segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

WEB LuAr - Capítulo 32 / Parte 5 :



- Essa recepção com certeza compensou a entrada não triunfal – Thur sorriu ao afastar nossos lábios, e eu retribuí, sentindo meu rosto corar de leve – Mas não matou a minha saudade ainda. 
- Ah, não? – balbuciei, ainda zonza, vendo-o sorrir ainda mais e cerrar os olhos pra mim – Acha que devíamos fazer de novo? 
- E de novo – ele disse, roubando-me um selinho a cada vez que falava – E de novo… E outra vez… E mais uma. 
- Pare de abusar de mim, eu estou sensível – fechei os olhos ao senti-lo sugar meu lábio inferior, o que fez com que de repente a sala começasse a girar ao meu redor. Apertei algumas mechas de seus cabelos entre meus dedos, me arrepiando conforme ele dedilhava minhas costas delicadamente, e ele suspirou baixinho contra meus lábios. 
- Desculpe… Sua boca me desconcentra – Thur sussurrou, respirando fundo e afastando seu rosto até uma distância que me permitisse manter meu equilíbrio – Prometo que não vai acontecer de novo. 
Levei alguns segundos para restabelecer a firmeza em minhas pernas. Talvez eu estivesse mesmo frágil. 
- Vem, vamos nos sentar um pouquinho – falei, entrelaçando nossos dedos e conduzindo-o até o sofá. Acomodei-me, com as pernas flexionadas contra meu peito, e as abracei, vendo-o se sentar ao meu lado e me puxar para seu colo, sem nem se importar com o fato de que eu já estava confortável. Com certeza eu teria o triplo de conforto abraçada a ele, por isso, apenas sorri e deitei minha cabeça em seu ombro, enquanto ele me abraçava pela cintura e passava suas mãos por debaixo de minha camiseta larga. 
- Você parece melhor – ele disse baixinho, deslizando as pontas de seus dedos gentilmente por minha pele, e eu assenti devagar – Imaginei que conversar com a Sophia te faria bem. 
- Obrigada por ter explicado tudo a ela – murmurei, brincando timidamente com a gola de sua camiseta pólo azul e branca, uma de minhas favoritas – Foi muito sensato da sua parte. 
- Era o mínimo que eu poderia fazer – ele suspirou, fazendo com que sua respiração quente batesse em meus cabelos com mais força – A Abrahão é uma garota muito legal… Não pensei que ela fosse aceitar tudo tão bem. 
Sorri fraco, me sentindo a pessoa mais abençoada do universo por tê-la como amiga. Ela era realmente um anjo. Meus olhos se perderam por alguns segundos, vagando pela mobília da sala, e eu mordi meu lábio inferior, sem conseguir mais segurar a pergunta que ecoava em minha mente. 
- Como foi hoje na escola? 
Thur ficou em silêncio por algum tempo, observando algum ponto distante, e eu o encarei, tensa por uma resposta. 
- Ele não apareceu – sua voz grave falou, e seus olhos castanhos continuaram sem fitar os meus, talvez escondendo a raiva que seu timbre já denunciava – Tive que substituí-lo em duas aulas. 
Soltei todo o ar que involuntariamente havia prendido em meus pulmões, me sentindo mais tranqüila por não ter existido um contato entre os dois. Eu jamais me perdoaria se um deles perdesse a cabeça e iniciasse uma briga em pleno ambiente de trabalho, ainda mais sem que eu pudesse fazer algo para tentar evitar. Mesmo aprovando a ausência de Mica, uma pequena parte de mim não conseguiu deixar de sentir preocupação e culpa por seu sumiço. Será que ele havia feito alguma loucura? 
- Ainda bem – sussurrei, voltando a afundar meu rosto na curva perfumada de seu pescoço – Foi melhor assim. 
- Não, não foi – Thur rosnou, balançando negativamente a cabeça – Ele devia ter sido homem pelo menos uma vez na vida e ter aparecido. Eu o ensinaria a nunca mais agir feito um imbecil, e a cada vez que ele se olhasse no espelho e visse o estrago que minhas mãos causariam em sua arcada dentária, ele se lembraria nitidamente de mim. 
- Calma, não fala assim – falei tentando acalmá-lo, acariciando seu peito, e senti suas mãos se fecharem em punhos – Não vamos perder a cabeça, por favor. 
- Espere só até toda essa turbulência passar – ele disse, com os músculos tensos e o olhar distante, porém afiado como uma navalha – Ele ainda vai ter muitos pesadelos comigo. 
- Thur, olha pra mim – pedi, desaprovando toda aquela raiva crescendo dentro dele, e virei seu rosto até que seus olhos vingativos fitassem os meus – Se acalma, por favor… Vamos esquecer tudo isso, fingir que ele nunca existiu e virar essa página, está bem? 
