terça-feira, 13 de dezembro de 2011

WEB LuAr - Capítulo 13 / Parte final :

- Tchau, meninas, boa aula! 
Saí do carro de mamãe, mais trêmula que bambu em ventania, e Sophia fez o mesmo do outro lado, cumprindo a parte simpática do relacionamento com mamãe, a qual eu tinha desfalcado desde o dia anterior. Sophia tinha dormido em casa, me dando todo o apoio que eu precisava pra não sair correndo quando a manhã seguinte chegasse, mas tudo pareceu ter sido em vão quando me dei conta de que estávamos paradas em frente ao colégio. Quer dizer, eu estava, porque ela me arrastava escola adentro, como se carregasse uma estátua de mármore. 
- Quer fazer o favor de entrar? – ela resmungou, me puxando pelo braço com uma careta mal educada – Lembra do que eu te falei? Você não tem motivos pra ter medo! 
Nem liguei pra frase totalmente clichê e equivocada de Sophia, que parecia estar enxergando aquilo tudo como uma coisinha boba e não como mais um problema na vida cada vez mais complicada de sua melhor amiga. Respirei fundo e comecei a andar, contra meus próprios instintos, na direção do pátio da escola, rezando pra que nenhum dos dois aparecesse. Hoje eu não tinha aula com nenhum deles, então talvez pudesse fugir antes do intervalo, alegando fortes dores de cabeça. O que não seria totalmente mentira. 
- Vamos subir de uma vez, eu não quero ficar aqui – sussurrei, segurando Sophia pelo braço e puxando-a na direção das escadas. Mas ela cutucou minha mão, com o olhar fixo em algum ponto à nossa frente, e meu estômago revirou quando meu olhar seguiu o dela. 
- Bom dia, Abrahão – ouvi a voz de Mica sorrir, alegre como sempre, e logo seus olhos pretos brilhantes se voltaram pra mim, provocando uma fisgada em meu peito – Bom dia, flor do dia. 
Tudo que fui capaz de fazer foi sorrir de leve, suando frio agarrada ao braço de Sophia. Ele retirou um bilhete do bolso, sorridente, e me entregou, dando uma piscadinha antes de se afastar novamente. Não pude deixar de acompanhá-lo com o olhar, e me arrependi amargamente disso. Assim que ele chegou à porta da sala dos professores, uma coisa vinho saiu de dentro dela, toda sorridente, e começou a caminhar na direção das escadas, após cumprimentar Mica. Apertei o braço de Sophia com mais força, mas ela não reclamou. 
Arthur passou por nós, ainda mais sedutor do que nunca com sua nova e linda peça de vestuário, e me lançou um breve olhar. Por mais rápido que tenha sido, aquele olhar estava cheio de significados, dos quais eu estava plena e dolorosamente ciente. Fato: ele era meu inferno particular na Terra. 
- Deixa o Aguiar pra lá e abre logo esse bilhete! – Sophia sussurrou, e só então eu me lembrei do pequeno papel que Mica havia me entregado. Desdobrei-o tremulamente, e minha respiração parou quando li o que estava escrito. 
Tenho uma surpresa pra você nesse fim de semana. Pode ir se preparando, vou te seqüestrar de sexta a domingo! Te amo. xx 

Uma dor que eu nunca tinha sentido antes infestou cada célula do meu corpo, mas eu nem tentei fazê-la passar. Eu sabia que eu merecia aquilo. E a culpada por aquela dor não era ninguém mais do que eu. Não havia mais ninguém para culpar… Só eu. 
Ergui um pouco meu rosto, sentindo minha visão embaçar, mas Sophia logo percebeu que eu estava prestes a desmoronar e começou a cochichar: 
- Roberta, você prometeu pra mim que não ia fazer isso! 
Eu balançava a cabeça negativamente, contendo as lágrimas com esforço. O que eu era exatamente? Um monstro? Uma destruidora de sentimentos, uma idiota completa? Eu não conseguiria fingir que estava tudo bem com Mica, nem olhá-lo nos olhos eu conseguia! 
- Sophia… – eu murmurei, olhando pra ela – Eu… Ele… Não… Eu não consigo… 
Ela revirou os olhos, me arrastando na direção da escadaria, com uma expressão que beirava o tédio. 
- Escuta aqui – ela rosnou baixinho, me puxando pelos degraus – Você não gosta do Borges, é isso? É pelo Aguiar que você tá apaixonada? É com ele que você quer ficar, é por ele que você quer foder com a sua vida? 
Neguei com a cabeça, me encolhendo com desespero. Cada pergunta dela era como uma facada no peito de tão absurda. 
- Então pára de ser ridícula e engole esse choro! – ela ordenou, autoritária – Se importe com quem realmente interessa, e joga o resto fora! Se as pessoas não se forçassem a esquecer certas coisas, o mundo seria cheio de gente depressiva. 
Respirei fundo, conseguindo retomar meu controle emocional. Ela estava certa, já que o erro estava feito, eu só precisava esquecer aquilo e seguir em frente, me esforçando mais do que nunca pra fazer Mica feliz. Agora que a possibilidade de perdê-lo havia se tornado menos remota, valia tudo pra mantê-lo comigo. 

- Obrigada – sussurrei, subindo os últimos degraus, cabisbaixa, e ela sorriu, afastando-se de mim pra entrar em sua classe enquanto eu entrava na minha. Por algum motivo, eu não consegui soltar o bilhete de Mica pelo resto das aulas, relendo-o discretamente de vez em quando ou segurando-o com toda a minha força dentro de meu punho como se aquilo valesse a minha vida. Ou pelo menos a parte feliz dela. 
<!--[if !supportLineBreakNewLine]-->
<!--[endif]-->


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário