Meus olhos se arregalaram instantaneamente, ainda fixos no rosto de Thur, quase imóvel ao meu lado. Na mesma hora, a imagem de mamãe flagrando-nos me veio à mente, e minha garganta se fechou em pânico. Olhei para a porta entreaberta de meu quarto e graças a Deus meu impulso apavorado foi mais rápido que minha consciência. Me levantei com certo esforço, já que Thur resistia inconscientemente às minhas tentativas de me libertar de seu abraço, e corri silenciosamente até a porta, trancando-a com cuidado para não fazer barulho.
Soltei todo o ar preso em meus pulmões assim que estava segura, fechando os olhos por alguns segundos e tentando pensar com clareza. Como eu conseguiria tirar Thur dali sem mamãe perceber? Ela com certeza viria pelo menos me dar um beijo, ou seja, eu precisava acordá-lo, e logo. Encarei seu corpo adormecido sobre a cama, encostada à porta, e só então percebi que, apesar do vidro fechado da janela, estava frio dentro do quarto. E opa. Eu estava nua.
Corri até meu armário, e numa velocidade recorde, vesti uma calcinha e uma camisola qualquer. Virei-me de volta para a cama, prendendo depressa meu cabelo cheio de nós num coque desengonçado, e o som dos passos de mamãe subindo a escada acelerou meu coração. Droga, ela estava chegando e Thur mal havia acordado! Pelo menos a porta estava trancada; isso serviria para nos render algum tempo extras.
Me esgueirei até Thur, cutucando-o com força, mas ele nem se moveu. Bufei, revirando os olhos, e segurei firme em seu braço, chacoalhando-o sem sutileza alguma. Ele franziu a testa, ainda de olhos fechados, e começou a reclamar baixinho numa língua provavelmente extinta há alguns séculos. Se eu não estivesse tão nervosa, teria rido, mas tudo que fiz foi trincar os dentes e balançá-lo com mais força, sem perceber que ele estava muito próximo da beira da cama. Umas três chacoalhadas depois, seu corpo não ofereceu resistência a minhas mãos, e tombou para o chão com um barulho doloroso. Maldita cama de solteiro.
Levei as mãos à boca, preocupada, enquanto o ouvia resmungar uns sete palavrões seguidos. Dessa vez, não consegui conter um risinho nervoso, até que ele se levantou, com a mão cobrindo parte de seu rosto e uma careta de dor.
- Desculpe – sussurrei, sem ter muita certeza de que ele estava realmente acordado, mas logo tive minha confirmação: a maçaneta da porta do quarto girou, indicando a chegada e mamãe, e imediatamente os olhos de Thur se arregalaram, assim como os meus fizeram antes. Seus olhos foram da porta até mim rapidamente, e eu levei o indicador à boca, pedindo silêncio.
- Vou me esconder debaixo da cama – ele cochichou, ainda hesitante, e seu rosto demonstrava um misto de sono, dor, preguiça e medo.
- Não seja idiota! – falei no mesmo volume, atirando suas roupas espalhadas pelo chão em sua direção sem nem ver onde elas o atingiam – Vista-se e pule pela janela!
- O quê? – Thur disse, num sussurro mais alto, e eu me virei no mesmo instante, repreendendo-o com o olhar – Pela janela? Você quer que eu morra?
- Se não parar de enrolar, vou querer sim! – briguei, atirando sua boxer em seu rosto sem querer – Anda logo!
Ele pegou a boxer, revelando sua expressão ranzinza, e a vestiu rapidamente, bocejando enquanto o fazia. Olhei ao redor, analisando toda a bagunça que havíamos feito sobre minha escrivaninha (digamos que eu e Thur quase a quebramos também, junto com boa parte da mobília do quarto, mas finja que não ficou sabendo disso), e rapidamente a ajeitei, ouvindo mamãe insistir na maçaneta mais algumas vezes antes de parar. Ou pelo menos eu achei que tivesse parado.
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