domingo, 18 de dezembro de 2011

WEB LuAr - Capítulo 16 / Parte final :

Suspirei, tentando relaxar, e obedeci. Ouvi a porta se abrir e logo as mãos de Mica me guiaram pela cintura alguns passos pra dentro. O barulho do mar ali era bem mais alto, e um vento agradavelmente fresco e com cheirinho de praia nos atingiu após algumas passadas. Ele me mandou parar, e me abraçou por trás antes de sussurrar ao pé do meu ouvido: 
- Pode abrir. 
Fiz o que ele pediu devagar, e uma forte luz alaranjada infestou meus olhos. Estávamos na sacada do quarto, de onde podíamos ver uma faixa relativamente curta de areia estender-se até ser encoberta pelo mar sereno. O sol estava prestes a “tocar” a água no horizonte, irradiando laranja sobre tudo que havia abaixo de si e reinando solitário no céu, já que nenhuma nuvem ousara aparecer ao seu redor. 
Aquela vista me tirou o fôlego. Pra mim, o pôr-do-sol era um dos espetáculos mais lindos da natureza. Sempre que eu podia, costumava ficar observando as oscilações de cores lindas e vibrantes no céu enquanto o sol se punha, refletindo sobre qualquer coisa ou simplesmente ouvindo alguma música. Era extremamente terapêutico, me deixava muito mais calma à noite e me fazia dormir melhor. Claro que com as reviravoltas dos últimos dias, não havia pôr-do-sol que me acalmasse, mas eu não deixava de tentar. 
- Mica… É lindo! – soprei, levando uma mão à boca em sinal de deslumbramento. Ele não respondeu, apenas soltou um risinho mudo e acomodou melhor seu queixo em meu ombro, com a lateral de seu rosto colada ao meu. 
Aquela vista me fez enxergar as coisas com muito mais clareza, analisar todas aquelas preocupações que a lembrança de Arthur havia trazido com mais calma, e até mesmo chegar a uma conclusão. Eu 
tinha que colocar em minha mente que eu amava Mica e não precisava de mais nada. Tantas pessoas esperam a vida inteira para encontrar sua alma gêmea, e eu com meus míseros 17 anos, tive a sorte de encontrar a minha. Mas ainda assim, conseguia ser baixa ao ponto de pensar em outro homem… Ao ponto de tê-lo traído com outro homem. Aquilo me sufocou. A culpa e a censura me estrangularam, cruéis e dolorosamente justas. Arthur nunca seria capaz de fazer por mim nem a metade do que Mica fazia. 
Eu não podia continuar daquele jeito. 
Eu precisava acabar com aquilo. 
- Se eu te pedir uma coisa… Promete que vai fazer? – murmurei, encarando o horizonte com os olhos apertados pelo vento. 
- O que você quiser – ele respondeu, também baixinho, como se tivesse medo de interromper o silêncio, e também porque não havia necessidade de falar alto com nossa proximidade. 
- Por favor, 
prometa que vai fazer – repeti, mordendo meu lábio inferior. 
- Prometo – ele falou, virando um pouco o rosto para poder me observar – Não confia em mim? 
Suspirei, sem conseguir não confiar nele, e assenti. Era impossível não confiar. 
- Então me prometa só mais uma coisa – gaguejei, sentindo minha voz falhar de nervoso - Se um dia eu te machucar… Prometa que vai fazer pior comigo. 
Mica ergueu a cabeça, recuando com o pescoço pra trás até ficar com a coluna reta, e eu hesitei antes de olhá-lo. Ele me observava com a expressão séria, confusa, e até um pouco desconfiada. 
- Como assim, Roberta? – ele perguntou, com a testa firmemente franzida – Como você poderia me machucar? 
- Eu só quero que você me dê a certeza de que vou me arrepender amargamente do dia em que te fizer sofrer – insisti, virando de frente pra ele, com o olhar triste – Quero que prometa que não vai me deixar em paz sem me punir por uma injustiça dessas. 
Mica piscou algumas vezes, ainda sem entender, e eu esperei até que ele se recuperasse da surpresa e me respondesse. 
- Você não me faria sofrer… Faria? – ele questionou, olhando nos meus olhos como se procurasse uma resposta pra sua pergunta ali. Sua expressão resignadamente assustada fez com que algumas lágrimas surgissem em meus olhos, num misto de vários sentimentos. Remorso, pena, raiva de mim mesma, vontade de voltar no tempo, vontade de me afogar naquele mar bem à nossa frente e me desfazer daquela vida que eu definitivamente não merecia. 
- Nunca – sussurrei, fechando os olhos e tentando não chorar, mas foi um pouco inútil. Dois segundos depois e minhas lágrimas estavam molhando a camiseta dele, assim como meus braços estavam abraçando-o tão forte que considerei a hipótese de estar machucando-o. Mas como ele me envolveu com seus braços quentinhos num abraço quase tão apertado, eu presumi que estava tudo bem. 
Tudo estaria sempre bem, desde que eu tivesse Mica ao meu lado. 
E eu não precisava de mais nada. 
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