terça-feira, 13 de dezembro de 2011

WEB LuAr - Capítulo 13 / Parte 3 :

Sophia não se mexeu. Não consegui devolver seu olhar, e por algum tempo ficamos imóveis e caladas, cada uma ocupada demais com seus próprios pensamentos. 
- Eu… Eu não sei o que dizer – ela sussurrou, parecendo finalmente vencer sua luta com as palavras, e apesar de não vê-la, percebi que ela soltou um risinho surpreso – Talvez eu devesse começar com um “Eu sabia”. 
Franzi minha testa e ergui o rosto pra olhá-la, sem entender. Ela me encarou de volta, com os olhos admirados, e sorrindo de um jeito deslumbrado. Arregalei meus olhos pra ela, totalmente confusa, e nem precisei dizer nada pra que ela continuasse: 
- Desde o começo, desde que você e o professor Borges começaram essa história toda, e que o Aguiar resolveu se meter nesse rolo… Eu sempre soube que isso ia acabar acontecendo. Fala sério, Roberta, você sempre fica a fim do cara errado. 
Juro que tentei abrir a boca pra falar algo, mas minha voz não saiu. Minha indignação era maior que qualquer coisa. Como assim, eu sempre ficava a fim do cara errado? Eu não estava a fim do Aguiar! Aquilo foi só um deslize, um impulso indesejado! 
- Mas e aí, como foi? – ela sorriu, de repente adotando uma expressão curiosa – Não precisa entrar em detalhes, dizer se foi bom ou não já é o suficiente. 
- Sophia! – exclamei, finalmente recuperando minha voz, e fazendo-a pular de susto com uma expressão retraída – Eu te digo que traí o Mica e tudo que você faz é me perguntar se foi bom? 
Ela ficou em silêncio por alguns segundos, assustada, até que voltou a falar, timidamente e num tom baixo: 
- Não foi exatamente isso que eu perguntei, mas dá na mesma. 
- Sophia! – falei de novo, passando por ela e caminhando de volta para o quarto, embrenhando meus dedos desesperadamente em meus cabelos – Você entendeu o que eu disse ou vou ter que repetir outra vez? 
Eu traí o Mica com o Aguiar! 
- Tá, e daí? – ela retrucou, parecendo meio impaciente e sentando-se pesadamente em minha cama – Eu já entendi isso, você é que não pareceu entender minha pergunta! Me diz, o que eu posso fazer agora que você já fez a besteira? Vai adiantar eu ficar falando mil baboseiras inúteis, chorar pelo leite derramado com você? 
- Eu sei que não tem mais volta, foi um erro, mas você podia pelo menos fingir ser uma pessoa normal e me dar a maior bronca ou algo do tipo, e não me perguntar como foi! – eu disse, encarando-a energicamente. 
- Achei que você já me conhecesse há tempo suficiente pra saber que eu não me surpreendo assim tão fácil – Sophia murmurou, erguendo as sobrancelhas de um jeito desafiador – Em momento nenhum eu fui ou pretendo ser falsa com você, e é isso o que eu estaria sendo agora se estivesse te dando uma bronca. Atração física acontece aos montes, Roberta, é mais normal do que se pensa. A única diferença disso pra um relacionamento normal é que ninguém costuma sair contando pra todo mundo, mantêm as coisas em segredo. 
Fitei os olhos compreensivos de Sophia por alguns segundos, totalmente desarmada. Me deixei cair sentada no chão, ainda encarando-a sem entender, e ela subitamente riu de minha atitude. Por que eu tinha que ter uma amiga tão mente aberta e liberal? 
- Não precisa se martirizar tanto só porque não resistiu às tentações da carne, Roberta – ela sorriu, sentando-se no chão à minha frente – Se não teve sentimento, não foi exatamente uma traição… Então, pra que se preocupar? 
Abaixei meu olhar pro chão, refletindo sobre o que eu já sabia, mas que ela tinha feito o favor de repetir. Tudo tinha sido tão rápido, tão inesperado, tão mecânico… Não havia um pingo de sentimento ali, era puro tesão. Meu amor por Mica continuava intocado, apesar do fato de que todas as transas com ele não equivaliam à única com Arthur no quesito físico. Mas eu não devia nem queria comparar os dois. Pra mim, só existia um homem, e ele se chamava Micael Borges. 
Suspirei, psicologicamente exausta pra continuar travando aquela luta interna, e voltei a encarar Sophia, ainda sorrindo docemente. 
- Foi tudo tão… Confuso – foi tudo o que consegui sussurrar, pela primeira vez conseguindo demonstrar alguma emoção sobre o assunto, e seu sorriso se alargou. Ela dobrou as pernas contra seu tronco e abraçou os joelhos, carregando sua expressão de curiosidade novamente. 
- Agora que você já está mais calminha… Pode me dizer como foi? – ela murmurou, parecendo prevenida quanto aos meus súbitos acessos de desespero, e eu não pude deixar de sorrir fraco. Um calor súbito passou por mim, e meu olhar se perdeu em meio aos meus pensamentos, que dessa vez eu simplesmente deixei fluir, tornando meu sorriso mais largo. 
- Foi o melhor erro que eu já cometi. 
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