Ele me encarou por alguns segundos, com a expressão impassível, até que eu lhe dei um selinho demorado e seus músculos começaram a relaxar gradativamente. 
- Eu tenho tanta raiva dele… – Thur soprou, fechando os olhos por um momento e logo depois voltando a me olhar - Por ter te enganado durante todos esses meses, te fazendo de amante, te prendendo a ele, enquanto você podia ter sido minha… 
 minha… Isso me envenena. 
- Eu sei – assenti, com o rosto muito próximo ao dele, e um sorrisinho desanimado se formou em meu rosto – Eu sei como você se sente, acredite… Sei que é difícil controlar a raiva, mas pense que nós também o machucamos. 
- Não foi planejado, Roberta – ele retrucou, adotando um tom de voz menos agressivo – As coisas foram muito rápidas e loucas entre a gente, não foi algo que pudéssemos ter evitado. 
- Mesmo assim, Thur – insisti, desviando meus olhos dos dele para baixo – Nós estamos errados também, e teremos de pagar um certo preço por isso, querendo ou não. 
- Nada que ele faça vai tirar você de mim, justo agora que eu te consegui do jeito que eu quero – Thur afirmou, olhando fundo em meus olhos e segurando meu rosto com as duas mãos – Deixe que ele venha… Eu vou estar esperando. 
Olhei fundo em seus olhos sinceros, sentindo meu autocontrole desmoronar, e um sorriso grato se formou em meu rosto. Confesso que por um momento, meus olhos lacrimejaram, porém agora obviamente de felicidade. A cada dia eu me dava mais conta de que Thur não podia ser de verdade. Em algum momento, eu descobriria que ele era um andróide ou um alienígena. Ou talvez apenas um sonho bom, do qual eu jamais queria acordar. 
- Obrigada por não ter desistido de mim – sussurrei, fazendo carinho em seu rosto e vendo-o dar seu típico sorriso enviesado – Se eu não tivesse você, acho que estaria sozinha e completamente perdida agora. 
- Eu sabia que um dia você ia me agradecer por ter sido tão insistente – ele piscou, fazendo-me rir um pouco. 
- Preciso aprender a não duvidar de você – falei, dando-lhe um beijinho de esquimó e sentindo-o morder meu lábio inferior demoradamente. Ele não desgrudou sua boca da minha, iniciando mais um beijo intenso, e eu acariciei sua nuca, sentindo-o fazer o mesmo enquanto sua outra mão apertava minha cintura. 
Incrível como tudo parecia estar perfeito quando ele me beijava daquele jeito. Ele realmente devia ter algum super poder. 
Uma música baixa começou a tocar no andar de cima após alguns minutos, e eu demorei para me dar conta de que a fonte do som era meu celular. 
- Não vou deixar você atender – Thur resmungou, com os lábios rentes ao meu, e eu soltei um risinho divertido. 
- Deve ser minha mãe – sussurrei, levando minhas mãos até seu peito e me afastando, mesmo que contra a vontade dele – Ela pode ficar preocupada se eu não atender. 
Ele bufou, cerrando os olhos para mim, e eu lhe mandei um beijinho enquanto subia até meu quarto. Peguei meu celular, que estava sobre a cama, e olhei rapidamente para o visor. 
Franzi a testa, e imediatamente, meu sorriso se esvaiu assim que li o nome de Mica na tela. 
Fiquei encarando seu nome no visor, totalmente sem reação, mas apesar de minha hesitação, ele não desistiu e continuou esperando que eu o atendesse. Nada que me surpreendesse, afinal, ele estava morrendo de ódio de mim e deveria estar disposto a tudo para me infernizar. Aguardar alguns segundos para ser atendido não o mataria. 
Respirei fundo, me preparando para encarar a situação como ela devia ser encarada: com maturidade. Fechei os olhos por um momento, tomando coragem, e deslizei o slide, atendendo a chamada. Conduzi o aparelho ao ouvido, sentindo minha garganta se fechar, e apenas esperei. 
- Roberta? – a voz cortante de Mica rosnou, e eu mordi meu lábio inferior, muito nervosa. Eu precisava dizer algo, mas estava tão assustada que não sabia se conseguiria. 
- Sou eu – respondi, abrindo os olhos e sentindo minhas mãos tremerem um pouco de medo; obviamente, não permiti que meu leve temor ficasse explícito em minha voz – O que você quer? 
- Me encontre em meu apartamento daqui a uma hora – ele disse, ríspido, e eu arregalei os olhos, assustada – Vamos colocar um ponto final nisso. 
Não consegui dizer nada, sentindo meu coração bater muito forte e bombear adrenalina para todos os cantinhos de meu corpo. 
Vamos colocar um ponto final nisso. O que exatamente ele queria dizer com aquilo? 
