A aula de biologia se passou sem maiores novidades. O professor perfeito explicando a matéria que eu já sabia de cor enquanto a Maria ficava com cara de tacho, ainda engolindo zilhões de bactérias. As coisas fluem tão bem durante a aula do sr. Borges que ele sempre faz tudo que precisa fazer e ainda sobram uns 10 minutos pro pessoal conversar ou tirar alguma dúvida mais complicada. Se eu te dissesse que nunca tinha nenhuma dúvida e detestava praticamente todas as pessoas da minha classe, você provavelmente pensaria que eu não me encaixo em nenhuma das duas opções. Mas se eu te dissesse que parte do corpo docente da escola simpatiza comigo, você talvez entendesse como são os finais das minhas aulas de biologia.
- Outra vez geografia? – ouvi aquela voz de homem mais velho perguntar atrás de mim, num tom simpático, e tirei meus olhos do caderno onde eu terminava de copiar a matéria do Jonas. Me deparei com aqueles dois olhos pretos brilhantes me encarando, acompanhados daquele sorriso de quem ainda não se tocou de que é lindo de qualquer jeito, e precisei de muito autocontrole pra apenas sorrir normalmente.
- Pois é, tá virando rotina – respondi, voltando a escrever pra evitar que minha baba escorresse – Por mais que eu tente, não consigo ler esse garrancho.
- Não posso falar muito, minha letra também não é das mais legíveis – ele riu, sentando-se na carteira agora desocupada à minha frente e ficando de lado pra conversar comigo – Mas eu pelo menos tento poupar vocês de entender o que eu escrevo.
- O senhor nunca escreve nada na lousa – falei, rindo um pouco e olhando pra ele. Sério, me diz como você consegue ficar rosadinho desse jeito 24h por dia?
- Por isso mesmo – o sr. Borges sorriu, me dando uma piscadinha que fez meu coração ter um ataque epilético – E eu sei que mesmo que eu escrevesse alguma coisa, você seria a última pessoa a copiar.
- Por que o senhor acha isso? – perguntei, quase ofendida, e ele apenas respondeu calmamente:
- Porque você praticamente sabe tanto sobre biologia quanto eu, e copiar o que eu escrevo seria desperdício de papel, de tinta e do seu tempo.
Fiquei com aquele sorrisinho de picolé de chuchu, super sem graça, e tudo que consegui dizer algum tempo depois foi:
- Vamos pensar positivo… Pelo menos eu estaria evitando o desmatamento de algumas árvores ao economizar papel.
O sr. Borges, que antes estava com o olhar perdido na dorminhoca da Carla, fechou os olhos e deu risada da minha péssima frase. Como se ele já não tivesse besteiras piores pra agüentar, eu ainda falava uma merda daquelas.
- Se eu não soubesse que você consegue formular frases melhores, ia te dar um ponto de participação pela sua brilhante conclusão – ele ironizou, sorrindo de um jeito divertido antes de se levantar e ir acordar a Carla pra que ela não começasse a roncar mais alto. Preciso descrever o estado de profunda melancolia no qual eu me encontrava depois daquele momento? É, eu sabia que não precisaria.
Ainda frustrada comigo mesma, arrumei meu material rapidamente pra ir pra última aula, que era no laboratório. Na minha escola, tínhamos duas frentes pra física, química e biologia: as aulas teóricas, na classe, e as aulas práticas, nos laboratórios. Como nas aulas práticas os alunos aplicam seu conhecimento teórico em experimentos, você provavelmente deve ter deduzido que eu sou igualmente inteligente em biologia laboratório. E eu sou mesmo. Mas eu gostaria muito que um dia alguém me explicasse por que eu sempre, sempre ficava de recuperação nessa matéria.
