Arregalei os olhos, surpresa, e o sorriso esperto dele aumentou.
- Como assim? Começa hoje? Mas já? – indaguei, enquanto ele colocava meus cabelos pra trás da orelha – Mica, dá pra parar de mistério?
- Dá pra parar você de ser tão ansiosa e esperar? Falta pouco, pequena! – ele retrucou, imitando meu jeito afobado e me fazendo rir – E aproveita essa agitação toda pra se arrumar rapidinho depois da escola, porque eu quero você às três horas lá em casa. Ah, e se eu fosse você, levaria uma mochila com algumas roupas.
- Claro que eu vou levar uma malinha, não pretendia passar três dias usando as mesmas roupas – falei, logo depois virando a cabeça pro lado em sinal de dúvida – Mas que tipo de roupas?
- Biquínis são obrigatórios, e algumas roupas bem leves – ele respondeu, olhando pro teto como se estivesse pensando – Mas “leves” não significa “curtas”, muito menos “indecentes”, ouviu bem? Estarei de olhos bem abertos.
Não gostei muito do rumo que a conversa estava tomando, alguns flashbacks de fatos que eu preferia esquecer estavam dando o ar da graça em meus pensamentos. Tentei fingir que estava tudo bem, e logo tratei de reprimir aquelas lembranças. A empolgação pela surpresa tinha finalmente borbulhado dentro de mim, e eu não ia deixar que meros detalhes estragassem tudo novamente.
- Entendi, roupas leves – assenti uma vez, e ao ver Mica erguer autoritariamente as sobrancelhas, quase tornando visíveis em sua testa as palavras “Não está esquecendo nada?”, eu revirei os olhos e completei a revisão – Mas nada curto nem indecente demais.
- Agora sim – ele grunhiu, relaxando os ombros e fazendo uma carinha emburrada que me fez sorrir feito idiota – Você é só minha e de mais ninguém, que isso fique bem claro.
Mica apertou o abraço em minha cintura, e senti um nó se formar em minha garganta, junto com o suor frio de pavor, que já dava suaves sinais de vida. Foi quando eu decidi que estava na hora de desconversar.
- Acho melhor irmos – balbuciei, fazendo a cara mais despreocupada possível e olhando pra porta fechada – O inspetor vai começar a desconfiar.
- É mesmo – ele sussurrou, com uma falsa expressão amedrontada, e me deu um tapinha no bumbum, como se me mandasse ir – Até mais tarde, amor.
Mordi o lábio inferior ao ouvir do que ele tinha me chamado, e o nó na garganta começou a latejar de remorso. Ele raramente me chamava assim, dizia que era “brega, mas de vez em quando, parecia certo”. Porque eu era o amor dele. E doía saber que eu não merecia aquele sentimento tão puro e transparente.
- Ei, espera – cochichei, segurando o rosto dele carinhosamente e olhando fundo em seus radiantes olhinhos pretos – Eu só queria dizer que… Eu te amo. Muito.
Mesmo com todos os recentes (e incríveis) acontecimentos com Arthur, eu não me senti falsa ao dizer que o amava. Porque aquilo não tinha deixado de ser verdade. Meu coração bombeou alívio para todos os cantos de meu corpo com o bom resultado de meu teste. Nada tinha mudado. E se eu tivesse controle sobre a parte devassa de minha mente, o que eu definitivamente não tinha, tudo continuaria igual.
Mas mesmo repetindo pra mim mesma que tudo estava intacto, havia uma voz baixa, porém muito poderosa, que me dizia que eu estava errada, que tudo estava mudado. A voz dele. Estremeci de leve, mas felizmente ele não percebeu. Meus conflitos internos ainda me denunciariam, fato. Respirei fundo e me recompus, deixando pra refletir sobre minha situação afetiva num outro momento.
Mica piscou algumas vezes, assimilando minhas palavras, e abriu um sorriso lindo de orelha a orelha. Ele aproximou lentamente seu rosto do meu, fazendo carinho em minhas bochechas com seus polegares, e quando estava prestes a me beijar, pude ouvi-lo murmurar:
- Eu faria qualquer coisa… Só pra ouvir você me dizer isso.
Meus olhos, que miravam perdidamente os lábios dele, se ergueram até encontrar seus olhos, intensamente ternos. Senti algumas lágrimas se formando, mas as contive quando ele me beijou daquele jeito especial, só dele. Mas eu não era mais só dele. E nunca mais seria.
