terça-feira, 27 de dezembro de 2011

WEB LuAr - Capítulo 19 / Parte 3 :

- Eu não queria sentir isso – murmurei, com o olhar ainda perdido em sua boca, e comecei a sentir meus olhos se encherem d’água sem que eu permitisse aquilo – Me faz mal. 
- Eu sei – Arthur disse, me fazendo erguer meu olhar até encontrar o dele, extremamente misterioso – Se eu pudesse voltar atrás, também escolheria não me sentir assim… Me corrói por dentro. 
- Mas não há como voltar atrás – falei, agora com a mão descendo por seu queixo e pescoço devagar, com os olhos ainda fixos nos dele – Você sabe disso. 
- Você também – ele sorriu fraco, de um jeito quase amargurado – Pelo menos não estou sozinho nessa. 
Abaixei meu olhar, engolindo a tristeza por saber tão bem quanto ele que já não havia mais volta para nós. Já era irreversível, inesquecível… Um pacto secretamente selado entre nossos corpos, sem que nós mesmos tivéssemos tomado conhecimento dele. 
- Eu posso ir embora se você quiser – ele falou baixo, parecendo resignado, e na mesma hora, uma pontada latejou em meu peito, como uma fisgada de pânico. 
- Não – sussurrei, me encolhendo devido à súbita dor, e o choro que eu tentava reprimir voltou a embaçar minha visão – Por favor… Não vá embora. 
Mesmo sem olhá-lo, soube que a expressão no rosto dele não era das mais alegres, mas não havia nada que eu pudesse dizer ou fazer pra mudar isso. Eu mesma estava em conflito, tentando não ceder à vontade monstruosa de sair correndo dali e me afogar naquele mar, eliminando finalmente todas as minhas angústias. 
Arthur soltou um suspiro triste, e me puxou sutilmente pelos ombros até nossos troncos voltarem a ficar colados. Ele me abraçou com certa força, e o batimento acelerado de seu coração voltou a repercutir em minha pele, enquanto uma lágrima rolava pelo meu rosto e escorria até alcançar seu ombro. Não era daquele jeito que eu queria que as coisas fossem. Não era daquele jeito que eu queria me sentir. 
- Você sabe que nunca vai ser como ele… Não sabe? – sussurrei, pensando em Mica e tentando evitar que toda aquela dor reprimida em relação a ele me atingisse com sua força esmagadora. 
- Sei - Arthur respondeu, amargamente conformado, e eu não consegui dizer mais nada. Talvez o silêncio pudesse amenizar a dor que eu não podia, a dor da verdade, corroendo-o por dentro como um veneno que o dilacerava aos poucos. 
Os segundos se passaram, um a um, e nenhum de nós dois tinha coragem o suficiente para dizer alguma coisa, até que ele inspirou profundamente, tomando fôlego para falar. 
- Caralho, Roberta – ele disse, e eu nem me movi, amedrontada com a repentina irritação em sua voz – Por que eu tenho que ficar desse jeito quando eu tô com você? Eu não sou assim… Esse não sou eu! 
- Então quem é você? – perguntei, ainda sem olhá-lo, e ele não foi capaz de responder. Esperei mais alguns segundos e finalmente tomei coragem de encará-lo, encontrando uma bagunça em seus olhos e sentindo uma irritação borbulhar em minha garganta. Não saber definir o que estava sentindo me irritava profundamente, e eu sempre me sentia assim com ele por perto. 
- Quem é você, Aguiar? – repeti, com uma firmeza que não parecia ser minha, levando-se em conta que eu nunca conseguia ser firme quando estava falando com ele – O que você quer de mim afinal? 
- Eu não sei! – Arthur exclamou, franzindo a testa em sinal de raiva – Eu não sei de porra nenhuma quando eu tô com você, não deu pra entender isso ainda? 
- Nem eu! – retruquei no mesmo volume que ele, sentindo a irritação crescer cada vez mais rápido dentro de mim – Então pare de colocar a culpa em mim! 
- Eu não estou colocando! 
- Então por que está gritando? 
Ele abriu a boca pra revidar, mas não emitiu nenhum som. Seu olhar estava cada vez mais confuso, junto de sua testa, pesadamente franzida sobre eles, e seus lábios se contraíram, expressando nitidamente sua luta interna. Eu apenas o encarava, respirando fundo na tentativa de diminuir minha raiva. Nenhum de nós sabia definir o que estava acontecendo dentro de nós mesmos, presos numa escuridão desesperadora. 
- Eu não quero me deixar envolver com você – ele murmurou, alguns segundos depois, desviando seu olhar do meu – E eu não vou. 
- Ótimo – eu concordei, engolindo em seco ao fazê-lo – Nem eu. 
- Ótimo – ele repetiu, encarando qualquer lugar, menos o meu rosto, e eu simplesmente me levantei devagar, sentando no banco do carona logo depois. Fiz um coque desengonçado em meu cabelo, sentindo as pontas de meus dedos frias, enquanto ele dava um jeito em sua situação com a camisinha. Pensei em recolher minhas roupas, me vestir e entrar em casa, mas o simples fato de me afastar dele novamente, agora que eu o tinha bem ao meu lado, parecia ser equivalente a me rasgar ao meio. Me parecia loucura deixá-lo ir embora tão cedo, sendo que eu o esperei por tanto tempo, e com tanta ansiedade. 
- Por que você demorou pra chegar? – ouvi minha própria voz dizer num tom baixo e grave, sem qualquer emoção. Arthur, que permanecia cabisbaixo, ergueu as sobrancelhas e deu de ombros. 
- Porque eu quis – ele respondeu, igualmente frio – Não pensei que você estaria me esperando. 
- Eu não estava – menti, encarando o retrovisor ao meu lado, e senti seu olhar repousar sobre mim na mesma hora – Só perguntei por curiosidade. 
- Mas agora eu estou aqui – ele disse, sem saber a quantidade de sentimentos conflituosos essa frase me causava - E você está… Bem, você está aí. 
Um sorriso teimoso surgiu em meu rosto, apesar da frieza com a qual eu estava agindo. Eu odiava ser sensível a piadas, mesmo que as mais toscas. 
- Não, eu é que estou aqui – retruquei, tentando em vão disfarçar meu sorriso - E você é que está aí. 
- Hm… Então o que acha de nós dois ficarmos aí? – Arthur sugeriu, e eu nem precisei olhá-lo pra saber que ele estava sorrindo assim como eu, mesmo que timidamente, por sua frase inocentemente engraçada – Ou aqui, como você preferir. 
Soltei um risinho baixo, já quase totalmente amolecida pelo jeito dele, e olhei por cima de meu ombro para o banco de trás, que me pareceu extremamente convidativo. 
- Aqui me parece um bom lugar – eu disse, me esgueirando para a parte de trás do carro e finalmente encarando-o com um sorriso não mais tão divertido, e já um pouco mais pervertido – O que acha? 
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