sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

WEB LuAr - Capítulo 18 / Parte 4 :

- Ai, meu Deus! – exclamei, levando as mãos molhadas à boca em sinal de espanto, sem saber se ria ou se ficava com pena – Desculpa, amor! 
Corri até Mica, que cobria o rosto com as mãos e se mantinha curvado, e me abaixei para poder ver o estrago que a água salgada tinha feito. Assim que o fiz, ele me pegou desprevenida e revidou o golpe, jogando o triplo de água em mim e me encharcando na mesma hora. 
- Você pediu, mocinha! – ele riu, mesmo com os olhos vermelhos, e eu não pude deixar de rir da cara dele, típica de criança que tomou um caldo. 
- Você sabe correr, Borges? – perguntei, fechando os olhos e um sorriso bravo – ENTÃO É MELHOR APRENDER! 
Mica soltou um gritinho quase afeminado, fingindo medo, e saiu correndo, sendo seguido por mim apesar da dificuldade que a água causava. Ficamos nos divertindo no mar por um tempo que não consegui calcular, até que ele finalmente resolveu me deixar tomar sol enquanto se deitava na espreguiçadeira ao meu lado, lendo um livro e parecendo ainda mais branco que suas páginas devido à grande quantidade de protetor solar que eu passei nele. Vez ou outra, ele dava um mergulho, e quando voltava, se recusava a passar outra camada de protetor, apesar de meus avisos constantes de cuidado. O sol estava forte demais pra uma pessoa desacostumada como ele se expor daquela forma. 
O dia se passou calmamente, entre amassos e mergulhos, e só saímos da praia uma única vez, para almoçar uma salada leve que preparamos juntos. Quando já estava escurecendo, ficamos observando o pôr-do-sol, como na tarde anterior, e entramos na casa para tomar banho assim que o céu se tornou totalmente escuro. 
- Ai, Roberta – ele choramingou ao sair do banheiro. Eu já tinha tomado meu banho, e estava sentada na ponta da cama passando creme em meus cabelos enquanto olhava vagamente para a TV ligada à minha frente. 
- O que foi? – perguntei, e quando olhei na direção dele, meus olhos e boca se abriram imediatamente. Ele estava todo vermelho, principalmente na região abaixo dos olhos, onde ele sempre esfregava depois de sair da água por causa do sal. Seus olhos estavam lacrimejando um pouco, e sua expressão era de agonia. 
- Tá ardendo – ele disse com a voz chorosa, andando devagar na minha direção pra não arder nada, e eu corri até ele, penalizada. Fiz menção de tocá-lo, mas logo voltei atrás, pelo pânico que seus olhos demonstraram ao perceber minha intenção. 
- Eu bem que te avisei pra passar mais protetor, Mica! – gemi, mordendo meu lábio inferior e morrendo de pena – Vem, senta aqui que eu passo creme em você. 
Conduzi Mica pela mão, o único lugar que parecia não estar ardendo tanto, até a cama, e ele se sentou cuidadosamente, somente de boxers. Eu subi na cama atrás dele, já com o creme pós-sol em mãos, e comecei a espalhá-lo por seus ombros suavemente, enquanto ele apenas se mantinha imóvel, com medo de que algo ardesse a qualquer movimento. Quando tudo já tinha sido devidamente tratado e cheirava maravilhosamente bem graças ao creme, ele sorriu pra mim, parecendo um camarãozinho. Um camarãozinho muito agradecido, diga-se de passagem. 
- Desculpa, Roberta – ele murmurou, fazendo uma carinha triste, e na mesma hora eu franzi a testa em sinal de confusão, ajoelhada em sua frente – Agora eu mal vou poder te abraçar. 
Dei um sorriso compreensivo, sentindo uma leve pontada de agonia. Alguém me explica por que minha recém-adotada doutrina anti-Arthur me pareceu ainda mais difícil de ser seguida após essa conclusão de Mica? 
- Tudo bem, amor – falei, engolindo todos os meus pensamentos e brincando timidamente com seus dedos – Eu não me importo, de verdade. 
E não me importar seria mil vezes mais fácil se Arthur aparecesse mais tarde. Pensando bem, ai dele se não aparecer. Será um homem desonrado, se é que você consegue associar essa palavra à existência de bisturis afiadíssimos nos laboratórios de biologia. 
OK, finja que eu não pensei isso. Minha mente é podre demais pra ser levada a sério. 
- Eu queria que esse fim de semana fosse perfeito – Mica sussurrou, segurando minhas mãos com tamanha delicadeza que elas pareciam ser feitas de um material sagrado – Mas como sempre, eu estraguei tudo. 
- Ei – resmunguei, fazendo cara de brava – Não começa, Borges. 
Ele apenas suspirou e ergueu seu olhar de minhas mãos para meus olhos, sorrindo logo depois e dizendo: 
- Você não existe mesmo. 
É, eu sei. Outra coisa que não existe é uma coisa chamada tempo. Cadê ele que não passa pra que Arthur chegue logo? 
Argh… Não preciso nem dizer que é pra você riscar essa frase da sua memória também. Talvez nem o inferno seja ruim o suficiente pra mim. 

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