domingo, 11 de dezembro de 2011

WEB LuAr - Capítulo 11 / Parte 3 :

Bastou um segundo do olhar dele no meu pra que eu me lembrasse a razão de estar ali, e assim que ele voltou a olhar pra bancada, resolvi ser realmente enérgica e mudar aquela situação. Minha mente ainda estava um pouco embaralhada, mas eu logo tratei de organizá-la. 
- Por quanto tempo você pretende continuar me evitando? – foi tudo que consegui dizer, finalmente entrando no laboratório e parando ao lado dele. Arthur não me olhou, continuou a organizar os relatórios dentro de sua pasta, fingindo interesse neles. Mas eu podia ver que seu olhar era vago, talvez incomodado com a minha observação. Continuei insistindo, apesar da coragem um pouco mais vacilante agora, assim como a firmeza de minhas pernas. 
- Mesmo que você finja não me notar, eu vou dizer o que tenho pra dizer – comecei, indo direto ao ponto e ficando ainda mais irritada pela permanente falta de expressão no rosto dele – Você pode não querer me ouvir, mas pelo menos eu vou estar com a consciência limpa por ter cumprido meu dever. 
Bela escolha de palavras, Roberta. Realmente, não podia ser melhor. Em matéria de maturidade, eu parecia uma criancinha banguela de cinco anos mal acostumada a ouvir nãos, do tipo que faz escândalo nas lojas de brinquedo. Arthur não fez nada, apenas continuou olhando na direção de sua pasta enquanto seus lábios se contraíam cada vez mais, demonstrando o nível crescente de sua raiva. Eu o observava atentamente, ansiosa por um sinal de derrota dele, mas como Arthur não facilitou as coisas e se manteve quieto, eu prossegui. 
- Eu sei que duvidei de você e te acusei de coisas horríveis – recomecei, tentando fazer com minha voz parecesse calma, e ele suspirou profundamente – E também imagino que seu acidente tenha sido, em parte, minha culpa. Você não sabe o quanto eu me arrependo por tudo isso, e sei que não mereço o que estou pedindo, mas… Por favor, me desculpe. 
Por alguns segundos, ele continuou me ignorando, e ficando cada vez mais nervosa, não desisti. Eu não pretendia sair daquele laboratório sem pelo menos ouvir uma palavra ou receber um olhar dele. 
- Parabéns, já pediu suas desculpas ridículas – Arthur suspirou, longos segundos depois, ríspido – Pode ir embora agora. 
Fechei os olhos por um instante, sentindo a breve dor de um fora, e voltei a encará-lo, tentando esconder o alívio por ter conseguido arrancar nem que fossem palavras duras dele. Talvez não fosse dos melhores, mas definitivamente aquilo já era um começo. 
- Eu entendo perfeitamente a sua grosseria e sei que até mereço ser tratada assim, mas também quero que entenda que me arrependi e estou aqui me desculpando – falei, com a voz ainda mais serena – Eu sei que não fui justa com você, sei que peguei pesado. 
- Você já pegou pesado comigo antes – ele disse com a voz fria feito gelo, apoiando um de seus braços sobre o balcão e propositalmente deixando à mostra a cicatriz que minha caneta havia deixado há algum tempo atrás – Não pareceu tão arrependida na época. 
Senti uma pontada de culpa pela lembrança que ele havia trazido à tona, e de alegria ao mesmo tempo por estar conseguindo fazê-lo falar. Suspirei de leve, concluindo mais firmemente a cada resposta que eu merecia ser visualmente ignorada por ele. Ainda era inegável que ele tinha pedido por aquele golpe, mas a cicatriz agora me causava um pouquinho de remorso. 
- Você também não parecia se preocupar comigo naquela época – eu retruquei, pensando alto, e notei que seus olhos se tornaram reflexivos e se ergueram um pouco dos relatórios – Pelo menos não como agora. 
- Porque você não se metia em encrencas – ele rebateu, se recompondo e voltando a fingir interesse em sua pasta – Definitivamente não como agora. 
- 
Você costumava ser a minha única encrenca – comentei, com um sorriso discreto e encarando-o vagamente – Nunca pensei que você seria a pessoa que me tiraria delas. 
- O que você quer de mim afinal? – Arthur explodiu de repente, socando a superfície da bancada e finalmente me olhando com a expressão conflituosa – Primeiro você diz que me odeia mortalmente, depois vem me pedir desculpas toda arrependida e nostálgica… Vê se me esquece, suas crises bipolares não me interessam! 
Franzi a testa, incrédula com as acusações dele, enquanto o via voltar sua atenção pros relatórios. Meu cérebro funcionava disparado, ecoando incessantemente as palavras rudes dele. Quer saber? Já chega de ser boazinha, não estava adiantando porcaria nenhuma bancar a psicóloga com um homem ignorante como Arthur. 
- Eu é que te pergunto, o que você quer de mim? – exclamei, tão furiosa quanto ele, ou até mais – Vivia me humilhando, se fazendo de gostosão na frente dos outros, mas na verdade você lambia o chão que eu pisava! Tudo que você sempre quis foi que eu te desse bola, coisa que você nunca conseguiu! 
- Se enxerga, garota, o mundo não gira em torno da porra do seu umbigo! – ele retrucou, com a voz alta – Você só liga pra si mesma, pros 
seus sentimentos, pras suas vontades, pros seus interesses! Você se faz de santa, mas no fundo você não passa de uma menininha fútil, metida e egoísta que só sabe reclamar e criticar os outros! 
- Eu não admito que você fale desse jeito comigo! – quase berrei, sentindo lágrimas involuntárias e inconvenientes se formarem em meus olhos ao ouvi-lo dizer tudo aquilo de mim com a voz carregada de sinceridade e agressividade. Ergui minha mão na direção de seu rosto pra lhe dar um tapa, mas na metade do caminho ele agarrou meu pulso e me impediu de concluir a ação. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário