quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

WEB LuAr - Capítulo 20 / Parte 4 :

- Hm – ele respondeu vagamente, e eu senti a tensão se transformar em alívio dentro de mim – Eu ia sugerir que você aproveitasse mais algumas horas de praia antes de irmos, mas parece que não sou o único querendo distância de sol por aqui. 
- É – concordei, dando um sorrisinho sem graça. Não tinha conseguido ficar muito bronzeada nem com o dia anterior de sol, o que eu sabia que não conseguiria reverter em poucas horas, e além do mais, eu não queria deixar Mica sozinho no quarto, muito menos ficar sozinha na praia. Por mais estranho que isso possa parecer, Mica me distraía de todos os maus pensamentos e aflições que percorriam minha mente, e sem ele, eu provavelmente teria uma síncope. Como isso não estava nos meus planos - pelo menos não enquanto eu não estivesse na minha casa, mais especificamente no meu quarto -, preferi não aceitar a sugestão dele. 
- Então o que acha de comermos alguma coisa e voltarmos pra casa? – ele perguntou, entortando a boca em sinal de reflexão. Imitei sua expressão e olhei para o relógio ao lado da cama: meio dia e quarenta e um. Foi então que uma espécie de terremoto tremeu tudo dentro de mim, e eu tive uma grande descoberta: estava terrivelmente faminta. 
- Eu acho uma ótima idéia – respondi, assentindo devagar pra ele, que riu de meu olhar sonhador. 
- A gente bem que podia comer aquela lasanha instantânea enorme que tá no congelador, né? – Mica sorriu, adotando o mesmo olhar de criança que eu ao falar. 
Não precisei nem responder, apenas sorri de um jeito guloso e corri para a cozinha, ouvindo as gargalhadas de Mica cada vez mais distantes. Preparei a lasanha (que era realmente enorme e parecia ter uma vinte camadas) o mais rápido que pude, e sem nem me preocupar em parti-la ao meio, levei-a para o quarto. Devoramos quase todo aquele monte de queijo e massa, rindo de nossa própria gula e drenando todo o suco de uva que eu havia levado para o quarto. Só nos demos por satisfeitos quando já era uma e vinte e sete. 
- Isso é que é vida - Mica suspirou de olhos fechados, recostando-se na parede atrás da cama e com as duas mãos cobrindo cuidadosamente sua barriga avermelhada e inchada pelo excesso de comida. Soltei uma risada meio retardada diante da expressão zen dele, o que me deixou na dúvida sobre se o que tínhamos bebido era suco de uva ou vinho. 
- Queria poder morar aqui - comentei, após minha breve crise de riso, e encarei o céu azul e limpo que a janela me permitia ver - É realmente um lugar maravilhoso. 
- Não sei por que o Thur não se muda de vez pra cá - Mica disse, olhando vagamente na mesma direção que eu, e assim que ouvi o nome de Arthur, meu estômago revirou perigosamente - Quer dizer, o pai dele é podre de rico, e ele, por ser filho único, também é… Pra que trabalhar naquela espelunca de escola quando se pode viver tranqüilamente num lugar como este? Eu juro que tento, mas já desisti de entender o que o prende naquela cidade. 
Franzi levemente a testa após ouvir as palavras dele, com os pensamentos subitamente a mil. Então o pai dele era rico mesmo, como Arthur já havia me dito antes? Como ele teria enriquecido tanto a ponto de poder dar ao filho tamanho conforto financeiro? E já que tinha tanto dinheiro, por que Arthur insistia em morar em Londres, enquanto tinha aquela casa perfeita só para si? O que o prendia àquele apartamento, e o mais intrigante ainda, àquele colégio? Pegar aluninhas era tão importante assim na vida dele? 
Omiti um sorrisinho ao imaginá-lo vivendo naquela casa. Por alguma razão, visualizá-lo morando ali me ajudou a entender a razão pela qual ele não o fazia: a solidão. Arthur era exatamente o tipo de pessoa que gostava de viver no meio de gente (em especial mulheres), em meio aos barulhos da cidade, onde ele sabia que sempre havia outras pessoas circulando… Ele precisava constantemente de companhia. E isso era uma das poucas coisas que um lugar como aquele não poderia oferecer. 
- Desculpe por ter falado dele… Às vezes, eu me esqueço de que vocês não se dão muito bem - Mica murmurou, virando-se pra mim com um olhar culpado e me puxando de volta à realidade - Foi sem querer. 
- Tudo bem - sorri fraco, engolindo todos os pensamentos sobre Arthur com certa dificuldade e voltando a focá-los em Mica. 
Ficamos mais algum tempo naquele estado de preguiça pós-almoço, até que eu tomei coragem e levei a louça para a cozinha, lavando-a rapidamente e retornando ao quarto logo em seguida. Assim que voltei, dei de cara com Mica tentando se levantar, totalmente em vão. 
- Ei! - exclamei, correndo até ele ao vê-lo cair sentado novamente na cama com uma expressão de dor - Você é doido? Não vai conseguir se levantar sozinho! 
- Claro que consigo… Só preciso me esforçar mais - ele disse, com a voz baixa, e agora que estava mais perto, pude ver que seus joelhos haviam adquirido uma tonalidade vermelho berrante devido ao seu esforço para ficar de pé. 
- Quantas vezes você tentou se levantar? - perguntei, arrepiada só de pensar no quanto aquilo devia estar ardendo. 
- Algumas - ele respondeu, erguendo o rosto pra me olhar e respirando fundo, mas assim que viu meu rosto se fechar numa expressão brava, logo corrigiu - Calma, foram poucas! 
- E agora, Mica? – indaguei, esfregando o rosto com as mãos e encarando-o reflexivamente em seguida – Se você mal consegue se manter de pé, como vai dirigir por horas até voltar pra casa? 
- Eu já disse que estou bem! – ele exclamou, irritado – Só preciso treinar mais um pouco, confie em mim! 
- Não seja idiota - falei, séria, após respirar fundo junto com ele, numa tentativa de esfriar os ânimos e pensar claramente - Eu não vou deixar você ficar se esforçando dessa maneira, e ainda por cima, pra nada. Nós dois sabemos que não adianta treinar porcaria nenhuma, ficar tentando se levantar só vai piorar as coisas. Temos que arranjar um jeito de ir embora que não envolva você na direção de um carro. 
- Eu sei que você está certa, mas a questão é que não temos outro jeito - Mica suspirou, derrotado, e eu me mantive séria – A não ser que você conheça alguém que possa e queira vir nos buscar. 
Na hora, uma pessoa apareceu em minha mente, que serviria exatamente para aquela tarefa, mas juntei o pouco de juízo que me restava e preferi não opinar. Pena que Mica teve a mesma idéia que eu, e ao contrário de mim, pareceu achar a opção aceitável. 
- Se bem que… Tem o Thur. 
<!--[if !supportLineBreakNewLine]-->
<!--[endif]-->

Nenhum comentário:

Postar um comentário