Ignorando meu silêncio, Mica aguardou alguns segundos antes de simplesmente desligar. Eu não esperava nenhum tipo de despedida, de qualquer maneira. Mantive o celular próximo de meu ouvido por um tempo, até minha mão cair sobre meu colo num movimento mecânico. 
Sim, eu confesso. Eu estava um pouco apavorada. 
Com que cara eu desceria as escadas e olharia para Thur? Será que eu seria capaz de esconder minha insegurança e arrumar uma desculpa para que ele fosse embora antes de eu precisar encontrar Mica? 
Não, disse a mim mesma. É melhor que ele saiba, para a minha própria segurança. Seria arriscado demais ir totalmente sozinha até o seu apartamento sem ao menos avisar alguém de meu paradeiro. Eu não conhecia aquele Mica, não podia prever o que ele seria capaz de fazer comigo. 
Mas de uma coisa eu sabia. Estava na hora de resolver aquela situação. 
Mais uma vez, eu respirei fundo, tentando disfarçar minha expressão perplexa, e me levantei. Caminhei lentamente até as escadas, e desci os degraus no mesmo ritmo, sentindo minhas pernas um tanto bambas. 
- Era ela? – Thur perguntou, porém assim que me aproximei e ele pôde me ver melhor, seu rosto ficou sério – Nossa, você tá pálida… O que aconteceu? 
Hesitei por alguns segundos antes de falar. Somente agora eu estava realmente absorvendo o que havia acontecido. 
- Era o Mica – respondi, porém não deixei que sua expressão, agora um misto de surpresa e indignação, me desencorajasse – Ele quer que eu vá até o apartamento dele daqui a uma hora.
- 
O quê? – ele exclamou, revoltado, e eu me mantive imóvel – No apartamento dele? Mas o que ele… Você vai? 
- Thur, você sabe que fugir não é certo – suspirei, olhando-o com seriedade – Eu entendo que ele queira resolver tudo, e concordo que quanto mais rápido isso aconteça, melhor. 
- Resolver tudo como, Roberta? – Thur perguntou, sem entender – Ele vai pedir desculpas por ter te feito de amante por todos esses meses e o que mais? Eu não quero você sozinha com ele naquele apartamento, pode ser perigoso. 
- Acha que eu não sei disso? – perguntei, e ele respirou fundo, passando uma mão nervosamente pelos cabelos – Mas eu preciso resolver logo essa situação e terminar com essa novela de uma vez por todas. 
Thur me encarou, parecendo um pouco mais resignado, e se levantou, caminhando até mim devagar. Ele me abraçou apertado, como se quisesse me proteger de alguma coisa, e eu o apertei com a mesma força em meus braços. 
- Eu tenho medo de deixar você sozinha com ele – ouvi sua voz murmurar, e suspirei baixo – Tenho medo de que ele perca a cabeça e… 
- Eu também tenho – o interrompi, sem querer ouvir o fim de sua frase, erguendo meu rosto até poder ver o dele – Mas eu preciso ter um pouco de coragem, pelo menos uma vez na vida, para fazer o que é certo. Eu quero ajeitar as coisas, Thur. Tudo está uma bagunça, eu não agüento mais essa situação. Eu vou enfrentar Mica hoje, assim como vou abrir o jogo para minha mãe amanhã. Não quero mais ter que mentir para ela nem para ninguém. 
- Você vai contar a ela? – ele perguntou, surpreso, e eu assenti com firmeza – Tem certeza? 
- Tenho – assenti, mas preferi voltar a me concentrar no assunto mais urgente – E então… Você pode me levar até o prédio dele hoje? 
Thur me olhou com pesar, numa súplica muda para que eu desistisse de ir, mas eu não me deixei atingir. Mantive minha expressão firme, e após alguns segundos, vendo que eu não cederia, ele apenas respirou fundo, fechando os olhos em tom de derrota. 
- Não o deixe encostar um dedo em você – ele disse, resignado e enfurecido ao mesmo tempo – Fale o que tiver pra falar, ouça o que quiser ouvir e saia. Entendeu? 
- Ele não vai fazer nada – falei, porém havia uma certa insegurança dentro de mim. Como não ficar insegura diante daquele outro Mica e de todo o seu rancor? 
- Como você pode ter certeza? – Thur questionou, me olhando com o rosto sério, e eu hesitei antes de responder. 
- Eu não tenho… Mas é o que eu espero. 
Thur sustentou meu olhar por alguns segundos, e pela primeira vez, eu vi uma dose considerável de medo em suas íris. Mesmo sem poder confirmar minha hipótese, tive certeza de que seus olhos eram uma espécie de reflexo dos meus, igualmente inseguros diante do que nos aguardava. 
Lá estava eu novamente… Temendo pelo que nos aconteceria. 

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