sorrisinho sem graça, e eu engoli em seco – Como começou, o que aconteceu… Só corte os detalhes mais sórdidos, por favor.
Hesitei antes de respondê-la. Talvez o pior ainda estivesse por vir.
- Eu não sei se você vai gostar disso… – respirei fundo, resgatando minha coragem e determinação para narrar os verdadeiros acontecimentos dos últimos meses, até mesmo os menos gloriosos – Mas eu prometi a mim mesma que você saberia de tudo por mim, antes de possivelmente ouvir versões de outras pessoas.
Mamãe franziu a testa diante de minha seriedade, e eu comecei.
Expliquei toda a história, desde breves perfis dos dois até os recentes acontecimentos em relação ao meu rompimento com Mica. Não alterei nenhum detalhe, determinada a ser totalmente verdadeira com mamãe. Mesmo tendo demonstrado muita compreensão, eu não sabia como ela reagiria diante de todas aquelas revelações, e eu não pretendia mais mentir para ninguém. Muito menos para ela. Mesmo que isso fosse mudar completamente sua reação diante da situação.
- Deixe-me ver se entendi direito – ela disse, quando eu terminei de falar, concentrada em organizar os fatos em sua mente – Você namorou por um tempo com um, mas acabou traindo-o com o outro e se apaixonando por ele. Quando você já não agüentava mais toda essa culpa e estava finalmente disposta a ficar apenas com o amante, descobriu que o outro um tinha uma noiva desde o começo, e agora ele está disposto a tudo para te prejudicar porque descobriu que estava sendo traído?
- Basicamente, sim – assenti, levando alguns segundos para compreender o resumo confuso que ela havia feito e sentindo-me novamente nervosa diante dela. Agora sim eu estava quase certa de que receberia alguns golpes de luta livre ou seria submetida a algum tipo de tortura chinesa.
Mamãe ficou quieta por alguns minutos, compenetrada em algo que eu não estava enxergando na altura de seu joelho, e eu não ousei interromper seu devaneio. Era informação demais para uma noite só.

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