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- Como assim? Começa hoje? Mas já? – indaguei, enquanto ele colocava meus cabelos pra trás da orelha – Mica, dá pra parar de mistério?
- Dá pra parar você de ser tão ansiosa e esperar? Falta pouco, pequena! – ele retrucou, imitando meu jeito afobado e me fazendo rir – E aproveita essa agitação toda pra se arrumar rapidinho depois da escola, porque eu quero você às três horas lá em casa. Ah, e se eu fosse você, levaria uma mochila com algumas roupas.
- Claro que eu vou levar uma malinha, não pretendia passar três dias usando as mesmas roupas – falei, logo depois virando a cabeça pro lado em sinal de dúvida – Mas que tipo de roupas?
- Biquínis são obrigatórios, e algumas roupas bem leves – ele respondeu, olhando pro teto como se estivesse pensando – Mas “leves” não significa “curtas”, muito menos “indecentes”, ouviu bem? Estarei de olhos bem abertos.
Não gostei muito do rumo que a conversa estava tomando, alguns flashbacks de fatos que eu preferia esquecer estavam dando o ar da graça em meus pensamentos. Tentei fingir que estava tudo bem, e logo tratei de reprimir aquelas lembranças. A empolgação pela surpresa tinha finalmente borbulhado dentro de mim, e eu não ia deixar que meros detalhes estragassem tudo novamente.
- Entendi, roupas leves – assenti uma vez, e ao ver Mica erguer autoritariamente as sobrancelhas, quase tornando visíveis em sua testa as palavras “Não está esquecendo nada?”, eu revirei os olhos e completei a revisão – Mas nada curto nem indecente demais.
- Agora sim – ele grunhiu, relaxando os ombros e fazendo uma carinha emburrada que me fez sorrir feito idiota – Você é só minha e de mais ninguém, que isso fique bem claro.
Mica apertou o abraço em minha cintura, e senti um nó se formar em minha garganta, junto com o suor frio de pavor, que já dava suaves sinais de vida. Foi quando eu decidi que estava na hora de desconversar.
- Acho melhor irmos – balbuciei, fazendo a cara mais despreocupada possível e olhando pra porta fechada – O inspetor vai começar a desconfiar.
- É mesmo – ele sussurrou, com uma falsa expressão amedrontada, e me deu um tapinha no bumbum, como se me mandasse ir – Até mais tarde, amor.
Mordi o lábio inferior ao ouvir do que ele tinha me chamado, e o nó na garganta começou a latejar de remorso. Ele raramente me chamava assim, dizia que era “brega, mas de vez em quando, parecia certo”. Porque eu era o amor dele. E doía saber que eu não merecia aquele sentimento tão puro e transparente.
- Ei, espera – cochichei, segurando o rosto dele carinhosamente e olhando fundo em seus radiantes olhinhos pretos – Eu só queria dizer que… Eu te amo. Muito.
Mesmo com todos os recentes (e incríveis) acontecimentos com Arthur, eu não me senti falsa ao dizer que o amava. Porque aquilo não tinha deixado de ser verdade. Meu coração bombeou alívio para todos os cantos de meu corpo com o bom resultado de meu teste. Nada tinha mudado. E se eu tivesse controle sobre a parte devassa de minha mente, o que eu definitivamente não tinha, tudo continuaria igual.
Mas mesmo repetindo pra mim mesma que tudo estava intacto, havia uma voz baixa, porém muito poderosa, que me dizia que eu estava errada, que tudo estava mudado. A voz dele. Estremeci de leve, mas felizmente ele não percebeu. Meus conflitos internos ainda me denunciariam, fato. Respirei fundo e me recompus, deixando pra refletir sobre minha situação afetiva num outro momento.
Mica piscou algumas vezes, assimilando minhas palavras, e abriu um sorriso lindo de orelha a orelha. Ele aproximou lentamente seu rosto do meu, fazendo carinho em minhas bochechas com seus polegares, e quando estava prestes a me beijar, pude ouvi-lo murmurar:
- Eu faria qualquer coisa… Só pra ouvir você me dizer isso.
Meus olhos, que miravam perdidamente os lábios dele, se ergueram até encontrar seus olhos, intensamente ternos. Senti algumas lágrimas se formando, mas as contive quando ele me beijou daquele jeito especial, só dele. Mas eu não era mais só dele. E nunca mais seria.
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