<!--[if !supportLineBreakNewLine]-->A explicação que eu via como a única possível era a de que o professor de laboratório não ia com a minha cara. Infelizmente, o sr. Borges não dava aulas práticas pra minha turma, só as teóricas. Nosso professor de laboratório era o ser mais detestável, ignorante, repugnante, metido e tudo de patético que um homem pode ser. Mantinha sempre aquele ar superior em relação aos alunos, a não ser pra piranha da Smithers, porque ele provavelmente já tinha comido ela. E três quartos das garotas da escola. Dormir com professores era quase uma rotina na minha escola. <!--[endif]-->
- Outra vez geografia? – ouvi aquela voz de homem mais velho perguntar atrás de mim, num tom simpático, e tirei meus olhos do caderno onde eu terminava de copiar a matéria do Jonas. Me deparei com aqueles dois olhos pretos brilhantes me encarando, acompanhados daquele sorriso de quem ainda não se tocou de que é lindo de qualquer jeito, e precisei de muito autocontrole pra apenas sorrir normalmente.
- Pois é, tá virando rotina – respondi, voltando a escrever pra evitar que minha baba escorresse – Por mais que eu tente, não consigo ler esse garrancho.
- Não posso falar muito, minha letra também não é das mais legíveis – ele riu, sentando-se na carteira agora desocupada à minha frente e ficando de lado pra conversar comigo – Mas eu pelo menos tento poupar vocês de entender o que eu escrevo.
- O senhor nunca escreve nada na lousa – falei, rindo um pouco e olhando pra ele. Sério, me diz como você consegue ficar rosadinho desse jeito 24h por dia?
- Por isso mesmo – o sr. Borges sorriu, me dando uma piscadinha que fez meu coração ter um ataque epilético – E eu sei que mesmo que eu escrevesse alguma coisa, você seria a última pessoa a copiar.
- Por que o senhor acha isso? – perguntei, quase ofendida, e ele apenas respondeu calmamente:
- Porque você praticamente sabe tanto sobre biologia quanto eu, e copiar o que eu escrevo seria desperdício de papel, de tinta e do seu tempo.
Fiquei com aquele sorrisinho de picolé de chuchu, super sem graça, e tudo que consegui dizer algum tempo depois foi:
- Vamos pensar positivo… Pelo menos eu estaria evitando o desmatamento de algumas árvores ao economizar papel.
O sr. Borges, que antes estava com o olhar perdido na dorminhoca da Carla, fechou os olhos e deu risada da minha péssima frase. Como se ele já não tivesse besteiras piores pra agüentar, eu ainda falava uma merda daquelas.
- Se eu não soubesse que você consegue formular frases melhores, ia te dar um ponto de participação pela sua brilhante conclusão – ele ironizou, sorrindo de um jeito divertido antes de se levantar e ir acordar a Carla pra que ela não começasse a roncar mais alto. Preciso descrever o estado de profunda melancolia no qual eu me encontrava depois daquele momento? É, eu sabia que não precisaria.
Ainda frustrada comigo mesma, arrumei meu material rapidamente pra ir pra última aula, que era no laboratório. Na minha escola, tínhamos duas frentes pra física, química e biologia: as aulas teóricas, na classe, e as aulas práticas, nos laboratórios. Como nas aulas práticas os alunos aplicam seu conhecimento teórico em experimentos, você provavelmente deve ter deduzido que eu sou igualmente inteligente em biologia laboratório. E eu sou mesmo. Mas eu gostaria muito que um dia alguém me explicasse por que eu sempre, sempre ficava de recuperação nessa matéria.
<!--[if !supportLineBreakNewLine]-->A explicação que eu via como a única possível era a de que o professor de laboratório não ia com a minha cara. Infelizmente, o sr. Borges não dava aulas práticas pra minha turma, só as teóricas. Nosso professor de laboratório era o ser mais detestável, ignorante, repugnante, metido e tudo de patético que um homem pode ser. Mantinha sempre aquele ar superior em relação aos alunos, a não ser pra piranha da Smithers, porque ele provavelmente já tinha comido ela. E três quartos das garotas da escola. Dormir com professores era quase uma rotina na minha escola. <!--[endif]-->
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir