- Desse jeito eu não vou parar de chorar – confessei, respirando fundo e contendo minhas emoções afloradas.
- Ah, não, chega de chorar – ele pediu fazendo uma careta, e se afastou de mim – Vem, eu vou te levar pra casa. Você precisa descansar.
Concordando e agradecendo-o mentalmente, assenti, descendo da bancada com uma certa ajuda dele, e lhe entreguei a luva já morna para que ele a jogasse fora. Enquanto ele o fazia, fitei a porta do laboratório, sentindo meu coração acelerar só de pensar em sair. Tudo o que eu queria no momento era distância daquele lugar, porém a idéia de atravessar aquela porta novamente me parecia extremamente assustadora.
- Roberta? – a voz de Thur me acordou de meu rápido devaneio, e quando o olhei, vi que ele já estava parado perto da porta, com minha mochila em suas costas – Tudo bem?
Confirmei rapidamente, soltando um suspiro baixo, e ele abriu a porta do laboratório, saindo primeiro e esperando que eu o fizesse para trancar a sala. Descemos as escadas o mais normalmente possível, apesar da leve tremedeira em minhas pernas, e caminhamos até a rua em silêncio, deparando-nos com o Porsche de Thur do outro lado da rua. A vaga de Mica, que sempre estacionava a poucos metros dali, estava vazia, o que significava que ele já havia ido embora. Repreendi minha própria mente ao retornar suas atenções para ele, e desviei meu olhar do espaço vazio no acostamento. Entrei no carro pelo lado do carona, sem me preocupar muito por estar sendo vista, já que não havia mais ninguém na porta do colégio a não ser as poucas pessoas que passavam pela rua, e pus o cinto de segurança.
Thur fez o mesmo em silêncio, colocando minha mochila no banco traseiro, e logo arrancou com o carro, ganhando velocidade facilmente e fazendo com que uma leve brisa batesse em meu rosto quando abriu um pouco meu vidro. Abaixei meus olhos até que eles fitassem meus joelhos e inconscientemente me perdi no silêncio do carro, absorta numa espécie de retrospectiva de todos os acontecimentos recentes.
A dor voltou a me preencher aos poucos, subindo por minhas pernas e dominando meu interior, como um veneno letal escalando meu corpo.
Fechei meus olhos com força, tentando evitar que as lágrimas neles caíssem, mas foi em vão. Virei meu rosto para a janela, sem querer que Thur percebesse minha recaída, porém assim que o fiz, sua mão envolveu a minha. Me mantive imóvel, sentindo-o apertar de leve meus dedos entre os seus, e um soluço baixo escapou por entre meus lábios.
- Eu não gosto de te ver chorando – ele murmurou, com a voz baixa e compreensiva – Mas acho que pra quem guarda tantas preocupações só pra si… Faz bem desmoronar de vez em quando.
Funguei baixo, sentindo meu choro se intensificar com suas palavras, e fitei nossas mãos unidas por alguns segundos, sem saber como encará-lo. O carro parou num sinal vermelho e Thur acariciou as costas de minha mão com seu polegar, suspirando baixo e fitando vagamente algum ponto à frente. Eu sabia que ele também havia sido duramente afetado por tudo que havia acontecido, e sabia que levaria algum tempo até que absorvêssemos todas aquelas emoções. Ergui meus olhos vermelhos até ele, me sentindo a pior pessoa do mundo por fazer duas pessoas sofrerem por atitudes erradas minhas, cujas conseqüências amargas somente eu deveria sentir, e o vi me olhar de volta, sério e inexpressivo. Apenas digerindo os fatos.
E por todo o trajeto até minha casa, prosseguimos naquele mesmo silêncio. Não havia muito mais a ser dito; nossas mentes e corações estavam entorpecidos e doloridos demais para que soubéssemos o que dizer um ao outro.
- Obrigada pela carona – murmurei quando ele estacionou em frente à minha casa.
- Se precisar conversar… Bem, você tem meu número, e em hipóteses mais drásticas, sabe meu endereço – ele sorriu fraco, erguendo meu rosto até que pudesse me encarar – E não se preocupe com o horário, eu adoraria acordar pra falar com você.
- Obrigada – repeti, sem saber o que mais dizer. Ele estava sendo totalmente carinhoso e preocupado comigo… O que mais eu poderia fazer naquele momento a não ser agradecê-lo?
- E cuide do seu rosto… Já está bem melhor, mas ainda deve estar doendo – Thur recomendou, analisando a parte levemente inchada de minha bochecha, e logo em seguida desviando seu olhar até o meu como se ver a fraca vermelhidão em minha pele lhe transferisse minha dor – Me desculpe por não ter evitado isso.
- Eu não aceito que você me peça desculpas por isso – falei, engolindo minha crescente e incessante vontade de chorar – Eu mereci.
- Se alguém aqui merece apanhar, sou eu – Thur negou com a voz grave, encarando-me com seriedade – Mas não vou falar disso agora… Você deve estar com a cabeça explodindo.
- Eu estou bem, Thur – suspirei, mas ao vê-lo me repreender com o olhar, reformulei minha frase – Eu vou ficar bem. Não se preocupe.
- Eu odeio quando você mente – ele fechou os olhos por alguns segundos, respirando fundo, porém logo voltou a me olhar e aproximou seu rosto do meu, dando-me um selinho – Descanse bastante, e cuide direitinho desse rosto, porque ele é meu, entendeu?
Assenti fraco, sentindo a respiração dele se misturar à minha, e com um carinho gostoso em meu queixo, ele voltou a unir nossos lábios, dessa vez aprofundando o beijo e fazendo-me esquecer qualquer dor por alguns segundos.
- Eu te amo – Thur soprou baixinho, após incontáveis segundos apenas sentindo a respiração um do outro – Não se esqueça disso.
- Eu não vou esquecer – falei, abrindo meus olhos e encontrando os dele muito próximos. Ele sorriu fraco e voltou lentamente à sua posição ereta em seu banco, pegando minha mochila no banco de trás. Saí do carro, ajeitando as alças da mochila em meus ombros e caminhando lentamente até minha casa. Não olhei para trás; vê-lo ir embora não costumava me fazer bem, mesmo sabendo que não poderíamos estar mais unidos do que naquele momento.
Tranquei a porta atrás de mim e me deparei com a casa vazia. Mamãe estava trabalhando, o que era bom e ruim ao mesmo tempo. A solidão me asfixiava em certos momentos. O silêncio me ensurdeceu de imediato, mergulhando-me na agonizante realidade. As lágrimas voltaram aos meus olhos, tão dolorosas quanto antes, e tudo que pude fazer foi subir correndo as escadas, trancar-me em meu quarto e atirar-me em minha cama, enterrando meu rosto no travesseiro.
Eu era um turbilhão de sentimentos angustiantes por dentro. Revolta, remorso, culpa, dor. Mas principalmente medo.
Eu estava com muito, muito, muito medo. Tanto medo que eu tinha até medo de explodir por sentir tanto medo. Um medo monstruoso estava presente em cada milímetro de mim.
E meu medo não era somente por mim. Havia outra pessoa pela qual eu tinha medo, talvez até mais medo por ela do que por mim mesma.
Eu sabia que Mica daria um jeito de me separar de Thur… O jeito mais cruel e sádico possível.
E era justamente por isso que eu tinha medo. Muito, muito medo do que ainda estava por vir.
- Ah, não, chega de chorar – ele pediu fazendo uma careta, e se afastou de mim – Vem, eu vou te levar pra casa. Você precisa descansar.
Concordando e agradecendo-o mentalmente, assenti, descendo da bancada com uma certa ajuda dele, e lhe entreguei a luva já morna para que ele a jogasse fora. Enquanto ele o fazia, fitei a porta do laboratório, sentindo meu coração acelerar só de pensar em sair. Tudo o que eu queria no momento era distância daquele lugar, porém a idéia de atravessar aquela porta novamente me parecia extremamente assustadora.
- Roberta? – a voz de Thur me acordou de meu rápido devaneio, e quando o olhei, vi que ele já estava parado perto da porta, com minha mochila em suas costas – Tudo bem?
Confirmei rapidamente, soltando um suspiro baixo, e ele abriu a porta do laboratório, saindo primeiro e esperando que eu o fizesse para trancar a sala. Descemos as escadas o mais normalmente possível, apesar da leve tremedeira em minhas pernas, e caminhamos até a rua em silêncio, deparando-nos com o Porsche de Thur do outro lado da rua. A vaga de Mica, que sempre estacionava a poucos metros dali, estava vazia, o que significava que ele já havia ido embora. Repreendi minha própria mente ao retornar suas atenções para ele, e desviei meu olhar do espaço vazio no acostamento. Entrei no carro pelo lado do carona, sem me preocupar muito por estar sendo vista, já que não havia mais ninguém na porta do colégio a não ser as poucas pessoas que passavam pela rua, e pus o cinto de segurança.
Thur fez o mesmo em silêncio, colocando minha mochila no banco traseiro, e logo arrancou com o carro, ganhando velocidade facilmente e fazendo com que uma leve brisa batesse em meu rosto quando abriu um pouco meu vidro. Abaixei meus olhos até que eles fitassem meus joelhos e inconscientemente me perdi no silêncio do carro, absorta numa espécie de retrospectiva de todos os acontecimentos recentes.
A dor voltou a me preencher aos poucos, subindo por minhas pernas e dominando meu interior, como um veneno letal escalando meu corpo.
Fechei meus olhos com força, tentando evitar que as lágrimas neles caíssem, mas foi em vão. Virei meu rosto para a janela, sem querer que Thur percebesse minha recaída, porém assim que o fiz, sua mão envolveu a minha. Me mantive imóvel, sentindo-o apertar de leve meus dedos entre os seus, e um soluço baixo escapou por entre meus lábios.
- Eu não gosto de te ver chorando – ele murmurou, com a voz baixa e compreensiva – Mas acho que pra quem guarda tantas preocupações só pra si… Faz bem desmoronar de vez em quando.
Funguei baixo, sentindo meu choro se intensificar com suas palavras, e fitei nossas mãos unidas por alguns segundos, sem saber como encará-lo. O carro parou num sinal vermelho e Thur acariciou as costas de minha mão com seu polegar, suspirando baixo e fitando vagamente algum ponto à frente. Eu sabia que ele também havia sido duramente afetado por tudo que havia acontecido, e sabia que levaria algum tempo até que absorvêssemos todas aquelas emoções. Ergui meus olhos vermelhos até ele, me sentindo a pior pessoa do mundo por fazer duas pessoas sofrerem por atitudes erradas minhas, cujas conseqüências amargas somente eu deveria sentir, e o vi me olhar de volta, sério e inexpressivo. Apenas digerindo os fatos.
E por todo o trajeto até minha casa, prosseguimos naquele mesmo silêncio. Não havia muito mais a ser dito; nossas mentes e corações estavam entorpecidos e doloridos demais para que soubéssemos o que dizer um ao outro.
- Obrigada pela carona – murmurei quando ele estacionou em frente à minha casa.
- Se precisar conversar… Bem, você tem meu número, e em hipóteses mais drásticas, sabe meu endereço – ele sorriu fraco, erguendo meu rosto até que pudesse me encarar – E não se preocupe com o horário, eu adoraria acordar pra falar com você.
- Obrigada – repeti, sem saber o que mais dizer. Ele estava sendo totalmente carinhoso e preocupado comigo… O que mais eu poderia fazer naquele momento a não ser agradecê-lo?
- E cuide do seu rosto… Já está bem melhor, mas ainda deve estar doendo – Thur recomendou, analisando a parte levemente inchada de minha bochecha, e logo em seguida desviando seu olhar até o meu como se ver a fraca vermelhidão em minha pele lhe transferisse minha dor – Me desculpe por não ter evitado isso.
- Eu não aceito que você me peça desculpas por isso – falei, engolindo minha crescente e incessante vontade de chorar – Eu mereci.
- Se alguém aqui merece apanhar, sou eu – Thur negou com a voz grave, encarando-me com seriedade – Mas não vou falar disso agora… Você deve estar com a cabeça explodindo.
- Eu estou bem, Thur – suspirei, mas ao vê-lo me repreender com o olhar, reformulei minha frase – Eu vou ficar bem. Não se preocupe.
- Eu odeio quando você mente – ele fechou os olhos por alguns segundos, respirando fundo, porém logo voltou a me olhar e aproximou seu rosto do meu, dando-me um selinho – Descanse bastante, e cuide direitinho desse rosto, porque ele é meu, entendeu?
Assenti fraco, sentindo a respiração dele se misturar à minha, e com um carinho gostoso em meu queixo, ele voltou a unir nossos lábios, dessa vez aprofundando o beijo e fazendo-me esquecer qualquer dor por alguns segundos.
- Eu te amo – Thur soprou baixinho, após incontáveis segundos apenas sentindo a respiração um do outro – Não se esqueça disso.
- Eu não vou esquecer – falei, abrindo meus olhos e encontrando os dele muito próximos. Ele sorriu fraco e voltou lentamente à sua posição ereta em seu banco, pegando minha mochila no banco de trás. Saí do carro, ajeitando as alças da mochila em meus ombros e caminhando lentamente até minha casa. Não olhei para trás; vê-lo ir embora não costumava me fazer bem, mesmo sabendo que não poderíamos estar mais unidos do que naquele momento.
Tranquei a porta atrás de mim e me deparei com a casa vazia. Mamãe estava trabalhando, o que era bom e ruim ao mesmo tempo. A solidão me asfixiava em certos momentos. O silêncio me ensurdeceu de imediato, mergulhando-me na agonizante realidade. As lágrimas voltaram aos meus olhos, tão dolorosas quanto antes, e tudo que pude fazer foi subir correndo as escadas, trancar-me em meu quarto e atirar-me em minha cama, enterrando meu rosto no travesseiro.
Eu era um turbilhão de sentimentos angustiantes por dentro. Revolta, remorso, culpa, dor. Mas principalmente medo.
Eu estava com muito, muito, muito medo. Tanto medo que eu tinha até medo de explodir por sentir tanto medo. Um medo monstruoso estava presente em cada milímetro de mim.
E meu medo não era somente por mim. Havia outra pessoa pela qual eu tinha medo, talvez até mais medo por ela do que por mim mesma.
Eu sabia que Mica daria um jeito de me separar de Thur… O jeito mais cruel e sádico possível.
E era justamente por isso que eu tinha medo. Muito, muito medo do que ainda estava por vir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário