Encarando vagamente a barra de minha blusa, com a qual eu brincava com a mesma atenção, eu esperei, até ouvir leves batidas no vidro ao meu lado poucos segundos depois. Pulei de susto com o barulho repentino, e senti todo o sangue do meu corpo evaporar quando olhei na direção do som.
Meu olhar se fixou nos olhos irritantemente verdes de Maria do outro lado do vidro, que sorria pra mim com seu cinismo cotidiano. Não sei descrever o que se passava dentro de mim naquele momento, só sei que foi um dos piores sentimentos que eu já tive, como se tudo dentro de mim estivesse desmoronando. Ela não podia estar ali, ela não podia ter me visto, ela simplesmente não podia.
Quando eu pensei que ainda havia uma chance de driblar aquela situação, vi que havia uma meia dúzia de garotas igualmente patricinhas do outro lado da rua cochichando e rindo entre si enquanto nos observavam, algumas até fotografando a cena com a câmera de seus celulares caríssimos. Amigas dela, que também me conheciam de vista porque estudavam no mesmo colégio. Maravilha, eu realmente estava encurralada.
- Desce o vidro, quero falar com você – ouvi a voz de Maria pedir, abafada pela porta fechada entre nós. Tentei me mexer ou fazer algo básico como respirar, mas não deu. Eu estava totalmente paralisada, dura de pavor. Ela era só fruto da minha imaginação. Só podia ser.
Levei alguns segundos assimilando a situação, e como Maria continuou parada do meu lado e não sumiu como uma miragem normal, eu fiz a única coisa que podia fazer: abaixei o vidro, com o olhar trêmulo. Já era, ferrou tudo. Ela e suas amiguinhas iam mostrar fotos minhas no carro de Mica pra diretora, ela chamaria minha mãe e aí minha vida estava acabada. Já dava até pra me ver mudando de escola e sendo tachada de piranha pro resto da vida.
- Ora, ora, vejam só o que temos aqui – Maria sorriu maleficamente, apoiando levemente um cotovelo no retrovisor do carro – Roberta Messi no carro de Micael Borges… Por essa eu não esperava… Bom, talvez eu até já esperasse.
O grupinho de garotas a la Gossip Girl do outro lado da rua começou a rir, e eu senti meu sangue voltar às veias, concentrando-se especificamente em minhas bochechas e deixando-as insuportavelmente quentes, chegando até a confundir meus pensamentos.
- O que você quer? – gaguejei, meio tonta por causa da pressão enorme que eu sentia dentro da cabeça, que atendia pelo nome de pânico. Vi o sorriso de Maria alargar, como se tivesse gostado da pergunta, e seu olhar maldoso se tornou ainda mais intenso.
- Amanhã eu vou dar uma festinha na minha casa – ela murmurou, aproximando mais um pouco seu rosto do meu para se fazer ouvir – Aparece lá e a gente conversa.
Ela voltou a se afastar, mexendo em sua bolsa, e de lá tirou um cartão em branco e uma caneta. Anotou rapidamente seu endereço no papel retangular e me deu.
- Se eu fosse você, não deixava de ir – ela disse, piscando maliciosamente pra mim enquanto se afastava e levava seu bandinho risonho consigo. Eu apenas a observei se afastar, gargalhando e vendo alguma coisa nos celulares das amigas, provavelmente fotos da minha cara horrorizada. Totalmente confusa e assustada, abaixei meu olhar pro cartão, onde a caligrafia redondinha de Maria reluzia graças à tinta cintilante da caneta gel rosa dela. Eu precisava achar uma maneira de contornar aquela situação, e eu tinha cerca de 24h pra pensar numa boa proposta.
Olhei desanimadamente na direção do prédio de Mica, e o vi passar depressa pelo balcão e rir de alguma coisa com Andy. Rapidamente escondi o cartão de Maria no bolso da calça, e assim que ele entrou no carro, forcei um sorrisinho simpático. Não queria que ele soubesse desse inconveniente, não por enquanto. Ele colocou a chave na ignição e me olhou, provavelmente notando meu jeito estranho. Não era preciso muito tempo de convivência comigo pra saber classificar meu estado de humor.
- Que foi, Roberta? – Mica murmurou, com a expressão e a voz levemente preocupada – Você tá branca feito papel.
- Não foi nada – respondi, balançando negativamente a cabeça e me esforçando ao máximo pra parecer normal – Eu só tô meio cansada… Acho que preciso dormir um pouco.
Ele continuou me encarando, com a testa franzida, e por um segundo pensei que ele não cairia na minha mentira. Mas tudo que Mica fez foi dar de ombros e arrancar com o carro, alheio a qualquer tipo de acontecimento perigoso. Como sempre.
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Meu olhar se fixou nos olhos irritantemente verdes de Maria do outro lado do vidro, que sorria pra mim com seu cinismo cotidiano. Não sei descrever o que se passava dentro de mim naquele momento, só sei que foi um dos piores sentimentos que eu já tive, como se tudo dentro de mim estivesse desmoronando. Ela não podia estar ali, ela não podia ter me visto, ela simplesmente não podia.
Quando eu pensei que ainda havia uma chance de driblar aquela situação, vi que havia uma meia dúzia de garotas igualmente patricinhas do outro lado da rua cochichando e rindo entre si enquanto nos observavam, algumas até fotografando a cena com a câmera de seus celulares caríssimos. Amigas dela, que também me conheciam de vista porque estudavam no mesmo colégio. Maravilha, eu realmente estava encurralada.
- Desce o vidro, quero falar com você – ouvi a voz de Maria pedir, abafada pela porta fechada entre nós. Tentei me mexer ou fazer algo básico como respirar, mas não deu. Eu estava totalmente paralisada, dura de pavor. Ela era só fruto da minha imaginação. Só podia ser.
Levei alguns segundos assimilando a situação, e como Maria continuou parada do meu lado e não sumiu como uma miragem normal, eu fiz a única coisa que podia fazer: abaixei o vidro, com o olhar trêmulo. Já era, ferrou tudo. Ela e suas amiguinhas iam mostrar fotos minhas no carro de Mica pra diretora, ela chamaria minha mãe e aí minha vida estava acabada. Já dava até pra me ver mudando de escola e sendo tachada de piranha pro resto da vida.
- Ora, ora, vejam só o que temos aqui – Maria sorriu maleficamente, apoiando levemente um cotovelo no retrovisor do carro – Roberta Messi no carro de Micael Borges… Por essa eu não esperava… Bom, talvez eu até já esperasse.
O grupinho de garotas a la Gossip Girl do outro lado da rua começou a rir, e eu senti meu sangue voltar às veias, concentrando-se especificamente em minhas bochechas e deixando-as insuportavelmente quentes, chegando até a confundir meus pensamentos.
- O que você quer? – gaguejei, meio tonta por causa da pressão enorme que eu sentia dentro da cabeça, que atendia pelo nome de pânico. Vi o sorriso de Maria alargar, como se tivesse gostado da pergunta, e seu olhar maldoso se tornou ainda mais intenso.
- Amanhã eu vou dar uma festinha na minha casa – ela murmurou, aproximando mais um pouco seu rosto do meu para se fazer ouvir – Aparece lá e a gente conversa.
Ela voltou a se afastar, mexendo em sua bolsa, e de lá tirou um cartão em branco e uma caneta. Anotou rapidamente seu endereço no papel retangular e me deu.
- Se eu fosse você, não deixava de ir – ela disse, piscando maliciosamente pra mim enquanto se afastava e levava seu bandinho risonho consigo. Eu apenas a observei se afastar, gargalhando e vendo alguma coisa nos celulares das amigas, provavelmente fotos da minha cara horrorizada. Totalmente confusa e assustada, abaixei meu olhar pro cartão, onde a caligrafia redondinha de Maria reluzia graças à tinta cintilante da caneta gel rosa dela. Eu precisava achar uma maneira de contornar aquela situação, e eu tinha cerca de 24h pra pensar numa boa proposta.
Olhei desanimadamente na direção do prédio de Mica, e o vi passar depressa pelo balcão e rir de alguma coisa com Andy. Rapidamente escondi o cartão de Maria no bolso da calça, e assim que ele entrou no carro, forcei um sorrisinho simpático. Não queria que ele soubesse desse inconveniente, não por enquanto. Ele colocou a chave na ignição e me olhou, provavelmente notando meu jeito estranho. Não era preciso muito tempo de convivência comigo pra saber classificar meu estado de humor.
- Que foi, Roberta? – Mica murmurou, com a expressão e a voz levemente preocupada – Você tá branca feito papel.
- Não foi nada – respondi, balançando negativamente a cabeça e me esforçando ao máximo pra parecer normal – Eu só tô meio cansada… Acho que preciso dormir um pouco.
Ele continuou me encarando, com a testa franzida, e por um segundo pensei que ele não cairia na minha mentira. Mas tudo que Mica fez foi dar de ombros e arrancar com o carro, alheio a qualquer tipo de acontecimento perigoso. Como sempre.
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